Capítulo 1

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Talvez as lágrimas não fossem capazes de curar a angústia que estava correndo o coração de Sanji, todavia ainda insistia em permitir elas caírem, na falha tentativa de dissipar todos sentimentos cruéis que adornavam-o por completo. Não era capaz de numerar o tamanho de seu sofrimento, contudo sabia muito bem que seria difícil recuperar-se depois de uma enorme decepção amorosa.

Deixando-se levar pela cólera sentida, tropeçava os pés em meio às alamedas que eram alheias a aquela noite fria de inverno; os lençóis brancos cobriam as ruas, carros, telhados e até mesmo alguns flocos de neve embrenharam-se nos fios loiros. Apesar da gelidez que causava arrepios repentinos em seu corpo, o pobre homem não dava a determinada importância, pois o sentimento de que havia perdido tudo de importante predominava-o por completo.

Sentia-se um idiota, fora traído por sua namorada bem debaixo de seu nariz, estava tão preocupado em dar céus e terras para Nami que não percebeu o indícios de que a mesma estava saindo com outro, mesmo namorando mais de um ano consigo. Sempre chegava tarde do trabalho, tinha indisposição na hora de transarem e estranhamente não importava-se mais com o namoro, datas importantes ou coisas do tipo; nem ao menos fazia questão de manter uma conversa. Sanji achava estranho, porém acreditava que provavelmente era o trabalho que deixava-a assim ou fosse o ciclo menstrual, só que qual ciclo menstrual dura quase quatro meses? Fora tolo demais quando quis dar tudo que tinha e em troca recebeu um belo par de chifres.

Não sabia o que era pior: ser traído por em torno de quatro meses ou descobrir que virou chifrudo no Natal.

O resultado da traição chegava a causar vergonha, não estava alcoolizado, mas agia como um bêbado, seja nos tropeços ou nas palavras desconexas que mesclavam-se ao choro e as fungadas fortes, Vinsmoke sentia-se um lixo.

Estava tão abatido e sem um destino para concluir que sentou-se em um ponto de ônibus qualquer, obviamente não esperava por um, só almejava tentar reorganizar todos pensamentos e quem sabe ajudar seu coração partido. As mãos trêmulas invadiram os bolsos do casaco e então pegaram um masto, levando logo em seguida um cigarro aos lábios, passando a se xingar por ter esquecido o isqueiro em casa, quer dizer, na casa dela, até porque agora não tinha para onde retornar.

Sim, era deplorável o estado do loiro, as orbes azuladas nunca carregaram tanta decepção, nitidamente além de sentir-se traído, também achava-se um sonso. Devia ter ouvido a Usopp, seu amigo, ele avisou que Nami só importava-se com dinheiro; coisa que o cozinheiro tinha até para limpar a bunda. Antes tivesse escutado os conselhos daquele idiota, pois assim não estaria sofrendo como estava.

Os minutos se passavam e cada vez mais sentia toda a estabilidade esvair-se por completo, causando-lhe cada vez mais prantos inigualáveis e pensamentos tortuosos; chorar pelo leite derramado não mudaria nada, mas era a única coisa que restava-lhe fazer.

— Toma. — Por estar tão inerte no próprio sofrimento, sobressaltou-se pelo susto que aquela mão levemente bronzeada causara em si, tal segurava um isqueiro e sem se importar quem lhe estava oferecendo, somente aceitou e acendeu o cigarro, devolvendo o objeto e então passando a tragar a nicotina.

Os globos oculares azuis visualizaram a pessoa que havia dado-lhe um meio de acender seu fumo; era um homem, de cabelos verdes curtos, um rosto meio agressivo, mas de alguma forma chamava atenção, as íris cinzentas causaram uma reviravolta no estômago de Sanji que, estranhamente passava a notar cada detalhe físico do moço ao seu lado. Acabou ganhando um tom avermelhado nas bochechas ao perceber que provavelmente aquele homem estava ali a um tempo, provavelmente vendo-o chorar como um condenado.

— Um dia ruim? — indagou curiosamente, notando a expressão incrédula na face amarrotada do loiro.

— Não converso com estranhos — murmurou desviando o olhar, abaixando a cabeça em seguida, havia tirado o cigarro dos lábios para ficar fitando-lhe, mesmo que sua mente estivesse ocupada, remoendo os acontecimentos recentes.

Apenas Um Dia Ruim, Mas Com Toque de MarimoOnde histórias criam vida. Descubra agora