05. Jianghua

7 3 0
                                    

Naquele dia, Shi Wuduan realizou o 'Jiu Xing Ceng Di', atraindo a fúria dos deuses do trovão nos nove níveis dos céus. O vale de Cangyun adquiriu uma brecha enorme que se estendia desde o meio do vale até onde os espíritos construíam seu esconderijo. Enquanto o principal culpado pôde simplesmente se safar dessa e sair andando, os espíritos menores em todo o vale de Cangyun ficaram morrendo de medo, vivendo todos os dias em ansiedade.

Ninguém notou que, na brecha que foi aberta pelo trovão, todos os dias, das onze da noite à uma da manhã, saía uma leve fumaça escura dela.

Shi Wuduan, tendo acabado de descer da montanha, considerava tudo novo e intrigante. Ele estava parado no meio de um mercado, há muito tempo tendo se esquecido das palavras 'Jianghua', 'Hehua' e 'Sangren', e sentia que nunca tinha sido capaz de ver tantas pessoas juntas; homens, mulheres, jovens e velhos - de todas as formas e tamanhos. Até mesmo as pedras em que pisaram durante a sua caminhada, tudo parecia tão mágico.

Quando ele era criança, seu shifu sempre falava sobre "o grande mundo" e "o povo comum". Ele costumava entender apenas o som dessas frases, mas não o significado. Agora ele era capaz de entendê-los.

Carregando sua trouxa de roupas em um ombro, Shi Wuduan deixou o pardal de jade descansar no outro, enquanto os seus olhos redondos piscavam em todas as direções como se tudo que ele via ainda não fosse suficiente. Suas bochechas estavam infladas, com um pão ainda fumegante entre os dentes. Mesmo o pãozinho tendo sido comprado em uma lojinha perto da rua lateral, ainda era uma prova da calidez do mundo. O cheiro era mil vezes melhor do que o mingau branco e sem graça na casa do velho.

Shi Wuduan terminou o pão com apenas duas ou três mordidas, mas ainda sentia que não era o suficiente. Ele deu um tapinha no estômago, pensando silenciosamente: como seria bom se xiao Li Zi me seguisse.

Sua atenção foi imediatamente atraída para outra coisa. Ele sentia que encontrar Jianghua Sanren não era um assunto tão urgente, então ele deixou pra lá e se deliciou ao máximo.

Mal sabia Shi Wuduan que o Jianghua Sanren que ele queria encontrar estava atualmente na montanha Jiulu.

Ninguém sabia quando ou como ele subiu a montanha. Era como se ele realmente tivesse vindo com o vento soprando sob o luar brilhante, que nem mesmo camadas sobre camadas sob a montanha Jiulu conseguiram detectar.

O mestre taoísta estava sentado de pernas cruzadas ao lado do gigantesco astrolábio no pátio. Ele não estava calculando nada, sua mão apenas pairava sobre o astrolábio, deixando os fios estelares pendurados em seus dedos de brincadeira. Ao lado dele havia um pequeno fogão, e sobre ele, uma jarra de vinho fervendo.

Quando Jianghua Sanren apareceu atrás dele, o mestre taoísta não levantou a cabeça, apenas apontou para um lugar ao lado dele e disse: "Você veio. Sente-se."

Jianghua não ligava para formalidades. Ele apenas afastou as bainhas de suas roupas antes de se sentar no chão ao lado dele. Ele pegou um copo, tirou a jarra de vinho do fogão para se servir, tomou metade do copo cheio em um só gole e perguntou: "Onde está o seu macaquinho? Você o mandou fazer alguma coisa?"

O mestre taoísta baixou os olhos, girando os fios estelares nos dedos. Apesar de já ter cultivado por um século, ele ainda não parecia ter passado da meia-idade. No entanto, nestes poucos dias, seus traços tinham ficado consideravelmente mais desgastados. Se você olhasse bem para o perfil lateral dele, na ponta das sobrancelhas, perto da linha do cabelo, já haviam alguns fios grisalhos.

O mestre taoísta disse: "Vou confiar a criança, Wuduan, à você por alguns anos."

Jianghua Sanren pareceu querer dizer algo, mas no final apenas suspirou, tomando a outra metade de seu copo de vinho. Os dois ficaram em silêncio por um tempo antes que ele perguntasse:

Jin Se ‧ Priest [PT/BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora