Regra número 1: Nunca namorar alguém que quebra coisas, a próxima "coisa" pode ser você.
Tudo era insuportável. A sirene lá fora. Os gritos. A dor. Como fora chegar ali? Ela não se lembra. É difícil se lembrar quando seu marido lhe bateu tanto que seus ouvidos zunem. Quando há pessoas te tocando e perguntando se você está bem. Aos poucos a visão para de ser turva. Os ouvidos param de zunir. Tudo está claro, mesmo sendo noite. Tudo acabou, finalmente acabou.
"Ah" ela pensa. "Ah. Acabou".
O choro vem. Ela olha para o lado, lágrimas caindo e olhar vazio. Agatha está lá. Bom, muito bom.
- Acabou.
E tudo Escurece.
Há flashs, ela percebe. Quanto tempo havia passado? Estava tudo confuso. Mas há flashs. Memórias, provável. Primeira boneca. Papai e mamãe brigando. Risadas, ela que está rindo? Não, estão rindo dela. Alguém a defendendo. Agatha. Seu primeiro beijo. Primeiro amor. Cair da escada. Mentir sobre machucados. Brigar feio com Ben. Hospital. Mentir. Mentir. Mentir.
Ela acorda. Percebe que o quarto branco não é o de sua casa, é o hospital. Há fios ligando ela a máquinas e bolsas penduradas. Um pequeno sorriso, Agatha está ali, dormindo, segurando sua mão, cabeça encostada em sua perna esquerda. Seus olhos estão vermelhos e inchados.
Primeiro beijo. Primeiro amor.
- Ei. Ei eu estou aqui. - Sua voz está rouca, como se ela não falasse há semanas. Talvez faça semanas. Está noite.
Agatha acorda. Olha para ela, parece chocada, seus olhos se carregam com lágrimas. O choro vem, mas ela está sorrindo, esse sorriso. Como sentiu falta desse sorriso.
- Ophelia, achei que havia te perdido para sempre dessa vez.
Dessa vez. Ela se lembra, houve outras.
- Não vai se livrar tão fácil de mim senhorita Prescott.
Sorriso fraco, rosto molhado e agulhas pinicando.
- E nem pretendo, senhorita Sinclair.
Um beijo na testa e um coração partido aquecido.
- Melhor chamar o médico, você está apagada há 3 semanas.
- 3 semanas? - Um susurro.
As próximas horas são passadas devagar, milhares de exames, milhares de perguntas, a polícia aparece em algum momento. Ela pergunta de Ben, não iria fazer a queixa, afinal, era culpa dela. Não, eles a informaram, não é possível fazer uma queixa contra Ben. Por quê? Ela pergunta. Ele reagiu a prisão. Estava agressivo. Foi para cima de um policial. Três tiros no peito. Não resistiu.
Já amanheceu, ela percebe. Já amanheceu, e ela se culpa. Pela morte do marido. Pela sensação de alívio. Alívio errado. Que tipo de pessoa ela era? Do tipo que ficava aliviada quando o marido morre, aparentemente.
Mais horas se passam. Mais exames. Enfiam tantas agulhas nela que está tonta, os braços inchados e vermelhos. Os médicos não entendem. As últimas 2 semanas que se passaram ela estava estável, a primeira foi crítica, com ela passando por várias cirurgias. Costelas quebradas. Braço esquerdo partido em vários lugares. Líquidos nos pulmões. Uma concusão feia na cabeça. Hemorrogia interna. Convulsões. E derrepente, nada. Tudo estável. Era para ela ter acordado. Ainda em coma.
Até ontem a noite. Tudo voltou com força, os médicos mal conseguiram estabiliza-la. E então, ela acorda. Acorda, e de novo, está tudo bem, como se nada tivesse acontecido.
Os dias seguintes se passam mais rápido. Agatha está sempre ali por Ophelia. Nunca sai do quarto, sempre conversando sobre tudo. Tudo menos aquilo e aquilo.
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Por quê Ophelia Sinclair morreu?
Short StoryUm conto ultra romântico que conta a história de Ophelia Sinclair, ou melhor, a breve história do final da vida de Ophelia. Escrevi essa história para um trabalho de português, mas gostei tanto da minha ideia que resolvi adaptar algumas partes e po...