Capítulo 38 - Mensagem

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"Reclama que eu me afastei mas me tratava como segunda opção."

Júlia.

Ando de um lado para o outro no quarto, três caixas de teste de gravidez estão sobre a cama, intactos.
Eu esperava o Rafael mas ele estava demorando mais que o combinado, penso se não é melhor fazer sozinha.
Pego o celular e disco seu número, chama 1,2,3 vezes e cai na caixa postal.
Disco novamente e o mesmo acontece.
– Que droga, Rafael! – Será que ele ficou na faculdade por mais tempo e esqueceu de me avisar?
Posso esperar mais um pouco? Posso, então espero.
(...) Quase duas horas depois.
Tenho certeza que não ele não vai vir,  pelo menos não hoje e se o celular descarregou não vamos conseguir conversar, então com a coragem que me resta pego os teste e entro no banheiro, faço os três igualmente e espero os 5 minutos passarem, fico parada na porta do banheiro.
Meu celular toca, indicando uma mensagem, penso que é ele e abro praticamente correndo, era um foto de um número desconhecido.

"Nem meu, nem seu. Que ele não reencarne dessa vez e siga morto, faça a sua parte e se mate também."
Abro a foto, Rafael está com as mãos e os pés amarrados, pálido, os lábios roxos e tem sangue na cabeça.
– Não meu Deus, não! – Sussurro, ele estava morto, o meu Rafael..
Ergo os olhos cheios de lágrimas e encaro os testes, dois traços nos três. Positivo.
Eu estava grávida e o Rafael morto, me deixou novamente, ele prometeu que não deixaria e deixou.
O passado se repete.
Caio de joelhos no chão com as mãos na barriga, não consigo parar de chorar, não consigo respirar.
Não posso viver sem ele.

A sensação, eu nunca vou esquecer aquela sensação, de fraqueza, de impossibilidade e o medo, eu tremia tanto que nem respirar me era permitido.
Senti como se meu mundo tivesse desabado, como se tivessem arrancado uma parte de mim, uma parte muito importante, uma parte vital.
– Por favor, Deus, por favor, não tira ele de mim novamente.– Suplíco, eu estava de joelhos no chão, aos prantos, implorando que o criador me devolvesse a vida.
Olho os teste de gravidez que agora estavam sobre minha cama, meu olhar então se afasta dali para a minha gaveta, eu guardava frascos de remédios ali, remédios que eu usava quando doente mas que depois que eu melhorava, não tomava mais e por isso guardava.
Me levanto do chão, devagar vou até a gaveta e a abro, meu coração acelera como um maluco no peito.
Será que doiria? Não importa, nada é mais forte que a dor queimando meu peito, nada é pior que viver sem ele, eu demorei tanto pra achar ele, tanto pra gente ficar junto, tanto pra ambos ceder e acabar assim, não é justo, e sei, mas se eu quiser reencarnar novamente, se eu tiver a chance de ficar ao lado dele novamente, eu faria!
Aquela dor imensa estava me cegando.
E eu aceitei, se for para ambos morrermos, que assim seja.
Não me sobrou nada.
Pego os três frascos de comprimidos que eu tinha ali, os abro e viro aquela quantidade de remédios na mão, provavelmente uns 60 comprimidos ou mais.
Fecho os olhos e aperto os comprimidos na palma da minha mão.
– Me desculpa Rafael, eu achei que era forte mas não sou, julguei tanto a Laura pelo que fez e agora estou aqui fazendo novamente, eu a entendo agora, viver sem o amor da vida dela seria pior do que a morte, seria morrer um pouquinho, dia após dia, então farei isso por nós, para que nos encontremos novamente na próxima vida que vier, procure por mim e eu garanto que acharei você.
Abro a boca, pego um copp de água com a mão livre, olho os comprimidos, estava pronta.

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