Capítulo 3

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"O tempo que leva para se apaixonar por você é de 3 segundos"
Expensive Girl, 2013

Ainda me surpreende a genialidade de Kaws, agora mesmo saindo da sua exposição estou impressionado como ele consegue transformar vidro, fibra, papel, literalmente qualquer coisa em arte e como suas obras mantém o mesmo padrão seja com 20 centímetros ou 10 metros de altura. Como sempre não resisti e minha coleção pessoal ganhou novos itens. Assim tem sido esses dois últimos dias, museus, mostras, restaurantes, cafés,meus amigos, um roteiro e tudo planejado. Não vou mentir, fiquei frustrado por não descobrir o nome da garota e muito zoado por ter sido atrapalhando por uma buzina de caminhão, quando cheguei ao hotel Tae-moo e Choi (o recém chegado) estavam a minha espera com um arsenal de perguntas e piadinhas

-Qual é o nome da garota? - Tae-moo o mais velho perguntou.

-Não sei -minha frustração era palpável

-Como não sabe? Não estava com ela? - ele continuou

-Sim, porém foram surgindo outros assuntos... - tentei justificar - o caminho até a casa dela era curto

-Você foi a casa dela? - perguntaram em coro - o que mais aconteceu?

-Eu... eu, eu quase a beijei - Choi cuspiu um pouco da bebida que tomava e o salgadinho caiu da mão de Tae-moo que agora estava de boca aberta

-Você não sabe o nome, mas ia beijar - disse se recuperando do choque - gosto desse novo conceito

- E o que impediu? - Choi estava completamente envolvido - digo se houve o quase algo atrapalhou...

-Um caminhão - falei afundando no sofá passando as duas mãos no rosto - Um maldito caminhão de bombeiros

Eles caíram na risada, riram até ficar sem ar, acabei me deixando levar e rindo da minha própria desgraça, apesar da frustração não era nada tão sério e bem estávamos entre amigos, além dos meus membros eles eram o que eu tinha de mais próximo à irmãos. Tae-moo era mais velho que eu dois anos, um pouco mais alto fazia o tipo nerd, usava o cabelo mais longo e imensos óculos, era sarcástico, introvertido e muito observador, tinha uma sensibilidade para arte que não via com tanta facilidade, apesar de ele trabalhar com números e planilhas. Choi era alguns meses mais novo que eu, fazia o tipo boyfriend material, roupas descoladas, algumas tatuagens, muitos brincos e o cabelo sempre impecável penteado para trás, dizíamos que ele estava sempre às vésperas do debut, era carismático e também amava arte, que aliás, foi o que nos uniu, três pessoas totalmente diferentes, unidas pela arte.

Foram dois dias agitados, divertidos e regados a muita comida, cultura e boa companhia, tudo bem que onde eu via uma cabeça ruiva eu olhava no rosto, talvez tenha passado por aquele café uma vez ou duas, talvez eu quisesse esbarrar novamente nela, ouvir sua risada, conhecer mais dela, o que é uma loucura, eu sei, como uma pessoa que eu conheci a três dias pode estar ocupada tanto espaço na minha mente? Café, precisava de café, depois de andar mais um pouco pelas ruas da cidade entramos em uma cafeteria, ela parecia muito com aquela de dias atrás, olhando mais um pouco vi que estava certo, era uma franquia, vi alguns panfletos perto do balcão, parecia uma campanha de inverno, convidando os clientes a provar um novo sabor de chocolate quente, e na imagem tinha uma ruiva de olhos azuis e sardas no nariz usando goro e cachecol de inverno tomando e olhando para imenso copo da bebida, sim a ruiva do panfleto era a garota do museu, só pode ser brincadeira. Deixamos o café algumas horas depois, fizemos uma boa refeição, sinceramente nem vimos o tempo passar, isso é que são férias afinal, talvez eu tenha guardado um panfleto casualmente no bolso, talvez tenha sido zuado um pouco mais, porém, a certeza é : eu queria vê - la novamente, era algo que estava inacabado, na minha mente era algo que fazia completo sentido mas, ao externar isso me pareceu um pouco ridículo e sem fundamento, estava decidido, ia deixar essa história de lado, eu não precisava saber o nome de uma pessoa que provavelmente não iria ver nunca mais e nem alimentar qualquer fantasia que talvez ela viesse a criar se eu o fizesse, era a receita do desastre. Chegando ao hotel decidimos pelo bar, talvez um bom uísque me ajudassem a acabar com a vontade de ir até a sua porta e provavelmente apertar todas as campainhas até conseguir falar com ela.

Quase três garrafas de Johnnie Walker mais tarde eu estava cheio de coragem líquida, parado na frente de um prédio de seis andares, encarando todos aqueles botões de campainha não tendo a mínima ideia de qual apertar, mas o mundo foi feito por desbravadores ou algo do tipo. O painel de campainha tinha 24 botões, eliminado os 8 que não tinham nomes, supondo que estivessem vazios, ainda restavam 16 para lidar, fazendo mais uma triagem baseada apenas na minha suposição auxiliada pelo álcool em meu organismo, eliminamos mais 10 já que os nomes eram masculinos, sobrando 6 para a rodada final, porém apesar de não saber seu nome sei que o final termina com UE,( UAU, isso é quase uma pergunta daqueles programas quem quer ser um milionário) analiso novamente o painel e me resta dois nomes,olho bem, tomo coragem e aperto, toca exatamente 4 vezes, então ouço uma voz um pouco sonolenta

- Oi, quem é?

Não sei o que dizer, meu plano não tinha tantos detalhes, não cheguei nessa parte, rio de desespero e digo a coisa mais idiota que vem a minha mente, Deus porque eu sou tão ruim nisso?




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