Capítulo 4

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Mas o tempo vai parar
Quando você e eu fazermos nossos lábios se tocarem, amor
Closer, 2022

          Ainda estou olhando para minha conta bancária na qual acabou de cair o pagamento pelas fotos que fiz pro café, tudo bem que foi um trabalho simples, porém, sempre fui muito insegura com minha aparência, todas essas sardas e o rosto rechonchudo, sem falar que não sou nada sexy aliás, não ando nem perto. Então sim, estou bem orgulhosa do meu feito e orgulhosa duas vezes já que toda a campanha foi feita por mim, tudo bem que o fato de Cristian, um dos donos da franquia ser amigo do meu irmão ajudou um pouco, contudo, uma chance é uma chance ainda mais para mim que sou designer independente e tô aceitando fazer até campanha de comida pra hamster. É... são tempos difíceis para os sonhadores, mas como diria o líder do meu boygroup favorito "a noite é sempre mais escura antes do amanhecer" ou sera que foi o batman que disse isso? Ou será que o batman disse e ele repetiu? Olha eu desfocando de novo e agora já era, minha mente já voltou para três dias atrás.

        Quando desejei viver mais um pouco da minha vida de fangirl nunca imaginei que seria atendida, e de uma forma tão específica, obrigada universo, as vezes acho que meu cérebro derreteu e tudo não passou de uma grande fanfic, porém foi tudo muito, muito real. Não vou mentir refiz o mesmo caminho várias vezes, sem falar que dobrei as minhas visitas aquele café. Tudo aconteceu tão natural...tudo bem que tive que fazer um esforço hercúleo pra não tietar ou agir como uma adolescente apaixonada,nada contra mas, queria lhe tratar com normalidade que imagino que as vezes eles anseiam, isso não significa que eu não estava pirando e suando feito uma chaleira, ainda repasso na minha mente todos os detalhes, no museu, o desastre no café como ele me segurou (e depois me deixou cair...) como cheirava bem, a carinha de surpresa quando provou o dalgona. Confesso que me surpreendeu ele querer me acompanhar, saber se tinha planos e todo aquele interesse, a caminhada foi agradável, o assunto simplesmente fluiu, parecíamos velhos amigos conversamos sobre tudo, um trajeto que levaria 20 minutos fizemos em quase uma hora.

Ele me contou coisas que eu já sabia, mais pareciam totalmente novas já que estava ouvindo da própria fonte, o jeito que olhava de canto de olho e sorria quando eu falava alguma coisa engraçada (escancarando aquela covinha indecente) ou como levantava a sobrancelha esquerda quando tinha alguma dúvida ou queria questionar alguma coisa, pequenos detalhes que ainda estavam rondando e rondando na minha mente. O fato é que zerei toda a minha sorte e era sem dúvida o ser humano mais feliz desse fandom, até o momento em que chegamos na frente do meu prédio, não queria que aquilo acabasse, mas, ia. Paramos e ele parecia que também não queria ir embora,quando levantou a mão pra tirar uma mecha de cabelo do meu rosto e colocou atrás da orelha, a pontas dos dedos tocando minha bochecha, meu corpo inteiro reagiu e quando ele segurou meu rosto entre suas mãos com tanta delicadeza eu só pensava em três coisas:não faça movimentos bruscos, não desmaia e porque tão lindo? Ele se aproximou devagar como quem pede permissão que nem precisava pedir e então o balde de água fria. Um som muito, muito forte acabou me assustando e nos arrancando daquele momento perfeito, fiquei constrangida? Lógico, porém contornei e me despedi, como tenho certeza que não ia mais vê-lo tão perto aproveitei pra tietar e ainda fico vermelha quando lembro que disse que ele fazia totalmente meu tipo, desde que vi aquele drama sempre quis usar essa fala, me julguem.

Apesar de ser dias difíceis, são dias de glória e muito trabalho, conquistei mais alguns clientes e tô trabalhando feito louca, me sentindo muito adulta, os últimos três dias foram muito intensos que quando caio na cama desmaio e por falar em cama já passa das 21:00h, começo meu ritual, faço o check-list do que foi feito, faço o do dia seguinte desligo tudo e desço do meu minúsculo escritório improvisado, tomo um banho rápido, coloco um pijama confortável e por confortável entenda uma calça com o rostinho do meu utt estampada por toda ela, faço um imenso sanduíche com tudo que encontro na geladeira e um leite de banana. Depois de alimentada e de toda minha rotina de beleza noturna, deito pra dormir, remexo um pouco e por fim encontro a posição perfeita, estou quase pegando no sono contando coelhinhos quando o interfone toca. Penso sinceramente em ignorar, porém tô a muito tempo longe do celular então pode ser meu querido irmão que vive aprontando com a esposa e ela o colocou pra fora de novo, enfim família, levanto me arrastando, e toca pela terceira vez, depois do quarto toque atendo e sem dúvidas não é meu irmão.

-Oi, quem é? - minha voz sai um pouco sonolenta

-Você também faz totalmente meu tipo, apesar de não saber seu nome - aquela voz, ele está bêbado? Nossa, minha alma abandonou meu corpo brevemente - até agora.

-Perdão... - meu sistema foi totalmente desconfigurado, o que eu falo? O que eu faço?

-Dois dias atrás nos conhecemos - ele começou a se justificar - e desde então você tem ocupado boa parte da minha mente, o que não faz sentido... - ele pensou em mim? Acho que tô alucinando - então eu pensei...

-Não sai daí, tô descendo - parei de ouvir no "então pensei" , desliguei o interfone e peguei o primeiro moletom que encontrei afinal minha camisa tava uma vergonha.

Desci pulando de dois em dois degraus, rezando pra não tropeçar e quebrar os dentes, meu cabelo estava uma bagunça acho que pra combinar com o que estava sentindo, cheguei ao último degrau ofegante, recuperei o fôlego e abri a porta de saída, lá estava, parado em frente ao portão, encarando o painel de campainhas como se fosse uma coisa muito complexa. Ele usava uma calça cargo bege, all star nos pés, um casaco pesado por cima de um moleton ambos claros, usava capuz e uma pequena bolsa atravessada no peito, estava com as mãos nos bolsos, quando abri o portão ele virou, me olhou e todas as borboletas, mariposas, passarinhos que habitavam meus estômago fizeram uma imensa revolução.

-Oi- foi apenas isso que consegui falar, ele sorriu, um sorriso de lado, me olhou nos olhos, acho que derreti mais um pouco

-Oi, Blue - falou se aproximando devagar - você fez uma bela morada nos meus pensamentos esses dias, sabia?

-Mesmo? - perguntei sorrindo, estava com um pouco de vergonha apesar de estar adorando, usando de todas minhas habilidades de flerte continuei - Me fale mais a respeito...

Ele já tinha invadido totalmente meu espaço pessoal, estava tão perto que conseguia sentir o calor de seu corpo, o cheiro do álcool misturado com seu perfume, apoiando o indicador no meu queixo me fez levantar a cabeça e olhar nos seus olhos novamente, tão perto, perto demais...

-Não...tenho uma ideia melhor - a mão que estava no meu queixo escorregou pra minha nunca, a outra mão foi pra minha cintura na qual ele puxou pra mais perto dele - posso mostrar?

Error 404, foi o que aconteceu, eu não estava assimilando nada, balancei a cabeça concordando então senti sua boca na minha, era quente e macia, passou suavemente a ponta da língua entre meus lábios pedindo passagem, aprofundando lentamente o beijo, o gosto de álcool se misturava ao seu gosto e o beijo foi ficando mais exigente, a mão que estava na minha cintura subiu para o meio das minhas escápulas, me puxando mais pra perto de si a mão da nuca estava enfiada entre os meus cabelos, meu corpo inteiro reagindo, então os movimentos foram diminuindo até voltar ao um beijo tranquilo ele afastou um pouco sem desfazer o contato, sua mão voltou pra minha cintura, beijou levemente meu nariz.

-Yeppeuda - diz passando o indicador no meu lábio inferior- Não sinto minhas pernas.





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