Capítulo único: Entre Flores

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Meu primeiro dia no terceiro ano da faculdade já começou caótico. Para dar um breve contexto: meu chuveiro queimou, caí da escada e um passarinho fez cocô em mim. Eu realmente não sabia o que podia piorar naquele dia, mas só desse pensamento cruzar a minha cabeça, desejei não ter pensado. Eu sabia que poderia piorar e torcia para que nada acontecesse.

Esse seria o primeiro ano em uma universidade nova, com pessoas novas, professores novos. Resumindo, tudo diferente daquilo que eu havia me acostumado na minha cidade natal. Eu estava bem, sabe? Mas minha mãe adoeceu e eu quis ficar mais perto dela, então me mudei para essa cidade maior.

Entretanto, como eu disse, o dia ainda poderia piorar muito. Cheguei com cinco minutos de atraso na aula e o professor me olhou com cara feia. Caramba, eu estou na faculdade. Ninguém chega no horário. E olha que tem gente que nem comparece às aulas! Me sentei em uma carteira disponível no fundo da sala e comecei a prestar atenção no que aquele homem em frente à sala dizia sobre comunicação integrada.

Não entendi nada. Tive dúvidas se realmente estava frequentando o curso de Marketing, porque não é possível. Me senti como naqueles parágrafos de livro que a gente se perde a cada ponto final e precisa reler umas quinze vezes para começar a entender. Decidi que estudaria em casa e me prepararia melhor para as próximas aulas. E claro, não chegaria atrasada.

No intervalo, estava me dirigindo a uma das várias cantinas totalmente sem saber o que comer. Acabei optando por um lanche natural mesmo e torci para que ele tivesse sido bem feito. Não me surpreenderia nada se eu contraísse uma infecção alimentar nesse primeiro dia. Quando decidi voltar para meu andar, dei de cara com uma moça um pouco mais alta que eu.

Pedi desculpas de cabeça baixa e comecei a sair da frente dela, mas sua voz me chamou de volta.

— Ei, você é nova aqui, certo?

— Sim. Acho que já não causei uma boa impressão em você.

— Bobagem! Aposto que eu teria trombado em você, mas você foi mais rápida. — A garota soltou um sorriso, me fazendo sorrir também. — A propósito, meu nome é Clara!

Ela estendeu a mão para mim e pude reparar nas suas unhas mal feitas e curtas, além do anel de coco no dedão. Esses pequenos detalhes me fizeram pensar mil e uma coisas antes de responder, mas deixando tudo isso de lado, retribuí.

— Muito prazer, Clara. Você pode me chamar de Martina.

Com outro sorriso, nos despedimos e eu voltei para a próxima aula. Entretanto, não conseguia parar de pensar na simpatia dela. Foi a primeira coisa boa que aconteceu e eu queria encontrá-la novamente. Ela parece ser bem legal e acho que podemos ser amigas, isto é, se ela não fizer parte de algum grupinho de meninas metidas que, por Deus, eu já estou farta!

No dia seguinte, encontrei Clara novamente no intervalo e passei os 30 minutos conversando com ela. Como eu previa, ela era realmente muito legal e descobri que estava no último ano de Marketing. Além disso, ela também era meio que um lobo solitário, porque não fazia parte de nenhuma atlética ou grupo estudantil. Não era líder de torcida, nem patricinha, nem mesmo nerd. Era uma pessoa comum, assim como eu.

Fui à casa da minha mãe logo depois da aula e contei para ela sobre as novidades, o que eu estava achando do curso e também da minha nova amiga. Não percebi, mas passei muito tempo falando de Clara. As palavras apenas saíram da minha boca, não era algo que eu estava pensando muito, para falar a verdade.

Quando fui para casa, me fechei para estudar. A primeira semana de aulas está me deixando louca. É muita coisa para me adaptar. As únicas coisas legais que têm acontecido são: Clara e minha mãe reagindo bem aos tratamentos. Consigo ver uma melhora progressiva nela e isso me deixa muito animada.

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