a verdade é que te ver atravessando a rua me fez pensar em como nossos caminhos seguiram tão opostos
lembro-me que ao saber que te veria, meus olhos ficavam maiores do que já são, a laranja ficava doce e eu torcia para os físicos estarem errados sobre a teoria de que nós nunca tocamos nada de fato
como dizer a eles que você ultrapassou minha carne?
como dizer a eles que você tocou meu futuro, me tocou há daqui 5 anos?
físicos não sabem nada sobre amor
mas tudo bem, eu também não
não entendo meu desejo de amar teus olhos, tua boca e tuas palavras
não entendo a vontade de te ouvir por 90 anos
não entendo a vontade de te entregar todos os meus átomos
torço para que aquele senhor da mercearia perto do campo torto tenha esquecido meu rosto porque se ouço falarem de você é como se eu deixasse de existir
não fui mais ao brechó, não olho as prateleiras no supermercado e pouco me importa se as xícaras combinam com os pratos
meu caminho é cego, queria teus olhos
me diga, se nada sabemos sobre buracos negros o que posso dizer do buraco em meu peito?
será que pensa em mim quando vê alguém tomando sorvete de chiclete?
não entendo porquê você atravessou a rua
os físicos não me avisaram sobre essa dor que é maior do que tudo que se move na Terra