Chapter 383 O encontro de duas vidas, o porvir em Jiang Nan parte 3

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Capítulo 383 O encontro de duas vidas, o porvir em Jiang Nan parte 3

O barqueiro estava a frente, silente, a cabeça protegida do sol com um chapéu cônico, conduzindo a embarcação com um remo.

Por um tempo, Huan Shui que estava na outra ponta do barco de madeira, sentiu a água do rio com as pontas dos dedos, observando as pétalas de pessegueiro flutuando, sua mente vagou até sua vida passada, quando era Hai Lang e dormia ao ar livre, à beira do pier, com sua mão tocando a água e as pétalas desgarradas das glicínias.

Não era uma lembrança ruim, quando agora tinha certeza de quem era e quem amava.

Quando a terra firme foi ficando para trás e apenas havia o imenso rio de todos os lados, Huan Shui pediu para Jun Wu ficar à sombra, sobre a cobertura do barco e tirou o erhu pendurado no ombro.

O pequeno barco, naquela imensidão azul, deixava momentaneamente um rastro enquanto se deslocava sutilmente sobre a água, ondulando as ninfeias na superfície.

Apenas de imaginar vê-lo tocar, Jun Wu já se sentia fascinado.

Observando Huan Shui posicionar o instrumento, o arco e fechar os olhos, aquelas notas ecoaram deslizando junto ao vento.

Jun Wu nunca tinha ouvido aquela melodia... Tinha certeza.

Ela tinha uma beleza melancólica, sem notas rasgadas e agressivas, que às vezes faziam o erhu soar como um lamento fantasmagórico. Era como um canto feminino, entoado com alma, derramando-se em notas macias que deslizavam junto com aquele barco.

E o mais admirável, o que tornava o momento mais memorável é que as pétalas de pessegueiro, que Jun Wu jurou que tinham ficado para trás, dançavam no ar ao som da melodia, atrás de Huan Shui.

Enquanto estava envolvido pela música, Jun Wu pensou se ao deixar os dedos na água, Huan Shui não tinha deixado escapar um pouco de mana... Ou seriam as cordas do erhu que encantavam as pétalas?

O barqueiro não fazia ideia do pequeno espetáculo atrás de sua embarcação, ele apenas remava ao som da música.

Assim que a última nota se dispersou no ar, as pétalas tornaram a flutuar na superfície fria e Huan Shui abriu os olhos, ele suspirou profundamente e sorriu timidamente para Jun Wu, que se moveu e sentou-se ao seu lado na parte de trás.

O céu ganhando nuances douradas e não muito longe, a terra era mais uma vez avistada.

A-Shui nunca tinha tocado essa música para mim. — Jun Wu disse baixinho, beijando-lhe a orelha.

Sei que não... — Huan Shui replicou, enlaçando seu braço ao dele, encostando com leveza a cabeça no ombro de Jun Wu. — Ela é de uma lembrança das orbes, numa noite que passamos juntos no palácio de Ling Wen... Eu pensei em tocar essa melodia que toquei hoje, mas como íamos nos despedir... Toquei "Manhã em Shichahai".

Evidente que Jun Wu lembrava, os dois haviam tido uma briga feia na choupana à beira do abismo, quase ocasionando o término da relação, após enganar Huan Shui prendendo seus pulsos com o nó de azelha, os dois foram fazer as pazes entrando às escondidas no Reino Celeste.

E como se chama esta que acabou de tocar para mim?

Esta se chama... "Lua Silenciosa".

Não era atoa que Jun Wu tinha associado a canção a uma voz feminina, reza a lenda que a esposa de um herói tomou o elixir da imortalidade e ela se tornou uma deusa, voando ao céu e se transformando na Lua.

Quando o herói voltou para casa, ao procurar por sua esposa, descobriu que ela era a Lua cheia no céu, o guerreiro passou a fazer os bolos favoritos de sua esposa pedindo-lhe bênçãos, foi assim que nasceu o Festival de Meio Outono.

A-Shui... Quer ver o poente e a noite de Jiang Nan?

Nós podemos? Já estamos longe da vila de pescadores há muitas horas.

Jun Wu tocou-lhe as costas da mão, numa carícia que levantou um pouco a manga, seus dedos tatearam o grilhão no pulso de Huan Shui.

Eu prometo que te levarei de volta ainda hoje... Nada faria A-Shui mudar de ideia?

Não... — O rapaz meneou a cabeça devagar, a sinceridade um pouco ríspida no castanho amendoado do olhar. — Já te expliquei minhas razões, nem tudo pode ser nos seus termos.

O Daozhang desviou o olhar para o grilhão amaldiçoado, o barco cada vez mais perto da margem.

Mas... A-Shui percebe? Não estou cedendo aos seus termos, são os termos de Bai Wu Xiang... E os seus medos.

Huan Shui teve vontade de esconder o grilhão com a manga, se distanciar de Jun Wu para que ele não pudesse mais encarar suas hesitações estampadas em seu olhar, mas ao invés disso, ele disse seriamente:

— "Medos" você diz... Eu não vivo pelo medo, desde que matei o Branco sem Face, eu vivo para seguir meu coração.

Mas... — Jun Wu sussurrou. — Seu coração está confuso e triste.

Debruçando-se no ombro do Daozhang, Huan Shui olhou demoradamente para o rosto dele e enfim disse, enquanto o barco atracava no pier de madeira:

Não hoje... Estou exatamente onde eu sempre quis estar, mesmo quando o feitiço não deixava que eu me lembrasse de você... O tempo todo era você a resposta para o vazio que havia em mim, eu não...

Antes que pudesse terminar o que tinha a dizer, o barqueiro anunciou que a viagem pelo rio havia chegado ao fim.

De imediato, a voz do barqueiro cortou em absoluto o clima e a ponte suspensa entre seus olhares e não havia muito a fazer, a não ser deixar o barco e pisar no pier que levava a margem.

Huan Shui não apenas engoliu a saliva em sua boca, enquanto se levantava, mas também engoliu de volta o que pretendia dizer e lhe parecia antes tão necessário, que ele se sentiu mal por ter que continuar calado.

As palavras antes tão importantes, pareciam cimento endurecido em sua garganta.

Sozinho, caminhou pelo pier ao passo que Jun Wu pagou o preço combinado ao barqueiro.

Um tanto alheio aos seus pensamentos, correu os olhos pelo cenário verde, o som mavioso da água, tendo certeza que havia alguma queda d'água em algum canto daquele lugar cheio de penhascos, fendas profundas e picos altos na vasta paisagem.

Faltando pouco para o sol se pôr.

As horas antes esquecidas, tornando-se incertas.

As horas antes esquecidas, tornando-se incertas

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Nota de rodapé:

"Ela é de uma lembrança das orbes, numa noite que passamos juntos no palácio de Ling Wen... Eu pensei em tocar essa melodia que toquei hoje, mas como íamos nos despedir... Toquei 'Manhã em Shichahai'." = refere-se ao capítulo 101

"... os dois haviam tido uma briga feia na choupana à beira do abismo, quase ocasionando o término da relação, após enganar Huan Shui prendendo seus pulsos com o nó de azelha, os dois foram fazer as pazes entrando às escondidas no Reino Celeste." = refere-se ao capítulo 95

Nota da Autora: Esse capítulo foi um pouco mais curto, mas foi por uma boa causa. ^^"


Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora