— Você vai lá? — Aline me questionou depois de me pegar com os olhos vidrados em algum ponto indefinido no gramado.
A verdade era que eu estava pensando no que fazer, pensando em como ele me desestabilizava com esses rompantes de raiva. Eu estava mal acostumada, isso sim, passava boa parte do dia sendo regada com voz mansa, carinhos e abraços inesperados, pra quando chegar na festa, simplesmente o dito cujo decidir que pra me proteger do paredão precisaria enfiar o dele na reta e ainda ficar bravo por eu não deixar isso acontecer.
Quem ele pensava que era para pedir ao Gabriel pra indica-lo e não a mim? O super homem?
Antônio é impossível.
— Não vou. — Respondi a Aline, que me deu um sorriso em conforto. Ela sabia o quanto esse tipo de situação me incomodava.
Eu iria atrás.
A festa continuava a todo vapor, os funks conseguiam reunir todos em volta da pista de dança. Pela primeira vez no BBB agradeci por isso, sinal que ninguém estava no quarto ou rondando ali por perto, poderia rachar a cabeça dura do Sapato sem ninguém pra interromper.
Eu não podia nem reclamar que ele era grosseiro.
Do mesmo jeito que ele não queria que eu fosse pro paredão, eu também faria qualquer coisa pra que ele não fosse.
Bebi um gole da caipirinha que a Sarah fez alguns minutos atrás e me levantei, seguindo em direção a parte de dentro da casa. Enrolei alguns minutos no banheiro antes de criar coragem suficiente para ir ao quarto.
Lá estava ele na cama de solteiro do canto, coberto com o lençol até a virilha, peito nu e uma camisa cobrindo os olhos. Precisei me conter pra não passar tempo demais observando cada detalhe do seu corpo malhado, como se não já fizesse isso todas as vezes que estávamos juntos na piscina.
Como eu podia gritar para os quatro cantos do universo que éramos praticamente irmãos, quando nem eu mesma controlava meus olhos quando estávamos pertos? Ele não me via dessa forma, com segundas, terceiras e quartas intenções, dizia a Deus e o mundo como eu era uma amiga maravilhosa, especial e que me manteria na sua vida até o fim dos tempos... Como uma melhor amiga.
Eu me revirava por dentro, tentava afirmar para mim mesma que o que tínhamos era bom demais para estragar, pra dar um passo que talvez fizéssemos perder toda a conexão, toda a magia da nossa amizade.
E além disso, não é como se ele me quisesse.
Eu tinha me colocado nesse lugar de amiga e era lá que permaneceria.
Sentei na ponta da cama e como já suspeitava, ainda acordado, Antônio espiou por debaixo da camisa que tapava seu rosto.
— Quer que eu vá embora? — Perguntei baixinho.
Ele agarrou minha mão e entrelaçou nossos dedos, em uma negativa clara da pergunta.
Suspirei baixo.
Tão previsível.
— A gente precisa conversar.
Ele balançou a cabeça em afirmação, retirando por completo a camisa do rosto. Se ajeitou no travesseiro, escorado na cabeceira da cama, acariciando a parte superior da minha mão com o polegar.
— Eu sei.
— Você não pode se atirar na bala por mim. — Comecei, séria. A ansiedade corroendo meus ossos. — Não quero você se precipitando por conta de algo que nem temos certeza.
— Você é alvo dele.
— E terei que arcar com isso.
Ele bufou.
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Refúgio
RomanceHistórias curtas sobre Antônio Cara de Sapato e Amanda Meirelles do BBB23.