A flor e o sol

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O anúncio de um  emprego foi a melhor coisa que Matheus viu naquele dia, a vaga para assistente em um pequena floricultura na cidade seria o suficiente para ele poder se manter na faculdade.

A entrevista foi aterrorizante, tinha que admitir, um senhor de uns 50 anos com uma camisa florida fez as perguntas. A cicatriz e o mau humor contrastavam com a blusa florida e as violetas  espalhadas pela floricultura.

–Nome?

–22.

–Idade?

– Matheus.

Ele abaixou  os óculos e seus olhos púrpura analisaram cada detalhe do garoto na sua frente.

–Sabe alguma coisa sobre cuidar de plantas?

–Minha mãe era botânica,sempre fui cercado de plantas. Então posso dizer que sei o básico.-sorriu em resposta.

Foi naquele momento que Mateus soube que não seria contratado. As respostas desconexas, o sentimentalismo e a entrevista curta demais ... Não tinha motivos para ser contratado.

Era o que pensava,  até receber uma ligação às 3 da manhã dizendo que a vaga era sua.

O emprego era simples, precisava apenas atender os clientes e carregar as coisas pesadas. Seu chefe,Kaiser, era responsável na maior parte dos cuidados das plantas.As vezes ajudava ele a achar os óculos perdidos no meio da terra ou fazia os cafés, mas nada demais.

O que estranhava era como um homem tão rabugento podia ter aberto uma floricultura no meio de São Paulo. Às vezes imagina Kaiser como um cacto mas com uma flor no topo.Ele parecia aqueles velhinhos  rabugentos de filmes,lembrava um pouco o de Up.

Um velho rabugento viciado em café dono de uma floricultura no meio de São Paulo, que parecia muito um cacto com uma pequena flor no meio.

Bem, isso até aquela quarta feira nublada.

Matheus estava varrendo o chão enquanto Kaiser fumava no canto. Normalmente significava que o humor dele estava pior, sua aura rabugenta deixava  difícil ficar do lado dele. Era uma pessoa diferente, não era o Kaiser que ensinou ele a cuidar de hortênsias com todo cuidado. Ele esperava os espinhos de kaiser agir no exato momento que  derrubou um vaso de orquidia.

–Porra! Assim você vai matar ela- gritou kaiser no fundo.

Ele começou a retaliar o assistente. Entre as broncas um badalar de sinos tocou e um estranho entrou na loja.

–César Oliveira Cohen Jouki!- disse a voz atrás. Ouviu outro palavrão do chefe que deixava o cigarro cair.

–Seu nome é César?- perguntou Matheus surpreso com a reação de Kaiser, César, diante do homem.

–O que você está fazendo aqui?- Era estranho ver seu chefe com a voz baixa, como uma criança que foi pega fazendo algo errado.

–Você esqueceu seu almoço-disse o asiático empurrando uma marmita para o peito do outro.

–Obrigado...Joui...-era nítido a vergonha do florista  que foi pego no ato.

–Você disse que ia parar, Anjo, você não tem mais trinta anos de idade. Você ouviu o médico falando.-disse Joui selando os lábios em Kaiser.

Espera.... eles eram casados? Matheus nunca imaginaria que os dois poderiam ter um relacionamento. Joui era atlético, mesmo naquela idade, via ele na rua caminhando com uma simpatia que inveja o sol. E tinha seu chefe, um velho ranzinza viciado em café.

–Eu sei, amor,é que ... Dia difícil..- fungou no ombro do marido.

Os braços de Joui apertaram o florista enquanto sussurrava.

–Eu não quero te perder pra isso... Você tem que se cuidar, amor, nós não somos mais tão jovens como antigamente- Joui abriu um sorriso singelo pegando o rosto do Kaiser e beijando sua testa- Dá próxima vez me liga que venho correndo te ajudar.

Kaiser concordou e Joui finalmente percebeu a existência de Mateus  no canto envergonhado.

–Então é você o tão famoso Matheus?- perguntou Joui se  aproximando do garoto.

–Sim, senhor.

–Obrigado por cuidar do meu marido. Sei que às vezes ele é meio rabugento.

–Eu to aqui ainda.

–Sim, às vezes ele é bem ranzinza.

–Eu to aqui ainda.

–Continuando, obrigado. Se ele colocar outras daquelas coisas na boca, exagerar no café ou ser rabugento demais pode me ligar.

–Eu ainda to aqui- resmungou.

–Eu sei anjo, por isso mesmo.- Joui beijou a cabeça do marido.

E esse foi o começo, foi naquela quarta feira nublada que viu a verdadeira face do chefe. Joui fazia ele perder toda a postura, eles eram um casal que apesar do tempo não pararam com as demonstrações de amor.

Matheus começou a deixar de ser um funcionário e virou cúmplice do Joui. Acostumou com o humor do patrão e aprendeu a ver os dias bons e ruins. Era os olhos do Joui enquanto estava na floricultura. Era convidado pelo casal nos fins de semana e podia ouvir histórias antigas e sorrisos apaixonados.

As reclamações de Kaiser quando Joui limitava seu café ou a leveza de quanto  pegou os os dois dormindo no sofá quando foram ver um filme.

Kaiser era um apaixonado pelo marido e por flores, a casca dura era proteção, ele era na verdade uma rosa com espinhos para se proteger.

Quanto mais conviva com eles, mais queria um relacionamento como o deles.

Kaiser era um jardim de flores e Joui era seu sol.

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Por favor não me confundam com bolsominio kjkjm. Espero que tenham gostado.

Baseado na arte do frio do twitter

https://twitter.com/orinisshh/status/1630265780448247808?t=Z5iGkbEY_CnF3Wlm8tp4kQ&s=19

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