No final do século 16, uma província medieval da Itália chamada Triora, passava por algo parecido com a Inquisição na França, a caça às bruxas. Uma grande seca atingia a cidade, e os cidadãos acusaram algumas mulheres que moravam por ali de feitiçaria e bruxaria, este fato, aliado ao desaparecimento de civis jovens do sexo feminino, fortaleceu ainda mais a tese fundada pelos religiosos da região. Sendo assim, muitas mulheres foram presas, subjugadas e condenadas à morte. Dentre as autoridades eclesiásticas na cidade, haviam seres que passavam despercebidos pela ótica humana, que se aproveitaram de toda a situação da "caça às bruxas". Estes eram criaturas noturnas, vestidas sob pele humana: Vampiros, seres amaldiçoados que se alimentavam com o sangue das virgens desaparecidas na cidade. Quando ouviram falar da confusão sobre bruxas presentes na cidade, rapidamente a cidade encheu-se deles. Embora o termo usado era caccia alle streghe (caça às bruxas em italiano), os oficiais tinham que ser mais do que ignorantes para pegar um bruxa de verdade, de forma que a maioria das garotas que foram presas e mortas eram apenas humanas, nada envolvidas com bruxaria. Mas para infelicidade das bruxas reais, os sanguessugas as identificavam nitidamente pelo cheiro agridoce de seu sangue mágico. O que fez com que algumas delas fossem escravizadas por eles e forçadas a os servirem, além disso, usavam correntes no pescoço que as impedia de usar magia.
O líder vampiro da cidade de Triora, Asmodeus, disfarçado de cardeal, procurava a séculos o sangue de uma bruxa da linhagem de Hécate, a famosa deusa da magia, mas como seu nome, não passava de uma mitologia para os eruditos, mas para Asmodeus e os vampiros anciões, o sangue representava a chave para localizar e libertar o seu mestre IGRUM MASTEMA, que fora aprisionado por uma feiticeira desta linhagem. O fato é que ele encontrou. E esta tinha sido capturada. Uma bruxa chamada Ainalius, que era mantida serva de um vassalo do rei, chamado Lorde Rickert, que também era vampiro. Quando Asmodeus soube, foi imediatamente ao seu encontro. Bruxas também detectavam vampiros pelo toque, ao sentir a morte em suas almas e elas sabiam do submundo das criaturas sombrias em Triora, porém nenhuma se atrevia a desafia-los.
Quando a notícia de que o cardeal viriam as terras de Rickert se espalhou, as irmãs de Ainalius, que também eram bruxas, eficazmente lançaram um feitiço que confundiu os guardas do vassalo, fazendo com que a moça fugisse do castelo e se encontrasse com suas irmãs em uma casa abandonada:
- Finalmente eu saí de lá, não sei o que faria se não fosse vocês - dizia ela em voz trêmula e ofegante.
- Temos que fugir daqui, mamãe me avisou que esse velho que sequestra bruxas, não está à toa aqui em Triora. Ele busca as descendentes de Hécatos - falou Edieldis, a irmã mais nova, para Ainalius.
-Então as profecias são verdadeiras - refletiu Ainalidic, a mais velha.
- Temos que sair daqui agora, os cavalos se aproximam - bradou Anavius, a primeira do meio, ao sentir o tremor dos trotes no chão barrento da casa.
Ao chegar, Asmodeus indignou-se com Rickert por não ter mantido a bruxa em secreto, como havia ordenado, e o esquartejou perante os seus servos. E ao mesmo tempo ordenou ao seu exército que encontrasse qualquer mulher entre as matas das florestas e que ninguém saísse de Triora sem sua permissão. Mas já era tarde demais, as irmãs já tinham partido. Ao perceber seu fracasso, Asmodeus encheu-se de ira e prometeu com a força do seu ódio que as caçaria até o fim da sua eternidade.
Quando as irmãs chegaram a um lugar mais longe possível de Triora, em uma praia deserta. Conjecturaram a possibilidade de escapar para sempre de Asmodeus:
- E agora? Para onde vamos? O que faremos? Devíamos ter fugido antes, quando mamãe profetizou. Esse vampiro não vai parar até encontrar uma descendente direta de Hécatos - angustiou- se Ainalidic para as irmãs.
- Se a estúpida da Aina (apelido de Ainalius), não tivesse dormindo com aquele bruto do Astrote, estaríamos ainda seguras em Triora - retrucou Anavius amargamente.
- Nunca estaríamos seguras ali, sua tola. Uma hora seríamos descobertas. Se a profecia for verdadeira, mesmo eu acreditando que não, estamos marcadas para sempre, assim como nossos filhos. Mas eu sei o que fazer - afirmou Aina, segura que seu pensamento garantiria sua vida e a de suas irmãs - Precisamos nos ligar com magia conectiva em um feitiço de sono secular. Eu vi o feitiço no grimório negro de AbraMelin. Ophelia guardava esse livro, temos que pegá-lo.
- O que? Você está louca? Eu não vou dormir cem anos - indignou-se Anavius.
- Com o feitiço, viveremos uma pseudoirmortalidade e nossas vidas estariam ligadas. Pode dar certo, mas teríamos que nos separar - falou Edieldis, pensativa.
- Eu trouxe os livros da família. Temos que fazer - relatou Ainalidic.
- Perfeito! – aprovou Edieldis.
- Se não fizermos, Asmodeus vai nos encontrar. Não vejo outra alternativa - disse Aina, angustiada - mais uma coisa.... Uma de nós terá um filho homem. Quando ele nascer, deverá ser levado imediatamente para Ophelia, escondido e mantido em segredo, sua identidade jamais deverá ser revelada, caso contrário Asmodeus vai nos encontrar, e fazendo este feitiço não estaremos mais tão fortes contra ele. É isto. Vamos!
Todas concordaram, mesmo com a resistência de Anavius. Elas então realizaram o feitiço com fundamento em seu sangue. Porém, o feitiço enfraquecia a magia delas e portava uma condição de que a tentativa de fazer qualquer grande feitiço desfaria a aliança e quebraria a magia de ligação, tornando-as mortais novamente. Assim foi feito. E elas se separaram.
Ainalius foi para uma cidadezinha no leste da Inglaterra, chamada Aridas Solem, local onde sua mãe Ophelia vivia, habitando imoralmente o corpo de uma bruxa (Ophelia era uma bruxa milenar e a Madre Suprema de sua casa, ou seja, a mais poderosa). Lá Ophelia, ironicamente, guardava seu corpo em um caixão, e a cada século elas acordavam. O feitiço sustentou-se, até Anavius quebrar a magia de ligação ao tentar ressuscitar um homem que era seu amor perdido, em Triora, que tinha se tornado um vampiro e a procurou por anos. Ele morreu com estaca de madeira no seu coração por motivos desconhecidos. Ao encontrar seu corpo "morto", ela desesperadamente tentou ressucita-lo com magia, mas de nada adiantou. Tal fato, a levaram a um desequilíbrio mental e um estado moribundo por muito tempo. No momento em que a magia foi quebrada, Aina tinha acordado assim como as outras ao mesmo tempo. Ophelia havia lhe informado que Anavius tinha sido o motivo, fazendo com a fúria tomasse Aina, mas que quando viu o estado de sua irmã, logo desvaneceu seu temperamento e a ajudou, aceitando a realidade de estar à mercê de Asmodeus novamente. No entanto, este fato tinha unido as irmãs e elas desenvolveram-se próximas da região de Aridas Solem, até que Anavius melhorou e foi embora, sem palavras de agradecimento, mas somente um coração amargurado.
Em fase de recomeço, as outras irmãs seguiram em frente e mudaram suas identidades para esconder seu nome. O feitiço retardava a velhice, tendo sido quebrado, elas voltaram a envelhecer normalmente. Ainalius usou o nome do meio, Mariane (Marriene), se graduou nas áreas médicas, assim como suas irmãs: Ainalidic (que agora era Lidyanna) e Edieldis (Lilana). Fizeram o mesmo com seu sobrenome - Hécatos, para Foncaster. Apesar da distância, sempre mantinham contato, menos Anavius, a primeira do meio, pois seu gênio forte e contendeiro a afastou de suas irmãs e de sua mãe.
Em Aridas Solem, haviam uma história de que os habitantes eram guerreiros fortes que usavam a força da lua contra seus inimigos. Foi então ali que elas se estabeleceram. Garantindo a elas a proteção contra os vampiros, isso no ano de 1900.
Em 2007, Lidyanna tinha ido embora para Bolsover, capital de Aridas, onde se casou com Charles Kristov, eles tiveram um filho chamado Thomas “tommy”, e ainda esperava trigêmeas no seu ventre. Lilana se mudou para Espanha em Valladollid, para atuar como médica nos hospitais. Mariane também havia se casado, com um jovem de nome conhecido na cidade, Otreblav Crassa. Ele a tinha seduzido com sua beleza e lábia, e com isso também tiveram um filho chamado Henrik. Apesar da personalidade libertina e vadia de Otreblav, sua família fazia parte do corpo de guerreiros da noite, conhecidos como Lobisomens, fazendo com que Mariane buscasse então proteção entre eles, mas com o tempo, a indiferença da família para com ela e a vida prostituta e boêmia de Otreblav a afastaram deles. Criando então Henrik, sozinha com sua mãe.Com o tempo não se ouviu mais falar em vampiros, bruxas ou profecias. E o misticismo sobre eles tinham se tornado lenda e datas de comemoração para o povo. Entretanto, o que não se sabia era que o mal ainda espreitava à porta de suas casas.
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O Sangue da Strega
Fantasy4 jovens precisam escapar dos dentes do cúpula dos vampiros na Itália, e suas decisões irão reverberar por muitos anos.