Medo

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- Aqui querida. - Julia me entregou uma bandeja de frutas quando acordei. - Dormiu bem?

- Tira isso daqui, agora! Que diabos faço aqui? E você?- peguei meu celular e disquei pra polícia. - Alô, alô. - eu gritava desesperada.

- Querida, desligue isso. - Voz de Blunk no outro lado da linha.

- Como você fez isso?- ela deu os ombros - Eu tenho nojo de você, SAI DAQUI.

Me levantei rápido da cama, corri como nunca, não ouvia passos além dos meus. Na sala, minha mãe ainda estava lá, o cheiro ainda pior e seu corpo apodrecendo. Não era essa morte que minha mãe deveria ter. Por que aquele monstro fez aquilo? Porque confiei nela? Porque me chama de querida?

Me ajoelho diante de minha querida mãe esfaqueada e fedorenta.

- Eu te amo, me desculpa por isso. Eu não sabia, eu juro que não sabia. Nunca fui um exemplo de filha, estou longe de ser isso, mas espero que você esteja em um ligar melhor, onde te tratem bem. Ela vai pagar o que fez, por enquanto não sei como.

O telefone toca, encosto naquele aparelho preto, coberto de sangue e ódio. Chega então a minha orelha.

- Senhorita Ginger?

- Eu, quem fala. - tentei disfarçar a voz de choro.

- Aqui é o Garry Johnson do estúdio fotográfico, os papeis da demissão chegará logo, sentiremos sua falta.

- Eu fui demitida? - pergunto sem entender.

- Não, foi você que se demitiu, não lembra? Bom tenho que desligar, obrigado. - apenas ouvi o Tuuu da ligação.

Como? Eu não fiz isso, juro que não fiz. Julia... seu nome passa pela minha cabeça.
Sinto ela atrás de mim, sua respiração fraca e falsa faz um barulho estranho. Me viro rápido e começo a gritar

- Foi você, não foi?- Eu gritava e ela ficava me analisando - Sua vagabunda louca, foi você. Agora não tenho mãe e nem mesmo emprego.

- E isso é ruim? - então chegava perto de mim. - Você tinha ódio de sua mãe e ela só veio lhe ver porque eu pedi. - olhei pra ela sem entender. - Queria que vocês fizessem as pazes, mas não foi o que ela quiz, veio pelo dinheiro que prometi a ela e eu disse que te mataria, e não vi nenhum sinal de surpresa ou medo.

- Isso é mentira, ela me ama.

- Não. Porque ela nunca te ligou quando saiu de casa? - fez outra pergunta rápida. - Porque ela nunca mandou presentes em seu aniversário? - não respondi. - Porque que quando Danny morreu, ela chorou mais que quando você se foi? Ou porque ela dava mais atenção ao Billy que sempre lhe deu trabalho? Isso é amar? Isso é amor? Pense em tudo que ela já falou pra você. Ela queria que você se casasse só pra se livrar de você. - ela gritava e derrubava as coisas, então chorei perdidamente. - Mas não se preocupe, querida. Eu te amo e vou cuidar de você. E sobre o emprego... Te arrumei um melhor.

Julia chegou mais perto de mim, e em seus braços me aconcheguei. Sua pele é tão macia, porém fria, Um longo abraço, mas não parecia de amizade.

- Vá passear pouco, vou arrumar essa bagunça. - Me disse enquanto puxava o corpo morto de uma boa mulher que pensava que me amava.

Fiz o que foi sugerido, peguei o carro e fui pra um parque perto de casa. Sentei em um banco e olhava crianças brincando nos balanços. Me sentia tão bem, mais que o normal e isso era estranho. Uma leve brisa passava por mim, meus cabelos loiros dançavam com o vento.

- Quero um de morango. - Avisei o idoso que estava vendendo sorvete.

- Olá. - Um homem bonito, belo corpo, braços repletos de tatuagens e uma grande barba bem feita, sentou ao meu lado.

- Oi. - respondi insegura, fazia tempos que não falava com entranhos.

- Sou Marco, prazer. - respondi ele com meu nome. - você não é muito de falar, né? - ele me olhou estranho e me fez rir. - Pelo menos sabe rir. Eu toco em uma banda, gostaria de me ver tocar? - Ele me entrega um folheto e vai embora.

Observo até desaparecer, olho pro folheto.

The drugs
Às 19:00 no music place
Entrada gratuita e cerveja grátis até as 19:30.

The Drugs? A banda se chama drogas? Espero que não seja uma. Pensei.

As horas se passaram, fui me arrumar pro "grande show". Coloco então um jeans surrado, camisa xadrez, all star e maquiagem escura. Chegando lá percebi que podia ter me arrumado mais.

Cheguei cedo, então fiquei bem na frente.

A Banda tinha chegado, lá estava Marco, calça jeans larga e camiseta do AC/DC, o guitarrista. Todos gritav nomes dos integrantes da banda.

Um rock pesado, mas com letras incríveis, como amo. Marco tocava e olhava pra mim, sorrindo, mesmo com 100 garotas gritando seu nome. Após acabar, Marco me chamou pro camarim, um quarto minúsculo e cheio de bebidas.

- Gostou?

- Adorei, vocês tem muito talento. Agradeço pelo convite. - falei animada.

- Galera. - Marco disse como aviso e os caras da banda saíram. - Eu não parei de pensar em você, e nem te conheço direito.

- Também pensei muito em você. A gente pode se conhecer mais qualquer dia desses.

- Me chamando pra sair? Como posso dizer não pra você?- falou rindo, seu sorriso é tão sincero e belo. - Me passa seu endereço, te pego as 20:00 okay?

- Melhor a gente se encontrar no lugar. Então semana que vem 20:00 no The Grill. - Um bar perto dali.

Voltei pra casa alegre, me sentei no sofá. Não liguei a TV, não vi o celular e nem abri os olhos, só queria pensar nele e em seus profundos olhos que me deixa sem fôlego.

- Onde você estava?

- Da pra parar de fazer isso? - me assustei com a pergunta de Blunk. - Você me assusta o tempo todo.

- Responda minha pergunta- ela parecia irritada.

- Num show, um cara lindo me chamou pra ver a banda dele. - vi que os olhos de Julia se arregalaram quando disse aquilo.

- Como você ousa? Você conhece o cara? E se ele fosse um bandido ou estuprador.

- Tenho que me arriscar as vezes. - estava feliz e nem liguei pra bobagem dela. - Para com isso, está tarde. - Entrei no banho, a água não estava nem quente ou fria, uma boa temperatura que não reconhecia a anos.

Me enrolei com a toalha azul de algodão e me seco devagar pra sentir o tecido em minha pele clara.
Pude ouvir um som de choro vindo da sala. Coloquei meu pijama vermelho e fui ver aquele barulho.

Me sentei ao lado de Julia no sofá em que ela chorava e soluçava. Cheguei mais perto e ela deitou em meu ombro, a abracei e se aconchegou em mim.

- Me desculpa por aquilo.

- Julia, do que está falando?

- Você sabe... Sobre o que eu disse, estava muito nervosa, não quis ser grossa com você.

- Hey, não chore por isso. Está tudo bem, sei que se preocupa comigo. Você destruiu quem me faria sofrer e lhe agradeço. - deitamos ali e tivemos um longo sono.

Julia BlunkOnde histórias criam vida. Descubra agora