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Eric

O céu estava escuro graças a madrugada que havia acabado de chegar, marcando o dia do meu aniversário, estou em crise, tentando me acalmar, e por fim, aceitando aos poucos. Mamãe está na cozinha chorando de forma disfarçada para que eu não pudesse perceber, tal tentativa é falha. Seus olhos estão vermelhos e marcados como se tivesse chorando desde o início do dia de ontem, algo que realmente aconteceu. Pego o bolinho que comprei mais cedo e acendo uma pequena vela branca que havia encontrado na cozinha há alguns minutos, algo como uma música de parabéns já bem esquecida vem a minha cabeça:
-Parabéns para mim, nessa data...muitas felicidades...-Meus olhos marejam, mas não vacilo em chorar, minha mãe fez todo esse trabalho para mim, assopro a vela e a guardo na minha gaveta.
Fico observando o bolinho na minha frente, mas não sinto a mínima vontade de come-lo, pensamentos sobre o que vai acontecer me deixam enjoado. Algo como uma possível e provável morte iminente vem-me a cabeça.
Lembro-me da minha mãe e vou até a cozinha com o intuito de ver como ela está, ando pelo corredor observando as fotos na parede, a maioria datadas de  mais de cinco anos atrás quando meu pai era vivo. Uma das fotos eu tenho nove anos, e meu pai me levou para pescar pela primeira vez, um dos melhores dias da minha vida, lembro-me de ir ao Cherry's comer bolo de cereja com ele depois.
Outra foto me deixa feliz, ao fundo, mostrando o último dia que tive com meu pai, ele não sabia que seria convocado para lutar denovo, então apenas fomos dar uma volta juntos, e eu me recordo de não querer ir, pois preferia jogar algo naquele dia, mas penso agora que se meu pai não tivesse insistido, provavelmente, eu não teria me despedido dele, mesmo que sem querer, quando eu disse que amava ele naquele dia, foi a última vez que pude dizer "eu te amo" para ele.
Lembro-me do que eu havia ido fazer e vou até a cozinha, encontro uma mãe já adormecida e com um papel de revista molhado de lágrimas direcionadas a minha partida. Eu a tiro dali e a coloco de forma delicada na cama do quarto dela.
Saio do quarto calmamente e olho para o Contador marcando zero dias para o recrutamento, apenas aceito e vou dormir.
Acordo de forma brusca com gritos vindo da minha mãe que aparentava estar na sala:
-Você não pode tira-lo de mim, não faça isso.-Ela berrava contra um guarda da Fundação. Ele possuia uma pele morena e bem machucada, com várias cicatrizes pelo rosto, imagino quantos não devem ter por todo o seu corpo camuflado pelo uniforme, ele estava com o rosto sério e aparentava estar cansado de discutir com a minha mãe.-Toma, eu posso pagar, quanto você quer?
-Não vai conseguir me subornar para eu não levar seu filho, ele completou dezoito anos, está na hora dele ir.
-Por favor não faça isso.
-Chame-o agora, não podemos esperar mais.
Adentro a sala antes que minha mãe tivesse que ir me chamar, já estava ouvindo a conversa do corredor.
-Estou aqui.
-Ótimo, venha conosco pacificamente e sua mãe poderá retirar...-ele olha para o creditário com omeu nome escrito, vejo o do meu pai também-cinquenta créditos na creditérica.
-Não quero trocar créditos pelo meu filho.
-Vá pegar os créditos mãe, estou indo por vontade própria agora, não vai estar trocando nada, e vai ajudar a senhora, não se preocupe.-Eu a abracei delicadamente e fui pegar uma bolsa no meu quarto que já estava pronta para sair, dentro havia uma arma não registrada minha, alguns cartuchos, roupas, comida, livros e um retardador-aparelho para ver fotos antigas e alguns vídeos- volto a cozinha e abraço minha mãe novamente, sussuro em seu ouvido pedindo para que a mesma olhasse em baixo do meu travesseiro, pois deixei uma carta para ela junto com alguns créditos que guardei durante os anos, o suficiente para ela sobreviver o máximo que puder, mesmo que ela tire dez créditos mensalmente, acaba ficando pouco.
Saio de casa sem estar preso a algemas pois fui por vontade própria e sou levado até o Departamento da Fundação, algo como um prédio gigante com vários andares.
Adentro o lugar vendo várias outras pessoas algemadas e poucas soltas como eu, a maioria tinham lágrimas nos olhos, e aparentavam ter chorado por horas.
Sou colocado em uma sala junto com mais umas vinte pessoas, alguns aparentavam estarem felizes ou animados com a situação, masoquistas:
-Mais um, ótimo, menos uma chance de não ir lutar.
-É por sala? Pensei que fosse algo geral.-Uma garota de cabelos loiros longos questionou ao cara que reclamou da minha chegada.
-Claro que é por sala.-Ele disse de forma ríspida, como se fosse obrigatório saber sobre o sorteio ds sangue.
-Estão todos aí?-Um homem adulto de aparência cansada e desleixada fala na porta perguntando a um outro homem fardado, que afirmou com a cabeça.
-Ótimo. Sou o Tenente Hank e vou explicar sobre o sorteio de sangue, por favor não façam perguntas sobre o que já expliquei, essa é a décima quinta vez que explico sobre isso hoje.-Ele nos olha antes de continuar e esboça um sorriso debochado ao olhar o nome na camisa do garoto do início, Speed.-Bom, como todos sabem, existem três classes no sorteio: Soldado, Enfermeiro, e  Atanqueiro. Os Soldados lutam as guerras de frente e possuem níves no exército como eu, tenente. Os Enfermeiros, cuidam dos que estão na guerra e são os únicos que não tem chance de serem dispensados. Os Atanqueiros são os que vão para a ala criadora, são cientistas, desenvolvedores ou construtores, normalmente só são dispensados quando o número máximo por laboratório é atingido, e os que sobraram são mandados para a IDE, instituição desenvolvedora de especialistas.
-E os Dardadores?-A loira de antes questiona, olho para sua camisa e vejo o nome "Lindsay".
-Não existem mais, a última vez que tivemos um Dardador foi há muito tempo-Ele nos olha tentando de alguma forma procurar nossos sentimentos ou emoções de acordo com sua afirmação-, temos que ir agora, já estamos atrasados.
Fomos direcionados a uma sala longe de onde estávamos, onde há uma vasilha preta de argila com um tipo de areia dentro, a sala é cheia de espelhos por todas as quatro paredes.
Fizemos fila e nos preparamos:
-Karrin Honnigan-Um garoto que estava do meu lado foi em direção à vasilha, cortou a palma da mão com uma faquinha prateada e derramou as gotas de sangue na vasilha, alguns segundos depois a areia escurece ficando num tom esverdeado.
-Atanqueiro-anunciou o tenente Hank, num tom apático.-Lindsay Emmet- A loira andou até a vasilha e como o primeiro, cortou-se e depositou as gotículas, deixando a areia vermelha.
-Soldado.-A garota começou a lacrimejar, como se soubesse que morreria naquele momento.
-Eric Kazin-Chamaram meu nome, tentei me manter calmo naquele momento, tentando de alguma forma permanecer neutro diante da situação. Infelizmente foi em vão, já que vacilei com o pé algumas vezes.
Cortei a palma da mão, estava tão nervoso que nem senti a lâmina atravesa-la, o sangue escorria, acho que fiz um corte desnecessariamente profundo, despejei algumas gotas na vasilha e aguardei.
-Soldado

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