Capítulo 5: Brincadeira de criança

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O fato de estar vivendo uma "nova vida", para Joui, era extremamente assustador, e tudo pareceu bem mais real quando colocou os pés para fora do ônibus escolar.

Encarou aquela enorme estrutura e sentiu um arrepio. Quis fugir pra debaixo da saia de sua mãe. Quem sabe os abraços quentinhos de sua tia, que não sabia o quanto ele gostava daquela demonstração de afeto?

Respirou fundo. Pensou em ir junto com os vizinhos, mas haviam acabado de se conhecer! Seria meio estranho, certo? O menino achava.

Praguejou baixinho por ser tão medroso, e segurou as alças de sua mochila do Homem Aranha com força. Juntou todas as suas forças e deu o primeiro passo. O mais importante. Entrou pelas portas do colégio e foi até a ala do Ensino Fundamental I com todas as outras crianças, e procurou pela sala do segundo ano.

Uma mulher alta, negra, com um belíssimo cabelo volumoso cheio de cachos estava na frente da porta com uma arte bonita em EVA que dizia "2º ano". Joui se aproximou, tímido.

— Com licença... A aula do segundo ano é aqui? — O menino perguntou baixo.

— Oi querido! É sim. — A mulher respondeu com animação.

— Obrigado. — Joui sorriu pequeno e olhou para dentro da sala, vendo que algumas das crianças já conversavam.

Olhou para os lados e viu um de seus vizinhos ali. O de cabelos grandes. E ele pareceu notar, olhando de volta em sua direção. Ele sorriu e fez joinhas com as mãos.

Joui sorriu de volta e fez joinhas também. Se sentiu encorajado e entrou na sala, sentando na cadeira na frente da mesa da professora.

Alguns minutos se passaram e a mulher ficou à frente da sala, pedindo silêncio.

— Atenção! Eu sou a professora Lara, e essa aqui é a minha auxiliar, a tia Amanda! — disse e apresentou a outra mulher, que parecia muito com a professora principal, mas ao invés de cabelos volumosos, tinha muitas tranças decoradas com acessórios dourados. — Primeiro, quero que todos falem o nome, a idade e o que quer ser quando crescer. Começando por... Você!

Joui fechou os olhos, torcendo para que não fosse ele, e abriu apenas quando ouviu uma voz infantil e animada — Meu nome é Erin, eu tenho sete anos e eu quero ser "fazedora" de bombas!

Joui sorriu animado. Parecia bem legal. O incentivou a contar o seu. Algumas crianças variavam entre querer ser médicos, arquitetos, bombeiros, professores... Até que chegou a vez de Joui.

— Oi! Meu nome é Joui, eu tenho sete anos, mas vou fazer oito, e eu quero ser ginasta profissional!

[...]

O sinal para o intervalo soou e Joui respirou fundo. Havia gostado bastante da aula, e se perguntava se não poderia ficar ali até que aqueles vinte minutos acabassem, mas se viu obrigado a deixar a sala quando notou que as professoras só sairiam dali quando ele saísse. Levou sua lancheira até o lado de fora e encontrou uma árvore bonita, e decidiu sentar no pequeno banco que havia ali.

Abriu sua lancheira, e abriu seu potinho de uvas. Comeu uma, duas, três, e ouviu uma voz reclamando, em algum lugar por perto.

— Para! Para de me empurrar! — dizia.

Joui sentiu todo seu instinto de justiça se aguçar e começou a procurar ao redor, encontrando ali atrás alguns meninos mais velhos empurrando o irmão mais novo de seu vizinho. Se irritou, pois aquilo era completamente errado.

— Ei, o que vocês estão fazendo? — Joui se aproximou, enraivecido.

— Estamos brincando com nosso amigo João sem braço aqui. — Um dos meninos falou, colocando o braço ao redor do pescoço do menino.

Vizinhos da Má Sorte [Lizago]Onde histórias criam vida. Descubra agora