Uma chuva leve caía e era tirada de seu curso pelo vento no mínimo forte que parecia querer arrancar as casas do bairro e levá-las ao céu.
ㅡ Eu já lhe disse, preciso de tempo. ㅡ Repetiu o que tem sido a frase que mais saía de sua boca ultimamente. ㅡ Me dê pelo menos algumas semanas. Eu juro arrumar tudo até lá.
Não era verdade. Semanas não seriam o suficiente para arrumar dinheiro e quitar todas as dívidas com ele. Tal confirmação não era nenhuma surpresa para Jungkook, o filho de Kawang. Era comum ver o pai lutando contra a voz grossa no telefone.
E por mais que o homem tentasse se manter longe da misteriosa fala que o atormentava com múltiplas ligações durante a madrugada, era algo que Kawang não podia conter. Um imã. Isso. Uma espécie de imã que o prendia à conversar com o senhor no telefone. Um vício incompreensível. Oras, ninguém gostaria de conversar com o próprio fornecedor de dívidas, principalmente quando esse o ameaçava a cada duas palavras. Mas Jeon, e vários outros individados com ele, gostavam. Ele era como a cobra do jardim do éden.
Contudo, pode parecer que "gostar", não seja a palavra mais adequada. Pois mesmo não conseguindo ficar longe das ligações do agiota, o medo não deixava de existir. Não havia como somente ignorar, se Kawang não atendesse, seria pior.
Era como se entregar voluntariamente ao diabo. Ruim, mas parecia ser bom quando tudo que estava em sua mente era dinheiro para poder gastar com mulheres e bebida. Na visão de Jungkook, aquilo era loucura. Seu pai, ㅡ também seu único familiar vivo que se dispôs a cuidar do garoto após a morte de sua mãe, não como se ele realmente quisesse o filho ㅡ, não poderia estar satisfeito com tantos números para acertar.
Um suspiro pesado fora ouvido vindo do celular. Estava no viva-voz, pois Kawang andava de um lado para o outro na cozinha com pouca iluminação. Era por volta das duas e meia da madrugada, porém Jungkook ouvia tudo enquanto espiava por entre a parede que separava a cozinha da sala.
ㅡ Não serei mais tolerante contigo, Kawang. ㅡ A misteriosa voz fez Jungkook arrepiar os pelinhos das pernas, braços, e pescoço. Ele tinha medo de quem falava ao outro lado da linha.
ㅡ Escute, e-eu... ㅡ Kawang começou, passando as mãos pelo cabelo, forçando para que qualquer solução surgisse magicamente. ㅡ Eu tenho um filho! ㅡ Cuspiu a desculpa. ㅡ Isso...
Não poderia parecer pior a dor no estômago que Jungkook sentiu ao ouvir o comentário sobre si. O fez ter vontade de vomitar.
ㅡ Conte-me algo que desconheço sobre você. Sei que tem um filho para cuidar, mas vejo que não cumpre seu papel paterno do jeito que deveria.
ㅡ Por favor senhor, eu preciso muito de um tempo. Tenho de ter pelo menos algum prazo para arranjar alguém disposto a cuidar de meu filho.
A súplica do velho não parecia convencer o homem, mas comoveu Jungkook. De maneira que o mais novo desejou correr e abraçar seu pai. Era um tanto estranho para o menino, ver seu pai implorando para fazer algo de bom à si. Digamos que Kawang nunca fora uma figura paterna presente, ou atenciosa. Dava a Jungkook o que ele precisava para sobreviver; comida, o mínimo de saneamento, e um espaço para ficar pela noite, mas mesmo assim, era uma demonstração de amor. Jungkook sabia reconhecer uma; mesmo que disfarçada.
O silêncio se fez pela casa, e só foi possível ouvir as respirações pesadas dos homens que conversavam entre si, além das gotas de chuva batendo nas janelas. Jungkook tentava ao máximo evitar fazer qualquer tipo de barulho, pois caso fizesse as consequências não seriam nada boas. Não mesmo.
ㅡ Qual é a idade de seu filho? ㅡ O homem se pronunciou, e Kawang desejou louvar aos céus por ter o rumo do assunto fora de si.
ㅡ Dezessete. E-ele tem dezessete. ㅡ não tardou em responder.
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DEVIL¡! • Taekook
FanfictionJeon Kawang não tem como pagar todas as dívidas que adquiriu de empréstimos do agiota Kim Taehyung. Sufocado com tantas ameaças do homem, Kawang entrega nos braços do próprio diabo, seu único filho. Endividado. Essa era a palavra que definia Jeon K...