Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3

Chapter 380 Este seria um outro lugar de nós dois?...

Capítulo 380 Este seria um outro lugar de nós dois?...

A verdade é que Jun Wu aceitou se juntar ao pequeno almoço por cortesia.

Ficar na presença de Shu Rong terminava por ser uma situação um tanto desconfortável.

Aquele homem quase sempre dava um jeito de excluí-lo de conversas, porque mesmo comendo juntos na mesa, entre copos de licores e chá, Shu Rong conversou com Qing Song e Shui em linguagem de sinais, sem mesmo pedir que traduzissem ao menos parte do conteúdo da conversa para que ele entendesse ou apenas soubesse do assunto.

Shu Rong em raras ocasiões olhou em sua direção durante o almoço e quando se dava ao trabalho, era exatamente como o censurasse ou ameaçasse de forma velada com o olhar.

Ainda que compartilhassem a mesma mesa, pareciam imensamente distantes um do outro, Jun Wu estava naturalmente desconfiado, certo de que não era uma mera antipatia.

Havia um porque bem definido, ao menos, era o que presumia.

Como após o pequeno almoço, pai e filho iam dormir depois de uma madrugada exaustiva e improdutiva, Jun Wu e Huan Shui saíram caminhando ao lado do pier na enseada Yi, Tian Shu estava por perto comendo grama no limite entre a terra, a areia e o ancoradouro.

Huan Shui caminhava com a mão atrás de si, sentindo o aroma salgado do mar no vento, observando Jun Wu vez ou outra, pensativo.

— O Daozhang está tão sério e quieto... Desculpe pelas reações do senhor Shu durante a pequena refeição.

— Não se desculpe, A-Shui. — Jun Wu desviou o olhar do mar, mirando-se no rapaz. — Mas, se não se importa, eu preferia conversar longe dessa vila de pescadores, posso te levar por algum tempo para onde quiser.

O jovem deus riu de leve, um pouco pálido, o vento soprando alguma mechas terracotas em seu rosto:

— O que tem de errado com a vila de pescadores?

— É o território desse seu suposto "Yifu" [N/A: pai adotivo]. — O deus menor ironizou algo contido. — Não me sinto confortável nele. Aonde quer ir? Zhen Yan... Reino Celeste... Até Cidade Fantasma, não me importo.

Ouvindo Jun Wu sugerir "Reino Fantasma" com tanto desespero soava realmente cômico, Huan Shui sabia que nem de longe o território de Hua Cheng era o lugar favorito de quem o fitava sem disfarçar a ansiedade nas íris.

— Certo. — O rapaz concordou em parte, prendendo o riso. — Mas, eu não quero ir a lugares que já conheço, nem encontrar pessoas do meu passado... Eu não me sinto no controle da minha própria vida e ainda fico nervoso ao seu lado... Pensar em rever mais alguém que eu conheça, me apavora um pouco. Não podemos ir ao local que você mora atualmente?

Diante da pergunta inocente, Jun Wu suspirou e meneou com a cabeça.

— Por mais que eu ache que A-Shui fosse adorar Sichuan, no momento não é boa ideia... Ontem houve um incêndio numa escola, eu fui até lá para ajudar, quando voltei a tapera onde moro estava completamente revirada... Receio que possa ter sido Jiahao.

A expressão de Huan Shui tornou-se mais grave, fechando os punhos involuntariamente, sua expressão corporal rígida.

— O Daozhang não tem certeza?

— Tenho uma quase certeza, eu não vi quem revirou os móveis e objetos, mas o rastro de energia escura estava lá. Não vejo porque outro demônio faria isso... Já que estou de posse da espada usada por Jiahao na tentativa do feitiço caixão.

— Minha espada está sob o futon que uso para dormir... Não é melhor que seja dois contra um? — Huan Shui questionou baixo e incisivo.

Jun Wu não conseguiu evitar de arregalar um pouco o olhar, é verdade que tinha se perguntado sobre a espada Huang Ho, fazia sentido estar escondida, se Huan Shui andava vivendo como um pescador diante da família Shu.

Mas, o que lhe causou certo assombro, foi a disposição fria e afiada, o rapaz tinha banido a imagem de "meio irmão" da mente, querendo esquartejar Jiahao como um mero pedaço de carne.

— Não estou aqui para arrastar A-Shui para uma luta. — Jun Wu disse suavemente, numa censura carinhosa. — E nem pode ser considerado boa idéia, seus poderes estão selados e você mal tocou na comida que o homem Shu preparou... Apesar de estar fingindo que está tudo bem, eu vejo a palidez no seu rosto.

O Daozhang estava olhando afetuosamente em sua direção, mas estando a dois passos de distância, Huan Shui se virou para o lado do mar e encarou as ondas, contrariado.

— Acha mesmo que Jiahao tornaria a me derrubar da beira de um penhasco? — Sua voz cava, soou desdenhosa. — Eu mudei... Não me subestime.

— Não estou subestimando. — Jun Wu replicou se aproximando. — Jiahao está fraco, isso é evidente. Mas, não é minha prioridade agora... Você é.

Huan Shui suavizou um pouco sua expressão, mas ela ganhou contornos demasiados melancólicos e seus braços se cruzaram frouxamente sobre seu peito.

— Tem um lugar, que eu sempre fiquei imaginando... — Huan Shui falou vagamente.

— Apenas diga.

Desviando os olhos do mar, Huan Shui deu casualmente de ombros, um pouco retraído:

— Você sabe... O nome da música que você gosta.

O deus menor piscou e bem... Ele se lembrou sofrendo de uma súbita aceleração no pulsar de seu coração.

— A-Shui quer dizer... A primeira música que tocou no erhu para mim? Chuva em Jiang Nan? — Jun Wu inquiriu, seus lábios subindo numa curva ascendente inevitável.

— É isso... — O rapaz assentiu, descruzando os braços. — Podemos ir para Jiang Nan?

Huan Shui na realidade não sabia que tinha sido a primeira música, o que lhe causou um espasmo momentâneo, certo alarido em seu peito como se o feitiço do esquecimento o prevenisse das consequências de tentar lembrar.

Ele fez o possível para não transparecer o espasmo, respirando fundo.

Antes que Jun Wu pudesse responder, Baobei correu pela vegetação gramínea feito uma flecha em zigzag, fugindo de outro gato que tinha brigado com ele no pier.

O pequeno felino negro escalou Jun Wu tal como se fosse uma árvore, o deus menor se retesou por instantes sentindo as garras de seu Baobei e olhou friamente para o outro gato maior e hostil, de pelagem clara e malhada arrepiada.

Vendo que o gato menor tinha se refugiado num "humano" gigantesco e com uma aura assassina, o gato malhado terminou por dar-lhes as costas e voltar numa atitude orgulhosa ao pier.

Jun Wu encarou o pequeno gato em seu ombro e cutucou de leve o focinho dele com o dedo.

— Tão cedo e se metendo em confusão? Isso doeu um pouco mais em mim do que em você.

A cena fez Huan Shui rir, esse homem à sua frente tinha realmente sido um só com Bai Wu Xiang?

Era uma cena adorável... tolamente risível.

E o riso tão breve não escapou de sua percepção, Jun Wu não se importou se estava sob qualquer olhar e abraçou Huan Shui pelos ombros, entregando um pequeno beijo no topo de sua cabeça, a risada que tinha terminado fazendo uma ternura desconcertante inundar seu corpo.

— Não lembro se alguma vez eu disse... — Jun Wu cochichou. — Mas, eu adoro sua risada boba.

— Então... — Huan Shui soprou com um pequeno vestígio de sorriso nos lábios.— O que o Daozhang diz?...

— Vamos, é claro... Para Jiang Nan.