Velho John

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-Velho John retornou ontem a noite ... o relógio estava próximo a meia noite.

John saiu para caçar como de costume, um velho cowboy frustrado com o avanço da civilização...-

É isso que eu digo em minha mente sempre que retorno para casa todas as noites.

Me chamo João, nasci no dia 25 de junho no ano de 2003.

Atualmente tenho 16 anos e bom... basicamente minha vida atual se resume a andar pelas ruas sem rumo, procuro sempre observar o mundo ao meu redor; na minha percepção isso me faz ficar mais sábio, sempre achei o ditado que diz que "Devemos aprender com os nossos erros" meio incompleto, na minha visão seria mais inteligente aprender com os dos outros, e sinceramente eu tenho bons professores nesse sentido.

Minha rotina é bem simples, acordo por volta das 9:00 horas me levanto, faço 50 flexões e 100 abdominais, isso tudo em menos de cinco minutos, tomo banho e faço meu café da manhã, normalmente escuto alguma musica calma enquanto estou comendo, isso me ajuda a pensar e refletir melhor; logo após isso eu me sento no sofá e assisto uns quatro episódios de um desenho que eu acompanho já faz uns dois meses, por volta da 13:00 horas eu vou a um restaurante almoçar, faço o meu prato e me sento sempre na mesma cadeira em frente ao restaurante, sempre observando, as pessoas passam vão e vem a todo o momento; eu sempre me pergunto, e eu...?

Deveria estar fazendo algo? bom essa pergunta se perpetua na minha cabeça a um bom tempo.

Basicamente eu passo o meu dia inteiro só, meu pai trabalha 12 horas por dia, e minha mãe mora em outro estado; então eu basicamente só vejo meu pai pela noite.

Por volta das 16:00 horas é a minha parte favorita do dia, o sol está se pondo, então é o momento que eu saio pelas ruas sem rumo, sem hora pra voltar, apenas curtindo a beleza do céu com meu fone no ouvido tocando bossa nova; eu penso milhares de coisas, coisas boas, uma única parte do dia que minha mente foca apenas em pensamentos otimistas... acho que é por conta desses pensamentos que continuo seguindo em frente; parece que vivo a vida baseado em uma imensa esperança de que aconteça algo extraordinário... não sei se isso é algo intrínseco ao ser humano, esse forte desejo de pertencer a algo que faça sentido, esse anseio por algo especial e empolgante... que me faça sentir vivo.

Chego em casa quase sempre entre 20:00 e 00:00, isso é apenas uma estimativa mas é basicamente isso, converso com meu pai um pouco, ele me conta como foi o dia dele e me fala sobre os sonhos dele... meu pai é um homem bem sozinho, más um homem bem otimista e aparenta sempre estar feliz, não sei se ele faz isso para manter o clima de alto astral ou se ele realmente é assim, me pergunto as vezes como ele realmente se sente; logo após isso nos desejamos boa noite um ao outro e vamos dormir.

Bom, basicamente essa é a minha rotina atual, hoje dia 13 de dezembro de 2019 está quase na hora da minha jornada, já é hora de o sol estar se pondo e mais uma vez estou me arrumando para sair; está tudo certo, a rua está com pouco movimento, mas também não está deserta;

- Ok o clima está até que agradável- penso comigo mesmo, enfim que diferença faz, depois de meia hora caminhando começo a notar algo estranho...

A rua está sem ninguém... Literalmente ninguém! chega a ser estranho, tudo está estranhamente alinhado, tudo está tão limpo, como se não tivesse movimento de pedestres a um longo tempo; todas as paredes prumadas, tudo alinhado milimetricamente, e o mais estranho de tudo... Ninguém...

Sinceramente não me importo tanto, apenas continuo o meu caminhar, percebo que eu continuo escutando os sons normalmente, o barulho do trânsito, as pessoas indo e vindo, os pássaros próximos a praia, o barulho das ondas, tudo normal, mas... de onde está vindo esse barulho? Aonde está todo mundo?!

Andando por aqui durante um tempo, minha cabeça parece que vai explodir, estou me questionando a todo momento

- Eu deveria fazer algo? eu deveria fazer algo? oque eu deveria fazer?!- eu penso e penso a todo o momento a mesma frase repetidas vezes

- Caralho! Porra do caralho! Merda! Cadê vocês porra?!- aproveitei que não tem ninguém aqui e começo a falar alto e a xingar sozinho, afinal...

Não tem ninguém aqui...

Oque é estranho, estou passando perto a praia em um lugar que costuma a ter bastante adolescentes fazendo festas, curtindo, bebendo, zoando e na maioria das vezes transando; em público mesmo, no meio da algazarra quase ninguém percebe nada. É muito estranho, eu estou escutando a multidão e as músicas, parece estar divertido, mas...

Onde estão vocês?

- Começa a soar um zumbido de rádio sem sinal- bem perto, não sei como consegui escutar...

Comecei a sair de perto do barulho da multidão e a procurar por aquele zumbido de rádio, não encontrei nada...

Já está muito escuro, parece ser meia noite, estou em um parque próximo a praia e a única coisa que ilumina o local é a luz da lua; começo a me perguntar se o meu pai estava preocupado comigo... Aproveito o silêncio e o local isolado para me sentar e refletir um pouco.

- Isso é muito estranho- começo a me questionar, qual o sentido disso? Eu estou sozinho aqui? Por quê?

Milhões de perguntas e nenhuma resposta...

Para onde foi todo mundo? Algo nesse local está me despertando uma sensação muito bizarra... não sei dizer se é medo ou apenas uma incerteza, será que realmente estou sozinho?

Meu pai... estou com saudade dele, quero conversar com ele novamente... será que ele já está em casa? Não quero que ele jante sozinho essa noite... não quero deixa-lo só...

"Ele já está sozinho..."

Esse lugar é medonho e enlouquecedor, depois de um tempo caminhando, começo a sentir que tem mais alguém aqui...

"Eu o vi" ... , Essa voz rouca soa ... Não sei se isso é minha cabeça... Esse tempo ouvindo pessoas e não vendo ninguém está me deixando confuso do que é real e o que não é...

-Já chega dessa merda! - eu me levanto e começo a correr para casa.

O caminho é um pouco longo, mas estranhamente me sinto com bastante fôlego, a estrada parece se alongar conforme eu vou correndo, posso ouvir as pessoas felizes rindo, mas eu não vejo nada, as vozes, os sons estão cada vez mais alto...

O zumbido do radio começa a soar novamente -nós caminhamos juntos por um tempo, mas isso acabou. - ... quem disse isso?...

Esse barulho de radio começa aumentar gradativamente, as pessoas começam a rir mais alto, muito alto... muito alto...uma risada histérica e nada normal, eu não posso ver, mas posso ouvir elas gritando! Elas estão gritando muito alto...

Alguém está atrás de mim;

- Merda! - Eu corro, eu não tenho coragem de olhar para trás e encarar oque está aqui, pela primeira vez eu só quero ir pra casa, o lugar que tanto me deixava pra baixo, que tanto me fazia pensar que eu não estava vivendo de verdade, nesse momento se torna o único lugar que eu quero estar...

A minha casa.

"Pai... eu estou chegando, eu vou te desejar uma ótima noite novamente... eu realmente vou escutar oque o senhor tem pra me dizer, eu estou indo."

Não paro de correr, apenas continuo seguindo o meu caminho, esse lugar parece que não quer me deixar ir; cheguei na rua do meu prédio, já era esperado não tem ninguém aqui, o zumbido de rádio se foi, eu moro no sexto andar, começo a escutar uma sirene de policia lá embaixo; apenas ignoro tudo, o corredor está maior que o normal, mesmo assim eu passo correndo por ele...

- apartamento 609, é esse- estou feliz finalmente estou em casa, vou ver meu pai de novo, abro a porta eufórico...

O rádio está zumbindo... Pai...

Cadê você?




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