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Os dias se arrastavam lentamente para tristeza de Helena, que estava cada vez mais entediada por ficar em casa, ainda mais sem a presença do marido e do filho. Téo havia lhe pedido para levar Lucas na viagem que faria com Salete e Laura para Minas Gerais. Ele iria conhecer a família da namorada e pedi-la em casamento. E é claro, que tudo foi resolvido por telefone. Não era o momento dela ficar frente a frente com o ex-marido, ainda mais depois de tudo o que aconteceu. Helena era forte, destemida e muito nobre. Mas também era geniosa, e para não prejudicar a gestação que já se completava quatorze semanas, César aconselhou que eles se falassem somente pelo telefone. E com a viagem repentina de Laura, todas as cirurgias eletivas e as de emergências estavam sob o comando de César novamente. Que a cada dia aparentava estar mais exausto. Os dias intensos de trabalhos e noites mal dormidas por causa dos plantões estava o deixando irritado.

A quarta-feira amanheceu ensolarada, não haviam nuvens no céu, tão pouco sinais de que algo o encobriria. Como o obstetra Alberto Rezende havia previsto, os enjoos matinais começariam a dar trégua no final do primeiro trimestre da gestação. Helena se levantou bem disposta, pronta para receber tudo o que aquele dia lhe ofertasse. Há algumas semanas atrás, ela tinha feito todos os exames solicitados pelo seu médico, e tudo estava indo muito bem, com ela e com os bebês.

César estava no banheiro finalizando o banho, enquanto Helena acabava de se maquiar em frente ao espelho da penteadeira em seu quarto. Assim que ele adentrou ao quarto, notou que ela estava pensativa, o olhar antes tão intenso e forte, parecia distante e opaco. Alguma coisa naquele momento atormentava seus pensamentos, e nem ela entendia o porquê. Havia acordado tão bem, e de repente uma sensação ruim pairou sobre seu corpo. Ele desconfiava do porque ela estar assim. Há dias não se amavam, não por opção e sim por conta dos desencontros. O momento em que podiam contemplar a presença um do outro, era no café da manhã e no almoço, porque ele fazia questão de almoçar em casa junto da família. E quando chegava em casa, as vezes no final da noite, ou de madrugada, Helena já estava dormindo. E mesmo ela insistindo para que ele lhe acordasse, ele não tinha forças, simplesmente caia na cama e apagava. Laura não poderia ter escolhido momento pior para se afastar, ainda mais com a escassez de profissionais no setor de neurologia, com a saída de Luciana e as férias do primeiro assistente de Laura, só sobraram Tereza, doutora Érika e doutora Elaine. Que por sinal, o ajudavam quando percebiam que Tereza estava pronta para dar o bote, porém ele não havia contado a esposa sobre esse detalhe.

Helena permanecia olhando seu reflexo através do espelho, estava mergulhada em seus pensamentos. César se aproximou com cautela, não queria assustá-la e, não deixou que nenhum ruído estragasse a surpresa de sua chegada. Ele lhe abraçou por trás enlaçando os braços em volta do corpo amado, parando as mãos sobre o ventre que a cada dia distendia mais para melhor acolher os bebês, podendo sentir o cheiro bom e familiar que exalava da pele da amada, sentiu-se saudoso, sentia falta do efeito que Helena exercia sobre ele, dos beijos quentes, dos momentos em que se amavam com intensidade. E ela, tendo o corpo dele tão próximo, o aroma agradável do marido, sentiu o corpo se arrepiar com o contato forte e quente de suas mãos, e a resposta foi dita assim que ela se virou ficando de frente para ele. Nos lábios ela tinha um sorriso curto, mas o olhar era tão penetrante que além de ascender o fogo no coração dele, o deixava de pernas bambas.

Olhando alternadamente entre a boca e os olhos dela, ele a beijou. Em nenhum momento rompeu o contato com aquele corpo tão amado, e quando o encontro dos lábios precisava ser interrompido, ele logo tratou de acariciar as tão desejosas curvas daquele corpo com volúpia, mas logo a sua boca buscava mais uma vez pelo desfruto daquele sabor. Mais uma vez, ele segurou em seu rosto fazendo com seus olhos se encontrassem.

César: Eu sinto tanto a sua falta... tanto. Disse intercalando as palavras com beijos que depositava na maciez da pele amada.

Helena: Eu também!

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