VI

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Mais alguns dias passam, e tenho passado todos eles com o Phil. Descobri que ele pode não ser um mulherengo insuportável quando quer, que ele pode ser gentil, um bom ouvinte e que cozinhar não é bem sua especialidade, tenho cozinhado pra ele quase todos os dias desde então. O Phil é agradável e tem sido o único que consegue me distrair. Sai com a Jessy algumas vezes, visitei a Lilly e a Hannah, mas ainda não tive coragem de falar com o Alan. Durante um dos nossos almoços, conto da situação com o Alan para o Phil.

— então o delegado tentou bancar seu pai e você ficou brava? — ele gargalha — eu não esperava isso de você.

— e você esperava o quê? Eu odeio que me digam o que fazer — cruzo os braços.

— você me lembra a Jennifer — ele solta — ela era tão teimosa quanto você.

— Phil, você conhecia a Jennifer? — não consigo conter a surpresa.

— claro, como você acha que eu conheci o Michael? — ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha — eu a havia conhecido e eu me apaixonei, nós namoramos por algum tempo e ela me apresentou ao pai, o Michael era um cara tranquilo e acabamos nos tornando amigos.

— por que não me contou isso aquele dia?

— na frente da Jessy? Nem morto — ele desvia o olhar — ficamos realmente próximos quando ela morreu... Estávamos os dois arrasados e eu vim trabalhar com ele. Todas as noites depois de fechar o bar bebiamos até a cabeça doer e íamos pra casa... Até ele decidir ir embora, também.

Não sei bem o que dizer, eu não esperava toda essa sinceridade do nada. Ele continua:

— fiquei com o bar porque o Michael não tinha mais ninguém, a pulseira ele deixou pra mim como uma lembrança da filha — ele solta uma risada amarga — eu odiava olhar aquela pulseira idiota e lembrar dela.

O abraço, sem coragem de abrir a boca.

— não estou triste, eu não preciso mais me apegar a essas lembranças. Tenho algo que me faz feliz agora — ele passa a mão no meu cabelo.

— P-Phil... — sussurro.

— não precisa falar nada — ele sorri — o que quero dizer é, você acha certo fazer tudo sozinha só porque você acha que pode? Eu estava doente no dia do festival, mas se ela tivesse me pedido eu a teria buscado. Ela preferiu ir sozinha, não 'incomodar' ninguém e tudo acabou assim. Não deixar que os outros se preocupem com você é egoísmo.

— você está dizendo que eu deveria ligar pro Alan e pedir desculpas?

— sim.

Pego o telefone, sinto meu coração acelerar e sei que é de vergonha, pois o Phil tem razão. Estou sendo egoísta e não posso deixar as coisas assim. Ele atende no terceiro toque.

— Alan? Eu queria me desculpar pelo outro dia... Não, claro que eu te devo desculpas, foi idiota da minha parte — suspiro — você quer jantar comigo hoje a noite? Amanhã? Ok, te vejo amanhã então...

Ele me interrompe e joga a notícia como se não fosse nada. Eu permaneço em silêncio por alguns segundos antes de conseguir raciocinar.

— o Richy vai sair HOJE do hospital? Obrigada, Alan. Vou me arrumar pra ir encontrar ele, até amanhã.

Desligo e olho pro Phil, ele sorri.

— você vai buscar ele também?

— com toda certeza! Eu não deixaria ele sozinho agora por nada — sorrio.

— e eu que pensei que eu fosse especial — ele finge estar triste — você me iludiu.

— você com certeza não é a última bolacha do pacote, sabia? — dou uma cutucada na costela dele.

Perseguindo Fantasmas - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora