Eu não tinha percebido que o caminho se encurtara demais. Eu já conseguia avistar sua casa na margem. O tempo passava depressa demais quando eu estava com ela.
— Sua irmã também está na sua casa? — perguntei.
— Ela deve estar acordando agora.
Era preferível acordar essas horas a não dormir.
— Ela sempre é a ultima a acordar. Dorme tarde e acorda tarde — disse ela, enquanto abria a porta de madeira. — Entre, a casa é sua. — Ela sorriu.
— Seu pai não vai achar ruim eu vim aqui? — perguntei baixinho.
— Meu pai não esta aqui — disse ela indo até a cozinha e eu a seguindo.
Havia uma mulher de costas para nós, lavando louças. Ela tinha cabelos pretos, era magra e alta. Estava cantarolando a música I Will Always Love You enquanto passava sabão nos pratos e depois os enxaguava.
— Cheguei mãe — disse Dakota. — Este é o meu amigo, James. Aquele que me acompanha todos os dias ate meu curso.
A mulher se virou e sua face era bastante parecida com o rosto de Dakota. Ela era linda, como sua filha.
— Ah. Aquele que você comenta comigo todos os dias? — ela disse sorrindo me avaliando dos pés a cabeça. Dakota corou na hora, ignorando a pergunta. Fiquei um tanto feliz por sua mãe ter dito aquilo, mas eu não sabia se aquilo era realmente verdade ou era só uma brincadeira.
— Com licença - pedi enquanto me aproximava para cumprimentar. — Prazer, Senhora...
— Kate Ferriani - ela disse, sorrindo e estendendo sua mão, esperando por um aperto de mãos.
Peguei as pontas de seus dedos delicados e beijei.
— James Linton, ao seu dispor.
Ela abriu um sorriso enorme e corou um pouco.
— Hum... O cavalheirismo ainda não morreu — brincou ela. — Que mão gelada, James. Está com frio?
Enrijeci com a observação dela.
— Sim... Um pouco — menti.
— Deve estar muito frio lá fora... Mas aqui dentro é quentinho. Por que vocês não vão se sentar na sala, enquanto o almoço não fica pronto?
—Esta bem— disse Dakota se retirando da cozinha e eu a seguindo novamente.
Na sala tinha dois sofás e uma mesinha no meio deles. A pintura da sala era de um marrom claro com alguns riscos escuros.
Ela sentou num sofá e eu no outro. Eu preferia manter-me distante sempre que podia. Ainda não me sentia seguro em algumas aproximações; todas as vezes em que ela me tocava, como em alguma brincadeira, meu corpo automaticamente se enrijecia por inteiro; e não por que eu sabia que em suas veias pulsavam sangue a todo momento, e sim por ser ela, talvez fosse medo, tensão misturado com desejo - os dois tipos de desejos, o bom e o mau.
Ela ligou a TV e caiu num canal que estava passando um ensaio fotográfico com uma mulher loira. Ficamos parados por alguns minutos, assistindo. Então ela olhou de repente pra mim, e eu correspondi o olhar.
— Está pensando o que estou pensando?
"Podia, se quisesse"— Pensei.
— Não... - respondi, num olhar desconfiado.
— Fotos! - disparou ela.— Nós não temos nenhuma.
Ela correu até a estante da sala e pegou uma máquina fotográfica, daquelas que a foto sai instantânea.
—Não acho uma boa ideia...
—Qual é, James? Alguns momentos precisam ser lembrados.
—Não sou fotogênico.
— Por favor! Prometo te dar uma.
Pensei por um momento, e foi o bastante pra ela correr para o meu lado com um sorriso enorme no rosto, como se eu já tivesse concordado. Ela colocou a mão na minha cintura, enrijeci.
—Para a foto sair melhor você precisa se soltar— sugeriu ela.
Soltei-me devagar, sem muita segurança. Ela juntou-se mais a mim, e encostou levemente a cabeça em meu ombro. Lutei para não enrijecer novamente.
Sorri de leve e então ela apertou o botão.
A foto saiu e foi tomando cores. Nós dois olhávamos para a foto enquanto a imagem se definia.
Percebi que eu ficava mais pálido ao lado dela. E isso era uma de nossas diferenças inevitáveis, que me incomodava.
Um Lulu da Pomerania pulou em meu colo. Ele era branco e parecia bastante amigável. Na hora me imaginei matando aquele pobre animalzinho, talvez fosse o instinto. Mas se eu conseguia me controlar do lado de um humano, eu poderia me controlar muito bem do lado de um cãozinho indefeso. Até por que o sangue que ele tinha não saciava nem um terço da minha sede. Quanta bobagem, tratei de tirar logo esses pensamentos da cabeça... Eu realmente estava precisando caçar logo.
—De onde saiu essa bolinha de pelos?— perguntei brincando.
—Ele estava dormindo comigo— disse alguém atrás de mim.
Era Veronika descendo a escada. Pela sua cara, ela tinha acabado de acordar.
— Scott! Venha aqui, bebê— disse Dakota ao cãozinho. Ele pulou do meu colo para o chão e do chão para o colo de Dakota.
— Você por aqui, James?!
—Pois é... Vim com sua irmã. Tudo bem com você?
—Estou ótima! Ha quanto tempo não te vejo! Precisa aparecer mais vezes.
—Sempre que me convidarem— respondi num sorriso educado.
—Dakota! O almoço esta na mesa!— gritou Kate da cozinha e Veronika entrou numa porta que estava do lado da escada. Scott pulou do colo da Dakota e correu atrás de Veronika.
—Eu estou realmente sem fome - eu disse antes que ela me convidasse para almoçar.
Eu sabia que seria inútil dizer isso, mas tentei.
—Você não vai fazer essa desfeita para a minha mãe logo assim de cara, vai?— disse ao se levantar.
Sim. Aquilo era uma chantagem emocional. Era incrível como ela sempre arrumava um jeitinho de ter o que queria.
—Na verdade não estou me sentindo muito bem— eu disse ainda sentado.
—O que você tem?
—Dor... no estomago — menti.
—Isso é fome— garantiu-me ela me puxando pela mão.
—Não, não!— eu disse sem dar um passo a frente.— É outro tipo de dor.
—Bom... Então o que quer que seu professor esteja, eu acho que você pegou.
Quase ri. Mas tinha que manter a pose de quem estava com dor.
—Tomara que não— eu disse, com aspecto de dor, pra reforçar a mentira.
—Vou pegar um remédio...
—Não se preocupe... Logo passa, é normal; eu tenho gastrite.
Eu nem sabia que doença era essa, só sabia que era referente ao estômago; torci para não estar dizendo bobagem, mas fiquei mais tranquilo quando vi que ela acreditou.
—Se importa se eu almoçar? — ela me perguntou meio sem jeito.
—É claro que não. Fique a vontade.
—Vai ser bem rapidinho, eu prometo.
—Não tenha pressa.
Ela foi até a cozinha e eu pude escutar a conversa com sua mãe.
—Ele não vai comer?— perguntou Kate.
—Ele não esta se sentindo muito bem. Está com dor no estomago.
—Vou pegar um remédio para ele.
—Ele não quer, mãe. Eu já ofereci.
—Parece que não conhece homens, filha. Está começando errado com este também...
Ela veio até a sala rindo baixinho.
—O que ela quis dizer com isso?— perguntou Dakota.
Veronika riu também.
—James. - Olhei para trás e Kate estava com um copo na mão, o que estava dentro do copo não parecia ser apenas água e sim algo misturado com ela. Logo senti um desconforto.
—Sim?
—Tome este remédio. Sua dor vai melhorar— disse ela me dando o copo.
—Muito obrigado, mas já está passando.
—Tome mesmo assim. Vai ajudar a passar mais rápido.
Vi que Kate era bem diferente de Dakota, ela não iria parar de insistir e aquilo poderia se tornar constrangedor. Consegui escapar da comida, mas do remédio não.
—Tudo bem - eu disse com uma expressão de quem iria chupar limão.
Ela esperou eu tomar até a última gota para se certificar de que eu não iria jogar fora. Dei o copo vazio a ela e agradeci.
Momento depois alguém bateu na porta. Quem poderia ser? Fiquei olhando e torcendo para que não fosse o namorado de Dakota.
—Eu atendo! — gritou Veronika saindo do cômodo ao lado da escada. Abriu a porta, era um garoto alto; magro; os cabelos escuros e escorridos; apesar de ser parecido, não era o mesmo que vi na competição com a Dakota. — Entra Phil.— Phil, era esse o nome de um dos garotos que Roy tinha dito que não era uma boa companhia, lembrei.
—Tudo bem Nika?— perguntou ele. Eu tentei não prestar muito a atenção na conversa e comecei a olhar as fotos na estante ao meu lado.
—Estou bem. Este é o James, amigo de minha irmã, e meu também.—Ela apontava na minha direção.
—E ai.— Ele disse num olhar desconfiado.
Sorri sem vontade, só para ser educado.
—Demorei?— Dakota chegou bem na hora.
—Não. Você come rápido, isso não é muito bom - comentei.
—Eu como pouco— ela disse e se virou para o garoto. — Oi Phil.
—Oi Dakota.
—Vamos ali na garagem. Vou te mostrar o que ganhei de um amigo — disse Veronika o puxando para uma porta distante da entrada.
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Entre Nossas Diferenças
Про вампиров"Uma metamorfose. Mudança de forma e estrutura, pela qual passam certos animais, como a borboleta. De certa forma, já passei por uma também." James, um jovem rapaz alto e de longos cabelos loiros, ao se ver numa situação em que sua vida é mudada r...