Leila estava vomitando no banheiro.Com insonia de madrugada, fui até a cozinha.
Se minha mãe não tivesse deixado uma fresta da porta aberta eu não teria visto, muito menos ajudado. Limpei o banheiro e a deixei tomar um banho. Preparei uma comida, ela recusou. Respirei fundo, a carreguei no colo e a levei para o sofá. Mesmo com seus protestos.
Estou acordado desde então.
Se eu não tivesse visto, por quanto tempo minha mãe esconderia isso?
As lembranças não muito boas da minha infância me acertavam como uma faca no peito.
"Mamãe - Eu dizia deitado no seu colo na maca do hospital, em lágrimas - Por que você não está melhorando?
- A mamãe está sim - Ela respondia com a voz tremula.
- Então por que ainda está nessa cama feia se você está melhor? Por que está cheia de agulhas te espetando? Tira elas, por favor
Balancei a cabeça freneticamente, expulsando a lembrança.
Coloquei o copo de água no braço do sofá, onde minha mãe estava sentada com um termômetro embaixo de seu braço. Mordi a unha, tirando um pedaço pequeno dela.
Peguei o aparelho quando apitou pela segunda vez.
- 38 graus - Falei.
Leila olhou para baixo e juntou suas mãos em seu colo. Evitava olhar nos meus olhos. Eu não gostava disso.
- Está sentindo mais alguma coisa?
- Me sinto tonta - Disse baixo.
Passei a mão no meu cabelo, bagunçando os fios para os lados.
- E o que mais?
- Dores no corpo.
- E?
- Só isso.
- Não minta - Respondi ríspido.
Grosso demais.
Leila levantou o olhar para mim, irritada.
- Posso estar doente, mas ainda sou sua mãe - Ditou com firmeza - Eu sei que está com medo, e cansado disso tudo, mas isso não te dá o direito de descontar em mim. Me respeite.
Uma facada doeria menos. Abaixei o olhar, arrependido. Não queria ter gritado. Nessas horas eu queria ter aquele elástico do Tristan.
Merda...
- A quanto tempo? - Mudei a pergunta, falando com cautela dessa vez.
Ela engoliu seco, sem desviar o olhar.
- Não é nada demais filho, só estou um pou--
- Mãe, a quanto tempo está se sentindo mal?
Sem resposta. Contornei minhas sobrancelhas com o polegar e o indicador antes de me aproximar. Abaixei em sua frente, colocando minhas mãos em seus joelhos.
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We Are Diferents
Fanfic€-- Sentia uma dor enorme nas costas. É claro. Minha mãe era pesada e eu tinha dez anos. €-- Não preciso de ajuda. Não somos iguais! €-- Mas isso não duraria muito mais tempo. Logo ela se libertaria de mim. Logo logo, sua vida voltaria a ser como...