Capítulo 1

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Estava num parque passeando com os meus pais, o ar puro daquele dia misturado ao cheiro de orvalho de ter chovido horas antes trazia um ambiente que me fazia lembrar da minha adolescência. Me sentei num banco vendo pequenas crianças com os pais pulando brincando nos baloiços e esbocei um sorriso ao vê-las ali tão despreocupadas. Tempo depois me levantei e caminhei ao lado dos meus pais, eles que tinham as mãos dadas demonstrando o quanto se amavam. Passei por algumas árvores enquanto estava andando vendo pequenos pássaros amarelos e cinza que pareciam se distrair nas ervas brincando também, sem estar à espera uma garota pequena não parecia ter mais de 6 anos se aproximou de mim correndo e se agarrou nas minhas pernas.

— Apanhei — disse ela, mas ao olhar para mim ela demonstrou um ar de quem se tinha enganado.

— Margarida, essa não é a tia — disse um homem se aproximando, ao olhá-lo ele me lembrava alguém sabia que não era igual á pessoa que tinha conhecido antes, mas pensei que a idade muda as pessoas podia ser ele.

— Desculpe a minha sobrinha, prazer Carlos — disse ele me olhando e estendendo a sua mão. Pelo nome não era ele, mas ele tinha algo semelhante ao garoto que eu tinha conhecido há muito.

— Está tudo bem — eu disse um pouco envergonhada.

— Meu amor vem cá ao pai — aquela voz que ao ser um timbre um pouco diferente e ao olhar para ele eu vi, era o garoto que eu estava lembrando, ele não tinha mudado nada. Ele pegou a garota nos seus braços a colocando no colo e só ao ver a cara de animação no rosto daquela criança loira eu percebi o que ele tinha dito, aquela garota era sua filha.

— Rute não é mesmo? Tivemos aulas juntos, lembra ? — perguntou ele, ao ver o seu sorriso era como se muita coisa viesse na minha mente.

— Sim, infelizmente — eu disse baixinho indo embora.

— Espera, já não nos vemos há muitos anos, acho que devíamos pôr a conversa em dia, né? — perguntou ele levando o braço ao meu enquanto eu já estava de costas pra ele.

— Pode não me tocar se faz favor — eu disse tentando ser cordial e ir embora.

— Tiago, por favor ela pediu para não tocar, pode retirar a mão ? — perguntou Carlos parecendo sério.

— Ok — foi o que eu ouvi ele dizer, mas eu já estava um pouco longe.

— Não precisa ir embora por causa dele, nós vamos já embora — disse Carlos de novo perto de mim, ao que parecia ele tinha percorrido o espaço rápido e passado pela minha frente para me falar.

— Nós já estávamos mesmo de saída...— eu disse, não conseguindo encarar ele, os olhos iguais ao irmão parecia pois eles eram quase iguais.

Sai do parque indo noutro mundo dentro do carro, lembrando cada ofensa, cada toque, sim eu tinha sido vítima do Tiago, um cara que achava que só por ser o mais popular podia abusar de uma garota. Numa festa sim com álcool, mas isso não justifica forçar alguém a fazer algo que não queremos. Um "não" devia bastar para a pessoa sair de cima de nós. Uma lágrima escorreu pelo canto do meu olho ao lembrar o que tinha acontecido.

Dias depois eu estava em casa quando alguém bateu à porta, fui abrir e dei de caras com Carlos aquela feição parecia com a do irmão ainda não me tinha feito acostumar, quer dizer eu tinha visto um dia e ver de novo me causou um calafrio.

— Peço desculpa por aparecer assim, eu queria falar com você — disse ele, me afastei deixando ele entrar.

— Pode falar — eu disse seca imaginado que o Tiago lhe tinha falado algo a meu respeito.

— A sua linguagem corporal naquele dia me faz pensar que aconteceu alguma coisa, o meu irmão ele... , vocês não se conheceram das melhores formas, pois não ? — perguntou ele para mim, estava sentada na mesa não conseguindo encarar aqueles olhos que me causavam medo.

— Podemos dizer que não, mas o que está aqui a fazer ? — perguntei tentando entender o que ele queria.

— Então a nossa prima, ela sabe que houve uns zunzuns na faculdade, que o meu irmão não foi muito bom para com outras pessoas — disse ele, sabia que devia me estar encarando, mas não conseguia levantar a cabeça.

— É, não é só zunzuns, mas ok — eu disse sentindo um calafrio me percorrer.

— Então, tanto ela como eu decidimos, que não numa forma de pagamento, não de comprar você , mas tentando ajudar de alguma forma.

— Vai me pagar é isso ? Acha que apaga o que ele fez ? — eu disse nem deixando ele acabar a frase e com uma raiva aparente na minha voz.

— Não é nada disso, mas eu sei que as suas notas baixaram e você desistiu dos estudos.

— Não preciso do seu dinheiro, nem do dinheiro de ninguém — eu disse me levantando da cadeira e apontando o dedo para ele como se ele fosse tão culpado como o irmão.

— Eu sei que não apaga...

— Não apaga nem um por cento sabe — eu disse me sentindo quente de raiva.

Ele foi embora e dias depois a sua prima me tentou pagar ela tinha um cheque na mão com o que parecia 35 mil euros disse que era para me ajudar eu disse que não queria mas ela insistiu ao ponto de dizer ou perguntar o que eu mais gostava e eu disse que amava tatuagens ela não disse mais nada saiu e eu imaginava que quando fosse fazer uma tatuagem eu não ia poder pagar.

Meses depois eu fui a uma loja de tatuagens, mostrei a imagem de um leão para o homem que logo disse que eu não ia pagar a tatuagem, sabia ou imaginava que aquilo tinha dedo deles que provavelmente tinha aberto uma conta para mim naquela loja.

— A minha amiga abriu uma conta para mim, né ?— Perguntei olhando. Ele acenou que sim não me verbalizando a resposta mas entendi o que ele quis dizer.

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