Capitulo 8

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Passo a língua nos lábios e tento entender o porque da memória ter voltado a minha mente. Acho que estou com saudade de casa mais do que nos outros anos.

As coisas com Tio tem ficado cada vez mais sérias e isso me distância cada vez mais das memórias que eu tenho de mim mesma, a vida me fez ser a porra de uma rocha e dói pra caralho não poder desabar, fica cada vez mais pesado.

Mas lembrar de Filipe...

Porra de memória do caralho. Eu não o via há anos, não faz o menos sentido lembrar dele assim. Éramos duas crianças, e agora ele deve ser no mínimo casado, cheio de filhos, com um par de óculos na cara e trabalhando em alguma escola pública. Ele sempre foi inteligente, e aquele cabelo cacheado da época me fazem imaginar o quão cafona ele deve estar agora.

Além do mais, na cabeça dele eu não devo passar da orfãzinha com quem ele brincava quando era criança. Imagino que ele tenha contado e recontado a história pra várias pessoas, já que conviveu consigo mais do que devia, e deve ter recebido muita atenção com isso. As pessoas adoram uma história triste, idiotas!

Respirei fundo e peguei as chaves em cima da cômoda. Estou pensando mais do que devia em muitas coisas, e isso não está me ajudando em porra nenhuma. Preciso resolver a questão da grana com o MT hoje e a minha cabeça tem que estar no lugar.

- Vamos! - Digo assim que chego a garagem e os homens já estão de prontidão próximo ao SUV.

Não costumo andar com muita gente, nem gosto do sufoco que isso me trás. Mas a ameaça que fiz a MT semana passada me obrigou a levarem mais dois comigo, aquele filho da puta é abusado e não duvido nada ele querer tentar alguma coisa. O pó já deve ter comido os miolos daquele ali.

A porta do passageiro se fecha e sinto a presença de Filipe ao meu lado. Ele não podia ter a porra de um carro pra ele? Eu gosto da minha paz, mesmo que dure só alguns segundos. Mas ele tá aqui por um motivo, e eu preciso ficar de olho nele de toda forma.

Os carros foram estacionados na entrada da favela, eu e os meus homens entramos sem qualquer complicação. Os olhares tortos e cochichos já eram normal, mas MT sabia que viríamos hoje por isso já deve ter deixado avisado.

A favela calma faz um alívio estranho percorrer meu corpo, a última vez que estive aqui estava um estrago. Corpo no chão, comércio fechado, nunca vou me acostumar com isso.

As crianças corriam de um lado para o outro, a quadra de futebol estava cheia e os comércios movimentados, o que atraia um pouco mais de atenção do que o comum.

- Ela chegou chefe! - O garoto avisou no radinho assim que entramos no beco em direção ao galpão.

O rádio chiou do outro lado e o espaço foi aberto para entrarmos. Encarei de volta o garoto a minha frente e entrei no lugar, o moleque não devia ter mais do que quinze anos mas o olhar frio dizia que não tinha mais piedade ali.

- Cadê a grana? - Digo sem mais delongas me posicionando em frente a mesa de MT, os caras estrategicamente ao meu redor.

- Esse povo todo pra buscar essa merreca? - MT ri em deboche e empurra o envelope pra frente.

- Não vou contar. Se estiver faltando uma nota, você já sabe. - Dei um passo à frente e estiquei a mão para pegar o envelope, mas antes que ele voltasse comigo sinto a mão de MT segurar a minha.

- Relaxa ai, Gabi. - O encaro incomodada com o toque e ele levanta as mãos em rendição. - Tu anda muito nervosinha, o russo não tá dando conta do serviço? - Ele indica com o queixo e eu olho na direção, vendo Ret á minha direita.

- Cola no baile hoje, vou anunciar meu herdeiro. - Ele abre a gaveta e tira de dentro um cigarro. - Tô feliz pra caralho!

- E eu tô pouco me fudendo! - Puxo o envelope e abro para conferir se são mesmo notas e não a porra de um monte de papel.

- Menina bonita com a boca suja. - MT levanta da cadeira e extende a mão, tentando tocar na lateral do meu rosto.

- Longe dela. - Ouço a voz do Ret pela primeira vez no dia. A mão de MT recuou e meu peito encheu de ar, pronta pra meter uma bala em quem mais me tirar do sério hoje.

- Relaxa pitbull. - A fumaça sai de sua boca e eu volto a minha posição anterior.

- Bora! - Digo já caminhando em direção ao galpão.

Em passos rápidos sinto os caras me acompanhando até a decida do morro. Não olho pra trás, nem para os lados. Minha cabeça tá a milhão e eu tô fervendo de ódio. Vir aqui lidar com esse merda já me deixou puta pra caralho, agora lidar com o Ret querendo bancar o protetor? Vai se fuder! Quem manda nessa porra toda aqui sou eu, e a presença dele aqui é completamente irrelevante.

Ele achou mesmo que eu ia deixar um merdinha daquele encostar em mim? Ele não me conhece porra! Uma linha que o MT ultrapassar tem dez na fila pra assumir o comando dele.

- A próxima vez que você fizer isso, quem leva bala na testa é você! - Digo enquanto giro a chave e sinto o ronco do motor.

- Isso é uma ameaça? - A voz rouca soa.

- Entenda como quiser.

La Máfia com Filipe Ret • By ToryOnde histórias criam vida. Descubra agora