CAPÍTULO QUINZE

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—Malessa—


Graças aos Deuses era Alex que estava de guarda novamente no portão, e não fez pergunta alguma quando eu disse que precisava sair urgentemente para uma missão de vida ou morte.

     Foi uma escolha sábia ele não querer trocar o ódio de Argos pelo meu, porque tenho certeza que o vampiro avisou a todos de que eu deveria ser mantida dentro de Nêmesis até segunda ordem. Mas depois de atravessar a cidade correndo como o vento e parando somente para ordenar a abertura do portão e da Barreira, simplesmente parti em disparada para fora, e dei de cara com a escuridão infinita e familiar. Agora longe de qualquer luz da cidade, já que a magia da Barreira a esconde bem, era apenas eu aqui fora dessa vez.

     A primeira coisa que faço é olhar o chão em busca de pegadas ou marcas, mas percebi que saber onde procurar é quase uma missão impossível. A garota abriu um portal, e sei que este a levou para algum canto ao redor de Nêmesis. O problema é que a merda da cidade é gigantesca, e isso dificulta ainda mais o que é preciso fazer: Encontrá-la, e rápido... Antes que algo a encontre primeiro. Minhas habilidades como feérica são bem complexas, mas finitas, nada para me ajudar a rastreá-la mais rápido do que o habitual.

     Com o kilion na minha mão, exalando seu cheiro, dilato as narinas, procurando o seu semelhante no meio da floresta familiar. O fim da tarde já virou noite a alguns minutos atrás, e se eu olhar para o alto, sei que verei a lua e algumas estrelas. A menina não deve ter ido longe se é um portal básico. E se ela não consegue controlar, o medo pode obrigá-la a fazer de novo, o que melhoraria ou pioraria as coisas.

     Grunho baixo, a calma mortal se alojando fundo nos meus ossos. Sei que a impaciência e irritação não vão me ajudar, então mergulho no poço dos anos de treinamento para lidar com essas emoções.

     — Onde você foi... — sussurro tão baixo que o ruído não passa do meu hálito se condensando na noite fria.

     Aperto o colar entre meus dedos, então sinto um calor crescente na palma da minha mão. É quente, mas invisível. Observo a palma esquentar nas várias pedras, e o cheiro dela parece intensificar dez vezes mais. Isso nunca tinha acontecido. Nem sei bem como começou, mas veio a calhar. Uma vibração começa a pulsar em minha mão e o cheiro parece abrir caminho pela floresta, e sei que o que quer que esteja acontecendo aqui, vai me levar ao meu destino.

Começo a correr de novo, mas dessa vez como uma Caçadora altamente treinada, cujo os passos não passam de folhas sendo levadas pela brisa fria da noite. Lembro que a menina talvez não saiba ser silenciosa como a morte, então me apreço em avançar.

     A vibração pulsa para a esquerda e depois para a direita. Já me afastei dez metros da cidade. Se aquele era um portal básico, então a garota era bastante poderosa para conseguir ir tão longe em sua primeira vez. Paro de súbito em uma elevação mínima da floresta, uma delimitação de grama alta e seca à frente e farfalhos vindos de lá. A pulsação diminuiu. Não. Ela fugiu daquele barulho. Seja o que for, certamente não era a dona do kilion, e eu não queria descobrir o responsável pelos barulhos animalescos tão cedo.

     Com passos rápidos, saio do local, indo para o lado oposto. E a quentura estranha volta como uma forja acesa. Sinto que estou mais perto assim que avanço até uma das muitas árvores enormes. A pulsação para de novo. Me agacho e escuto o arredor, procurando sinal de outra vida que não a de Runna. Mas não vejo ou sinto nenhuma criatura, ou pelo menos, não uma com os olhos e o cheiro antigo de um Predador.

O ar escapa pelos meus pulmões quando eles entram no meu campo de visão. A pulsação vinda da minha mão parou, porque a encontrei. Encontrei Runna. Mas o que estava com ela poderia ser bem pior que qualquer criatura das sombras.

~ɪᴍᴘéʀɪᴏ ᴅᴇ ᴅᴇᴜꜱᴇꜱ ᴇ ᴍᴏɴꜱᴛʀᴏꜱ~Onde histórias criam vida. Descubra agora