capítulo-1

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Um dia bem quente na cidade fria que é Seul, todos fazendo o seu trajeto de rotina, uns indo para o trabalho, alunos indo para escola, havia posteres nos prédios indicando shows de idols ou anunciando novos grupos de k-pop ou até novas empresas e anúncios sobre moda.

E uma manifestação parando tudo em umas das cidades mais famosa da Coreia.

                                                                                Lisa /pov


8:45 da manhã.

 Meu alarme tocava pela terceira vez enquanto eu me revirava na cama enrolando para me levantar, suspirei tirando meu tapa olhos mas continuei de olhos fechados tentando acordar fisicamente e espiritualmente bem.

- Ah, que horas são? - falo levantando a cabeça do travesseiro pegando meu celular em mãos me assustando com o horário - Merda! - me levanto da cama rapidamente indo direto para o banheiro me banhar e me preparar para ir a escola. 

Depois de um banho rápido desci correndo do meu quarto indo até a sala de estar  pegando uma maçã na mesa do café da manhã para enganar meu estômago , peço S.r Park meu motorista para me deixar na escola só para disfarçar que iria matar aula. Tudo que eu faço o motorista ou qualquer funcionário da casa conta para os meus pais, parece até um acordo de conspiração contra mim.

Assim que cheguei na escola, esperei o senhor Park ir embora fui entrando para não deixar meus amigos esperando, vou até o patio a procura de alguns colegas e encontro alguns separados em grupos agitados.

- E aí gente prontos? Vocês trouxeram tudo? - pergunto para os meus colegas da roda, meus amigos Lucas e o Matheus que estavam ali também, os dois são irmãos gêmeos, o nome deles são diferente por conta que são brasileiros que se mudaram para Seul ha quatro anos.

Os dois tem cabelo afro, a cor de pele deles é fascinante um  isso que me encantou a diversidade deles, eu vivia trancada na minha casa e não tinha convivência com pessoas de fora a não ser as minhas babás, na coreia é bem raro encontrar pessoas assim e quando se encontram ou são turistas ou não são coreanos ou são coreanos cuja são de descendência mestiças.

Nos conhecemos na escola mesmo, eu estava jogando bola no campo sozinha, não tem times de futebol femininos na minha escola e nenhum garoto se aproxima de mim por eu ser "agressiva" e agir como um garoto, eles me chamam de tudo qualquer coisa homofóbica que existe. Os garotos coreanos da minha escola não passam de pervertidos então não vejo necessidade de aproximação e também não quero dar entrada para mais boatos sobre mim nessa escola, boatos que não existem aliás.

Então eu conheci os gêmeos de uma forma aleatória , eles me avistaram sozinha na quadra de esportes e entraram me pedindo para jogar, já que eu estava sozinha e eles também, eles me explicaram que eram alunos novos e eram excluídos de coisas legais por outros alunos por serem "diferentes", isso mexeu comigo por que eu sabia o motivo disso, logo cedi e depois disso e outros acontecimentos viramos colegas e disso amigos.

...

- Sim, trouxemos! - Lucas fala entregando uma máscara para mim e algumas bombas de fumaça.

- Gente eu não sei se isso vai dar certo... sei lá, as coisas na coreia são diferentes, aqui é um país muito reservado qualquer movimentação indesejada e que chame a atenção pode ser um risco, não sei se vai valer a pena - sugeriu Matheus com o pé atrás.

- Ei claro que não. - dei um tapa na testa do garoto - claro que vai! essa manifestação vai tirar a venda que tampa os olhos das pessoas daqui em Seul que acha que o processo de imigração tem que ser cortado da Coreia por questão de "segurança do país". - falo fazendo aspas com os dedos - você e o seu irmão passaram por uma barra para conseguir se mudar para a Coreia, fora o preconceito que sofrem até hoje por serem estrangeiros e negros, vocês deveria ter tido mais suporte e não largados de lado.

- E também ninguém tem que fazer o processo de imigração ilegalmente e sendo pegos pela polícia sendo presos e ficar encarcerado com fome e sede só por querer uma vida melhor em outro país, sabe quantas crianças são separadas de suas famílias e mandadas para outros países?!, nem todo mundo teve a mesma sorte que a gente - Lucas fala dando um leve tapa na cabeça do seu gêmeo, completando a minha fala.

- Ta bom, tudo bem mas agora parem de bater em mim ta bom? obrigado. - o mesmo fala arrumando seu uniforme - e como vamos sair da escola sem sermos vistos ou pegos?

- A isso é fácil é só pular o muro atrás da escola que da na rua de trás onde tem o ponto de ônibus, o ônibus que passa na ponte da manifestação passa lá - falo como se fosse óbvio dando de ombros - vem comigo vocês dois, o resto vem nos perseguindo discretamente até por que o coordenador vai estranhar todo mundo junto indo numa direção só, vamos encontrar mais pessoas que já estão lá fora atrás do muro que vão com a gente e depois levá-los para lá também, atrás da escola não tem câmera vai dar para pular sem se preocupar.

Conduzo eles até o lugar, desviando dos coordenadores da escola que aparentavam estar desconfiados, encontrei mais gente que vai participar da manifestação, fiz um sinal com a cabeça para me seguirem, chegando perto do local aonde tinha o muro, cada um ajudou os outros a pularem dando apoio com a mãos e passando os pertences das pessoas pelo muro, por ultimo ficou a mim, mas tinha um latão de lixo ali encostado na parede que eu o arrastei para me ajudar a passar pelo muro com menos dificuldade joguei minhas coisas por cima do muro e logo após  subi em cima do latão pegando impulso para pular para o outro lado.

Depois que eu havia conseguido pular o muro, pegamos o ônibus até a ponte em Seul indo até no centro da cidade, os passageiros claro nos olhavam em desprezo mas quem liga? depois de alguns minutos de viagem o ônibus conseguiu adentrar a ponte mas parou por não conseguir ir muito longe por que estava tudo parado por conta da manifestação que já estava acontecendo, então descemos do ônibus e fomos andando até chegar lá já que não estava muito longe.

Assim que chegamos próximo a manifestação, paramos para colocarmos os nossos trajes e prepararmos as bombas de fumaça e cartazes, colocamos nossas coisas em cima de carros alheios. Quando acabamos nós nos juntamos a multidão, posso sentir meus olhos brilharem ao ver todo mundo junto lutando por uma causa justa e limpa, até por que ninguém deveria ser privado de querer mudar de país para ter uma condição melhor de vida e um trabalho melhor, essa movimentação toda me deixa eufórica, as pessoas gritando xingando o presidente e seus deputados, todos tinham a cara pintada com as cores de outros países, até mesmo coreanos estavam no meio daquilo tudo, ali gritando e se manifestando e demonstrando seu ódio pela desigualdade. Eu corri na direção da multidão se juntando naquela bagunça toda, com a mão erguida com o pulso fechado e gritava junto com todo aquela gente.

Me sentia muito feliz com aquilo tudo, poder fazer algo sem ser cobrada por perfeição, até porque, ninguém vai me reconhecer aqui no meio de tanta gente, ainda mais com a máscara no rosto e cheia de tinta e com um cartaz enorme em minhas mãos, bom é o que eu espero.

Matheus está ao meu lado com a bandeira do Brasil erguida com uma frase em português a qual não sei discernir, Lucas está um pouco mais longe com o mesmo cartaz do seu irmão, gritávamos muito, alguns ali cantavam o hino de seus países natais outros estavam chorando pela emoção pela causa.

meu cartaz tinha todas as bandeiras desenhadas com uma frase escrita no meio : " O sistema é pago para matar", havia e tem muitos repórteres por aqui gravando tudo e também, uma helicóptero sobrevoava sobre nós.

Hoje é o dia que tenho certeza que nunca vou me esquecer.

Por acaso nósOnde histórias criam vida. Descubra agora