XX: Novidade em Magris

15 5 3
                                    

Agze bateu novamente na porta da solteirona, mas desta vez foi melhor recebido.

— Por aqui. — guiou pelo corredor e indicou o seu quarto. — Já não tem nada na base, já que o fundo se rompeu. 

— Mas os cabides estão cheios. — apontou. 

— Sim, mas pensei que não fosse um problema. — franziu. 

— E como trabalho com uma pilha de vestidos roçando na minha cabeça?

A mulher concordou contrariada e começou a retirar os cabides e jogou em cima da cama. 

— Com o peso de tantos vestidos, a cama vai ser a próxima a quebrar. — zombou e abriu a caixa de ferramentas. — Parece ter uma loja aqui dentro. 

— São muitos anos de vestidos. 

— Vejo que sim. — se abaixou. 

Ela se sentou na poltrona do quarto e ficou olhando-o. 

— Não precisa ficar me vigiando. — sorriu de lado sem lhe olhar. 

— É melhor prevenir do que remediar. 

— E vai ficar aí parada esperando que eu roube vestidos? 

— Não roubará vestidos, mas...

— Quem sabe, talvez eu fique bonito. — zombou. 

— Não creio que seja prudente e muito menos que caiba em algum deles. — desdenhou. 

— Eu sou magro o suficiente, mesmo que a senhora precise que um pouco de carne a mais. — riu. 

— A minha saúde está perfeita, obrigada. — cruzou os braços amuada com o comentário. Tinha espelho, sabia que era magra em excesso, ao menos o blush disfarçava a magreza de seu rosto.

Ele concordava com a cabeça. Um ruído cortava o silêncio e ele começava a martelar a madeira do fundo do armário. 

Silvana ia buscar um livro para se distrair e voltava a se sentar. Buscava um copo de água a pedido e voltava depois de comer um bolo. 

— Vim trazer o copo. — mostrou. — Já sabia o caminho, porém confesso estar magoado de não me oferecer bolo. 

— O senhor veio trabalhar e não se aproveitar da bondade alheia. — pigarreou.

— A isto daria até o nome de educação. — sibilou. 

— O senhor quer um pedaço de bolo? — resmungou e revirou os olhos.

— Eu aceito, óbvio. — puxou a cadeira e deixou a caixa de ferramentas em cima da mesa. 

— Eu coloco num prato e o senhor come na vossa casa. 

Ele sorriu e puxou o prato dela. 

— Não vai me servir? — a olhou no fundo dos olhos e viu a mulher desconcertada. — Eu me sirvo. Para ir embora de barriga cheia. 

— O senhor é muito abusado. — reclamou e cruzou os braços.

— E a senhora é amarga, cada um tem seus defeitos. — atestou, mordendo o bolo. 

— Eu... — se preparava para discutir, mas não o fazia. — Eu vou buscar seu dinheiro. 

— Sim, senhora. 

Ele mastigava com vontade e se servia do refresco que estava em cima da mesa. 

A olhou ir até ele e estendeu as notas. Ele a olhou não convencido. 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora