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Eu sei que tinha prometido a mim mesma nunca mais me submeter a certas... humilhações? Mas como sempre, eu falhei.
Um olhar, uma voz, um ser tão desprezível, mas tão atraente, foi capaz de fazer todo o meu feminismo ir ralo abaixo com palavras tão sujas que, se minhas ancestrais me vissem hoje, elas fariam questão de me queimar em praça pública.
Mas eu estou rendida a ele, a esse prazer avassalador que só ele, infelizmente, é capaz de proporcionar.
Minha família provavelmente me internaria se soubesse o tipo de relação que ando tendo com esse homem, algo tão sujo quanto o próprio diabo. Não que eu seja uma santa para me preocupar com a opinião deles, afinal, a boceta é minha e eu dou pra quem eu quiser, não é mesmo? Mas só de pensar nisso, minha alma gela.
Rindou Haitani.
Ele é meu apocalipse eterno, e disso é impossível discordar.
Juntos somos o caos perfeito, o desequilíbrio universal, tão opostos que chegamos a nos sentir desconcertados às vezes. Se eu fosse água, ele seria vinho. Se eu fosse um rio, ele seria o mar negro. Se eu fosse uma rosa, ele seria uma macieira, sempre grande, sempre superior a tudo e todos.
Mas se eu fosse fogo, ele seria gasolina.
Acredite quando dizem que basta uma faísca para criar o maior dos incêndios já vistos. No nosso caso, bastou uma faísca de ódio, rivalidade e bum! Lá estávamos na cama, disputando quem dominava quem. A sala de aula já não era suficiente para nossas disputas de superioridade, tínhamos que disputar com nossos corpos e almas.
Eu aos poucos me apeguei a ele, e isso me afundou em um abismo sem fim. Ele era tão grande, tão superior, mesmo eu não admitindo. No fundo eu sabia que era verdade, eu nunca conseguiria vencer Rindou Haitani.
Quando percebi que éramos opostos e que nunca seríamos nada além do caos de dois corpos suados e sedentos um pelo outro, resolvi que era hora de cair fora. Ou seria o nosso fim, ou melhor, o meu fim.
Mas por que ele está aqui? Por que ele parece tão obcecado por mim? Pensei que boceta nunca faltasse em sua vida, como ele mesmo me disse quando terminamos, seja lá qual fosse nossa relação.
Ele parece bravo, só não sei se é comigo ou consigo mesmo. O mais impressionante é que aqui, agora, em frente ao meu dormitório, pela primeira vez na vida, Rindou Haitani parece tão pequeno e frágil.
Os cabelos antes perfeitos agora estão tão despenteados que parece que ele não cuida há alguns dias. Seu olhar é mortal e cansado, olheiras escuras e recentes. Ele também não está bem vestido com suas roupas engomadinhas de sempre. Hoje, ele veste apenas uma calça de moletom gasta e uma regata preta. Suas sandálias pluma, e ele cheira a pós-barba, um cheiro tão másculo e delicioso.
