Minha para cuidar

O encontro

Laura

Eu deveria controlar a minha boca, se não em breve eu não conseguiria entrar em minhas roupas de ballet e muito menos ficar na ponta dos pés, ou até Pior, não conseguiria fazer minhas manobras no pole.
Deus me livre e guarde, eu nasci pra dançar e só a possibilidade de ser privada disso me deixa doidinha.
É por este motivo que penso em pedir somente um suco verde para o meu café da manhã, mas quando eu penso que não,  eu já tinha pedido um croissant de chocolate e um chocolate quente... ops, foi mais forte que eu, e olha uma vez só na semana não mata ninguém.
Dou graças ao céu pela genética que tenho, gosto muito de comer, e meus exercícios me ajudam a não engordar, mas ainda assim eu tomo cuidado para não extrapolar.
Fico pensando essas coisas distraidamente enquanto aguardo o meu pedido ficar pronto, a cafeteira está um pouco cheia e demora alguns minutos.. poxa, estou faminta, parece que tenho um buraco negro no estômago.
Estou parada enquanto observo o rapaz preparar o meu pedido e noto um homem alto fazendo seu pedido na fila.
- O de sempre, por favor. 
Ele diz.

Me pergunto como as pessoas conseguem comer a mesma coisa todos os dias,  sera que não enjoam?
Eu sinto a necessidade de experimentar coisas novas todos os dias para não cair na mesmisse.

De repente sinto um par de olhos me observando e parece ser justamente o homem que estou julgando em meus pensamentos, mas eu me recuso a olhá-lo para ter certeza. Só de pensar em ser observada por ele eu começo a corar. Será que ele pode ler mentes? O pensamento me faz querer rir, pois sei que é impossível.
Meu pedido ficou pronto e eu ainda me sinto sendo observada pelo homem, pego meu pedido para viagem e me apresso para sair da cafeteira.
O ar frio do inverno em São Paulo me atinge e meu corpo estremece, aí como eu amo esse clima, meu humor fica fantástico quando o tempo está assim.
Vou depressa até meu apartamento que fica próximo a cafeteira, para continuar minha busca por academias que precisem de professora de pole dance.
Começo a me sentir melancólica ao me lembrar do motivo pelo qual eu quero começar a dar aulas. Estou sozinha no mundo, meus pais faleceram em um acidente de carro quando ainda tinha 18 anos, e agora dois anos depois eu me vejo sem ninguém por perto.
Após a morte dos meus pais, meus avós me ajudaram a me estabelecer morando sozinha e em seguida foram embora para os EUA. Eles queriam ficar e cuidar de mim, mas a última coisa que eu queria era dar trabalho para eles, e nós precisávamos seguir em frente de maneiras diferentes, então ao invés de segurá-los aqui, eu incentivei a viagem deles. No começo foi difícil, mas com o tempo eu me acostumei e estou feliz por eles estarem realizando o sonho deles de morar no exterior. Recebo e-mails semanalmente de fotos de passeios incríveis que eles fazem por lá e isso aquece meu coração.
Seguimos em frente pois sabíamos que seria exatamente o que meus pais iriam querer.

Eu cresci dançando, dançar é a minha paixão, meu ponto de paz. Danço desde os meus 5 anos de idade e desde quando comecei o único período em que fiquei sem dançar foram durante os 6 meses em que fiquei de luto. Foram os piores meses da minha vida.

Agora, com 20 anos de idade eu sinto esse desejo de me conectar com outras mulheres, sinto esse desejo de ensinar o que eu sei. Já fazem alguns meses que eu procuro um lugar em que eu possa dar aulas, mas ainda não consegui encontrar.
Assim que eu chego no meu apartamento, pego meu notebook e me sento na ilha da cozinha, com meu café da manhã. Ligo o notebook e começo a minha pesquisa mais uma vez, já sem esperanças.
Paro de mastigar meu croissant por um momento, enquanto eu leio o anuncio:

Contratasse professora de pole dance para academia, demais tratativas e informações com Jéssica, entrar em contato com o número: 11 000162624.

Oh, uau

Meu coração está acelerado, mas tento me controlar e não criar expectativas.
Engulo meu croissant e entro em contato com o número do anúncio.

- Academia Atalia, bom dia, em que posso ajudar?

Nossa, que vozeirão, penso antes de responder.

- Olá, bom dia. Estou entrando em contato porque tenho interesse na vaga de professora de pole dance, vocês ainda estão contratando?

Houve um momento de silêncio

- A vaga ainda não foi preenchida, teremos um processo seletivo hoje as 14h da tarde, se você tiver interesse você pode me passar seu e-mail agora e eu te encaminho as informações por lá.

- Oh, parece ótimo.

Passei meu e-mail e em poucos minutos eu já havia recebido todas as informações de onde seria o processo seletivo, fiquei feliz em ver era na academia de luxo que ficava próximo ao meu apartamento. Teria bastante tempo para me preparar até lá.