– são oito da manhã –continuou Meraki olhando para cima– devo dizer a vocês que nosso tempo de paz terminou e vamos enfrentar algo muito perigoso
– perigoso quanto? –perguntou Takeshi
– se oque dizem sobre esta floresta estiver certo... isso custará nossas vidas
Nos entre olhamos assustados não querendo participar mais dessa missão
– e que outra opção nós temos? –perguntei
– nenhuma
Meraki ainda está aflito e amedrontado e isso nos deixou nervosos pois ele parecia saber de algo a mais que nós.
Pensei ser a segunda parte da floresta de Solarin, mas Meraki ia me dizendo que antes fosse a floresta de Solarin ou até mesmo a floresta que vimos os parasitas, essa é a mais cruel, mais perigosa e mortal entre todas elasEla se chama floresta das almas, o nome não me agradou nem mim pouco; ela é uma espécie de organismo vivo mas que também não está vivo e tudo que ela toca ela destrói. Se pararmos para descansar, suas raízes sorrateiras vão grudar qualquer parte do seu corpo no chão e elas sugam sua energia, calor, a água do seu corpo, nutrientes e vitaminas para benefícios próprio e tudo isso lentamente, um processo que chega a levar dias fazendo os viajantes que entram nela sentirem muita dor
Ela também emite sons de risadas, choro, gritos, conversas de viajantes que pararam para descansar e acabaram morrendo, ela mesma reproduz as últimas ondas sonoras que saíram das cordas vocais dos viajantes para assustar quem entra nessa vasta escuridão, assim eles correm, se cansam, param para descansar e nunca mais acordam, resumidamente, muitos que entram, nunca mais saem
Meraki nos disse que não devemos comer seus frutos, nem beber de sua água, e evitarmos ao máximo o contato com os lagos de lá, pois as águas são encantadas e uma delas é até ácida, e quem não tiver sorte e cair lá dentro, sofrerá uma queimadura de quatro grau... Se conseguir sair, pois até as águas desse lugar são um organismo vivo e elas vão te puxar para baixo até corroer cada célula, músculo, medula, carne, até seus ossos se tornarem mais um no fundo no lago. Com toda essa descrição, isso significa que não importa quantos dias vamos ficar lá dentro, não poderemos dormir, descansar os pés; para comer, tem quer ser andando e se a água ou a comida acabar teremos que continuar caminhando a não ser que queiramos morrer ali mesmo
– nossa, que animadora sua descrição! –debochou Takeshi– isso foi para nos animar? Porque eu só senti vontade de desistir de tudo e voltar para Solarin
– você passou por tudo isso para desistir no meio do caminho? Vai mesmo ser tão fraco assim, Takeshi? Eu esperava mais de você
Takeshi se irritou e puxou com violência o braço de Meraki. Eles ficaram frente a frente com os rostos bem próximos e o clima ficou muito tenso
– Takeshi –o chamei
– estou farto disso! Não aguento mais nada disso eu quero ir embora! Você só fez a gente quase morrer com seus atalhos mortais e trilhas perigosas, não há mais possibilidade de eu continuar daqui para frente
– se fosse fácil demais seria de se estranhar, não acha? Nós lutamos contra sereias, contra Caecus, contra tudo de ruim que existe nas terras desconhecidas, então por que está com medo disso agora?
– eu não quero morrer! –gritou Takeshi– não escapei da morte na minha vila destruída para morrer em terras desconhecidas provavelmente ninguém nos acharia!
– e você acha que eu quero? –gritou Meraki no memo tom– ninguém aqui quer, Takeshi, você não é o único que tem a vida como preciosidade. Agora procure se acalmar, essa discussão não vai nos levar a lugar nenhum
– me desculpe –o mesmo dá passos para trás– eu só estou sobrecarregado
– você está com medo, essa é a palavra certa. É completamente comum ter emoções, isso não te torna fraco, pare de tentar fingir que não sente nada. Você pode dar uma de durão mas eu sei que você é sensível
– eu sinto muito Meraki... Eu estou muito apavorado –ele diz com os olhos marejados
– eu sei, eu também estou, mas se ficarmos juntos vamos conseguir concluir nossa missão. Vamos proteger um ao outro. Eu perdoo você, vou fingir que esse confronto nunca existiu
Meraki o abraçou e seguimos em frente depois que eles se entenderam, achei que ia sair uma briga terrível mas fiquei aliviada ao ver Takeshi pondo sua cabeça no lugar.
Na porta da floresta nós pudemos ver a vasta escuridão, realmente nenhuma luz entra lá. Respiramos fundo e entramos na densa mata seguindo a estreita trilha, dessa vez era Meraki que estava grudado no meu braço e eu até fiquei aliviada, porque eu já pretendia fazer isso mas achei melhor não incomodá-lo de novo.
Na trilha tudo estava indo muito bem, mas quando fomos entrando mais a fundo na floresta o cenário foi piorando, mas pelo menos alguns feixes de luz solar teimosos invadiam o local iluminando um poucoLogo de cara nos deparamos com uma árvore e nela um corpo coberto de musgo estava preso, mas ele não era o único, eram quatro ou cinco presos na mesma árvore. A trilha não tem terra, estamos pisando em cima de ossos e isso dificulta muito nossa caminhada. As árvores rangiam, a própria floresta tinha som, pois não havia nenhum sinal de vida aqui a não ser a nossa e a dela própria, sem animais, nem mesmo pássaros, pois quando olhamos para alguns galhos, vimos uma ave grande, morta e seca. Essa floresta não polpa ninguém
Mais ao fundo vimos um pequeno lago no meio da floresta, sua água era negra como a noite e ela borbulhava
– esse deve ser um dos lagos ácidos –sussurrou Takeshi
Contornamos o mesmo e seguimos em frente, o silêncio desse local é enlouquecedor, é tão quieto que podemos ouvir nossas respirações ofegantes e assustadas mas sempre tentando manter a calma.
Ouvimos um som esquisito e tivemos a brilhante ideia de olhar para o lado entre a segunda e a terceira árvore, estava um ser, não sei se é homem ou mulher ou outra coisa mas pelo seu tamanho não pode ser um anão, e a raíz grossa e grande de uma árvore cobriu a sua cabeça como um capacete fechando até seu pescoço, nós víamos o movimento que ela fazia, comparado ao de uma garganta subindo e descendo toda vez que ingerimos algum alimentoEla estava sugando a pessoa que estava quase seca e não havia nada que pudéssemos fazer por ele, porque ele já estava morto. Meraki me apertou com mais força, viramos o rosto para não ver mais essa cena terrível e que nunca, nunca, sairia da minha cabeça
...
Já estamos andando a horas, não sabemos se o sol está se pondo ou se já se pôs, porque aqui nas profundezas não se sabe nada. Meraki disse para darmos as mãos e não solta-las não importa oque aconteça, porque quando anoitecer, a floresta fará de tudo para nos matar usando as vozes dos viajantes que um dia já pisaram aqui para nos separar, porque ela já sabe que estamos aqui. Não importa o quão baixo a gente gente falar ou o quão silencioso tentarmos ser, ela já sabe que estamos aqui desde que chegamos a porta da entrada
Demos as mãos e não paramos de andar nem por um segundo. De repente oque não podia se tornar mais escuro ficou mais escuro ainda, acredito que seja a chegada da noite e com ela um terrível frio. A escuridão desta floresta é tão densa que pode ser tocada, sentir o peso da imensa escuridão nos deixou com dificuldades para respirar como se algo estivesse sobreposto em nosso tórax ou uma mão apertando nosso pescoço, e isso nos causou dificuldades para andar.
Ao nosso redor as coisas começaram a iluminar e então percebemos que eram os rios e os lagos, eles brilham durante a noite e para a nossa surpresa, a água sobe e desce bem devagar como nosso peito durante uma respiração profundaA água está respirando.
Quando os lagos se iluminaram, nos deu a visão mais clara de suas águas, e nela, havia uma pilha de ossos, incontáveis, que permaneciam imóveis enquanto ele respirava. A sua margem estava uma cabeça de anão eu suponho, ela ainda estava terminando de se decompor e sua boca e mandíbula estavam abertas como se estivesse sentindo muita dor. Perto da cabeça há um corpo, coberto de raízes e musgo, agora ele faz parte do solo, nós supomos que tenha sido seu amigo que tentou salvar seu amigo do lago ácido mas tudo que ele conseguiu tirar foi a cabeça e com a força ele caiu para trás e as raízes o abraçaram de imediato
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O Soldado, O Poeta e o Rei [Em Revisão]
FantasíaCriada em um vilarejo por um mestre, a jovem Adalia leva uma vida simples sendo aprendiz de guerra para ajudar outros jovens exilados nas florestas sombrias e resgatar aqueles que precisam da cidade perdida. Adalia não sabe seu lugar de origem, muit...