Chá de camomila

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Wendy abriu os olhos devagarzinho e sentou-se, esfregando a nuca meio dolorida - esse era o preço que pagava por dormir sobre seus livros. Levou a mão a bochecha, descolando dali uma folha que havia se rasgado ao levantar a cabeça. Riu de si mesma, imaginando como deveria estar sua aparência. Se ele estivesse aqui, certamente estaria rindo também.

Suspirou e puxou as cortinas brancas para o lado, temendo que a claridão que entrava pela janela todas as manhãs já estivesse ali, porém ela ainda não estava e a garota não sabia se deveria ficar feliz ou triste com isso. Pegou seu celular e checou o horário, já passava da meia-noite.

Era mais uma daquelas madrugadas em que ela ficava mais tempo acordada que dormindo, olhando o enorme espaço vazio ao seu lado e se perguntando: "Será que ele está pensando em mim agora?".

Estar apaixonada é uma verdadeira droga.

Levantou da cadeira, esfregando as costas doloridas. Passar tanto tempo inclinada sobre os livros a castigava vez ou outra. Não deveria se sobrecarregar tanto com os estudos, mas o que mais podia fazer para se distrair?

Calçou os chinelos e foi em direção a cozinha, tomada por uma enorme vontade de tomar chá de camomila - vontade que Stan tinha nas noites de insônia. A saudade fazia Wendy querer tomar os costumes dele como seus. Com esse pensamento em mente, colocou a água para ferver e esperou até vê-la borbulhar.

Realmente, ela nem se lembrava mais do motivo desta vez. E olha que, geralmente, estava sempre certa. Era sempre assim: ele era o errado da história. Isso porque não prestava atenção, era imaturo, e ás vezes muito cínico.

Mas, será que, desta vez e somente desta vez, os papéis haviam se invertido?

Wendy alisou a camisa que compunha seu look desleixado. Era uma camisa enorme com o brasão do Denver Broncos que cheirava à perfume masculino barato, exatamente como o dono.

Ela sentou no sofá da sala bebendo o chá. Queimou a língua. Ficou olhando fixamente para o celular, na esperança de que da casa dele, ele ouvisse seus pensamentos e ligasse.

Ela esperou.

Esperou.

O chá esfriou.

Ela o ligou.

Ficou ouvindo a respiração do outro lado da linha por alguns segundos, esperando ele falar alguma coisa. Óbvio que ele deveria estar, no mínimo, chocado, visto que Wendy nunca ligava. Era sempre ao contrário. Stan era quem chorava, agarrava-se aos pés dela e implorava por perdão, exagerado.

Wendy tomou a iniciativa porque o queria o mais próximo o possível, queria pedir desculpas e escutá-las de volta, da forma dele, é claro. Queria ouvir suas declarações mais bregas e retribuí-las na mesma intensidade. Queria ouvi-lo a chamar de baby e fazer uma careta só para ele rir e lhe dar um beijo leve.

Mas Stan ficou em silêncio.

— Me desculpa, — Wendy disse — eu sei que falei demais, falei o que não gostaria de ouvir alguém falar pra mim, falei pra magoar e falei da boca pra fora. Eu amo você e nem acredito que estou tomando chá de camomila com a sua camisa pra fingir sua presença comigo. Percebi que eu já não sei mais viver sem você, sem a sua mania de passar a mão no cabelo, estalar a língua quando está indeciso e beliscar a ponta do nariz quando está desapontado.

O silêncio ainda pairava do outro lado da linha, ainda que, com muita atenção, fosse possível escutar batimentos cardíacos acelerados.

Wendy respirou fundo e continuou:

— Eu sei, eu sei — disse, como se já soubesse exatamente o que ele estava pensando — Eu nunca peço desculpas primeiro, mas minha avó sempre dizia que nenhuma boa decisão era tomada antes da meia-noite e bom... — espremeu os olhos, tentando enxergar os números no relógio digital ao lado da TV — acho que ela 'tava certa. A noite fica mais longa sem você, Stan. Fica faltando algo nessa casa e no meu coração também.

Para seu alívio, ele disse:

— Me desculpa, baby? — havia um tom divertido em sua voz. Wendy sorriu ao ouvir o apelido. — Wendy, você pode me fazer um favor?

— Você sabe que eu o havia desculpado no segundo que te liguei — sussurrou sentindo seus olhos pesarem. — Qualquer coisa.

— Abre a porta que 'tá muito frio aqui fora.

Depois da meia-noite | Stendy!Onde histórias criam vida. Descubra agora