Conto Da Insanidade.

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Dizem que insanidade é fazer uma mesma ação inúmeras vezes na espera de um resultado diferente, e mesmo que eu entenda o sentimento por trás disso eu sei por experiência que esta afirmação está errada. Neste exato momento eu estou subindo lances de escada de uma antiga torre que está abandonada e agora que eu estou preso aqui penso em o quão estranho era que um lugar como esse não havia alguém na vigia.
Não só isso, eu já tinha ouvido algumas lendas sobre esse lugar... Não que eu acreditava nessas coisas na hora, mas agora que eu acredito já é tarde demais.

Eu estava conversando com alguns amigos em um bar e logo apostas começaram a ser envolvidas nos nossos jogos, eu acabei sendo o azarado de acabar perdendo uma aposta e ter que vir parar neste maldito lugar além de ganhar cem reais para me encorajar a fazer isso. A posta é simples. Subir os 45 lances de escada e ligar uma lanterna no topo para provar que eu subi.
Ao entrar eu podia ver que o lugar está caindo aos pedaços e que ninguém teve coragem de cuidar desse lugar, o elevador parece estar quebrado já que as portas não abrem e os botões estão enterrados. Vamos de escada então, foi o que eu pensei.

O pior erro que eu já teria cometido em toda minha vida, e talvez a última.

Começou com dois lances de escada e uma parada em cada uma para verificar em volta e também testar o elevador novamente. Assim que aceitei que o elevador definitivamente não funcionaria eu suspirei e continuei a subir. Mais três lances de escadas. Foi quando percebi placas de metal com números dizendo o piso atual, eu tenho quase certeza que acabava aliviado por não precisar contar os pisos que logo eu subiria.

E lá foi eu subir e continuar subindo. Piso número quinze, dezesseis, dezessete, dezoito... Talvez isso demorasse um pouco, pensei enquanto recuperava o fôlego. Se ao menos o elevador funcionasse... Mas falando a verdade, por que esse lugar precisava de tantos andares?
Enfim, até agora nenhuma luz estranha, voz de criança estranha, fantasma ou demônio algum. Lenda sempre será isso afinal, apenas uma lenda.

Até que enfim o último lance de escadas e com isso o fim da primeira parte da aposta, a segunda sendo descer todos esses lances de escadas. Piso número quarenta e dois, número quarente e três, número quarenta e quatro... Número quarenta e quatro...
Eu encaro a placa de metal por poucos instantes até que por fim eu dou de ombros, pensando que eu tivesse simplesmente confundido os números e seguindo a subir as escadas.

Número quarenta e quatro, número quarenta e quatro. Eu não entendo. Quarenta e quatro. Eu decido esquecer essa aposta e desço dois lances de escadas. Quarenta e quatro. Desço mais cinco lances de escada. Quarenta e quatro. Desço mais quinze lances de escadas. Quarenta e quatro.

Quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro, quarenta e quatro.

E até agora estou preso nesse andar, nesse... Lugar! Agora eu entendo... Insanidade não é repetir a mesma ação inúmeras vezes na espera de um resultado diferente, mas sim refazer uma ação e saber que nada vai mudar. Cada porta, cada escada vai me levar para um mesmo andar, para a mesma placa. É perceber que você já não dorme mais, que eu já devo estar preso aqui a horas, dias, semanas! Quanto tempo até esquecer meu nome? Mateus. Mateus. Meu nome é Mateus! Alguém! Por favor! Me tirem daqui!

Tudo o que resta para mim é continuar descendo essas escadas e me deparar com a mesma placa de metal. Toda. Vez.

44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44. 44...

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