—|MAR AO NORTE DA
ILHA DE HYRBEN|—•••
—|Ela encarava uma tesoura de platina encima da penteadeira de madeira branca. O espelho refletia uma imagem de alguém que um dia fora importante, poderosa e livre. Agora, mostrava como a morte poderia se aproximar sem deixar pistas, exceto por aquelas que apenas os mais observadores conseguiam enxergar.
Aquela tesoura era a única coisa de platina naquele barco; a única coisa que poderia matá-la. E estava bem na sua frente.
Em um estupor de impulsividade, Nora Balena a agarrou com agressividade, levando a ponta afiada em direção a sua garganta. Hesitou, poucos centímetros antes de cometer o ato em si.
Sem esboçar qualquer indício de arrependimento ou emoção, Nora guardou a tesoura na gaveta da penteadeira. Talvez não fosse sábio deixar a única arma que poderia matá-la em um local tão exposto. As Servas do Mar poderiam encontrá-las e entregar a ele; entregar a rebeldia de Nola à ele. Ela seria punida, duramente. Mas talvez fosse exatamente isso que ela quisesse; que ele a espancasse, limitasse ainda mais sua liberdade, assim, talvez, parasse com os atentados a própria vida.
Mas... será que realmente devo parar? Há uma parte de mim que ainda quer viver? Sentir tudo isso, de novo e de novo...?
A mulher não sabia responder seus questionamentos, e achava que nunca saberia. Então, optou pela inércia. Se ele descobrisse, então descobriu. Deixou o quarto usando apenas seu vestido branco ornamentado com acessórios dourados; lembravam à ouro. Decorou-se com um pouco de maquiagem para dar vida à suas bochechas pálidas, alguns anéis e cordões.
Era assim que ele gostava de vê-la; remetia a pureza que outrora vira em sua filha falecida, e que desejava ver na cativa também.
— Há poder em você. Mas só isso não basta para mantê-la viva comigo. Seja diferente dessas mulher-macho que vejo todos o dia, e então terá algum valor — Seu carcereiro nada contente ou piedoso dissera, na noite em que a capturara.
Nora concordou com um aceno discreto com a cabeça, e tornara-se a mulher mais feminina do mundo. Não apresentou resistência quando acordou em um cômodo estranho, sentindo olhares pelo seu corpo, de repente, nu — apesar de não ter sido abusada em todos os anos que passara com ele, nunca.
Sua inércia era causada pelo luto constante do que fora sua vida um dia. Uma vida belíssima, que não durara mais de meia vida humana.
Nora não via pelo o que lutar depois que todos aqueles que amava haviam morrido.Já no convés, sentindo a brisa balançar seus cabelos pretos e espalhar seu perfume de rosas florescentes pelo navio, Nola contemplou a paisagem ao redor — recusando-se a olhar para baixo; para os feéricos e humanos fedidos e cansados. Tolos ignorantes, ela pensava. Não entendem o que está acontecendo nesse barco, não sabem nem mesmo da ponta do iceberg.
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Once, in Paradise
Fanfiction•Há quase quinhentos anos atrás, Tamlin cometeu uma traição horrível com seu amigo íntimo, Rhysand. Essa traição desencadeou eventos trágicos e uma rivalidade que duraria por séculos. Mas excluindo o ego, o orgulho e a arrogância de ambas as partes...