Dezembro, 2022.
Camille
Faz exatamente um dia que eu tive alta no hospital.
E desde que eu cheguei em casa, mais especificamente na casa dos meus avós onde eu fui obrigada a ficar até eu me recuperar por completo, eu não sai da cama. Apesar da minha permanência no hospital ter sido curta, parece que eu ainda não sai de lá. Pouquíssimas pessoas sabiam sobre o que aconteceu comigo, pouquíssimas. Somente Bruna, Marcelo e meus avós sabiam. Vovó queria ligar imediatamente para o meu pai e contar o ocorrido. É claro que eu não deixei. Só contaria quando eu estivesse em casa, porque eu tinha esperanças que só depois de estar em casa, eu poderia assimilar melhor o que houve comigo.
Falhei miseravelmente.
Agora que estou em casa, não consigo raciocinar direito. Não consigo me concentrar. Não consigo ter vontade de comer. Não consigo ter vontade de viver.
Saber que havia algo dentro de mim, que saiu violentamente como uma espécie de bolha de sangue entre as minhas pernas, é algo que não entra na minha cabeça.
"Não se preocupe, você é jovem e saudável. Terá outras oportunidades para engravidar. O feto, digo, o bebê, só tinha duas semanas. Não havia formação suficiente ainda."
Disse um médico. Um homem. Um médico homem.
Você é jovem.
Você é saudável.
Você pode engravidar de novo.
Você perdeu um bebê.
Você tirou a capacidade de alguém viver.
Eu sempre procurei ser uma mulher resolvida nesse assunto. Sempre acreditei que, se você não se sente capaz por vários motivos plausíveis de criar uma criança, de ser responsável por alguém, isso é unicamente uma escolha sua. Mulheres devem e precisam ter a sua escolha. Sei também, que a culpa não é minha. Foi uma fatalidade. Eu não sabia da gravidez, eu fui atropelada.
Porém, na teoria é muito mais fácil.
Tudo na teoria parece ser mais fácil. No entanto, a realidade é cruel. E eu estar me sentindo uma assassina incapaz de segurar uma criança na minha barriga, reflete bem a realidade de uma mulher. E veja bem, eu nem consigo chegar uma conclusão se eu realmente queria ter esse filho. Por que eu me sinto tão culpada?
Depois de ensaiar umas dez vezes um discurso para falar com o meu pai, assim que eu disco o seu número e ele me atende no segundo toque, eu começo a chorar descontroladamente ao ouvir a sua voz.
Ele, coitado, desesperado do outro lado da linha me pergunta repetitivamente o que aconteceu. Eu começo a falar "fui atropelada, mas já estou de alta e em casa" e ele simplesmente cospe um "vou fretar um avião e vou estar aí até amanhã"
E desligou.
E eu surtei. Surtei completamente. Só não surtei mais um pouco porque Marcelo e Bruna ficaram do meu lado, me dando força.
Meu pai não estava mentindo quando falou que estaria aqui no dia seguinte. Quando eu abri meus olhos na manhã seguinte, o encontrei sentado na beira da cama me observando como se eu fosse um cristal prestes a quebrar. Seu olhar de pena, me invadiu por completo. Não hesitei em me levantar, praticamente pulando na sua direção para abraça-lo forte.
— Ah, minha querida. – meu pai me aperta contra ele, antes de segurar meus ombros desfazendo o nosso abraço para me observar. Seus olhos demoraram um pouco mais sob os hematomas que havia nos meus braços e pernas. — O que aconteceu com você, Cami? Você me deixou tão preocupado! – ele volta a me apertar contra ele, de novo.
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POR TODA MINHA VIDA | Charles Leclerc & Mason Mount
FanfictionCONTINUAÇÃO DE 'A PRIMEIRA VISTA' SE VOCÊ AINDA NÃO LEU O PRIMEIRO LIVRO, SUGIRO QUE LEIA ANTES DE PROSSEGUIR COM ESSA LEITURA. Depois de sair do anonimato, tudo mudou na vida de Camille Wolff. A jovem primogênita de Toto Wolff tinha apenas um plan...