1. Sombras do amanhã.

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  - Transformo a noite em minha, vivo pela poesia e a dramatização que existe escondida em todo o canto. Peço a vocês humildes camponeses que me escutem pelo menos uma ultima vez, antes que minha voz se silencie, sentem-se e escutem a história...

  A taverna está cheia, todos a observam dizer essas frases robuscadas e contos épicos, por mais que eles não passem de falácias. Não sou eu quem digo isso, Willa, a própria contadora dessas histórias acredita nisso, mas ela diz ter uma sede pela narrativa a qual ninguém nunca teve e sinceramente as vezes penso que ela é um tanto quanto hipócrita e errônea em seus pensamentos, já que ela se tornou a maior contadora de Talav.

  E a princípio, meu nome é Jorreyne Laratov, fiel amigo e escudeiro de Willa Nostrofamus, a Maga Barda de Talasoivier.

  Nós estamos na Taverna dos Confins, ela é rústica, possivelmente existe a mais de 500 anos, seu dono sendo um Elfo justifica esse fenômeno. A taverna está silenciosa apenas reagindo as histórias e os mitos contados, até que finalmente ela chega em um ápice épico e de repente a barda diz:

  - Mas isso tudo é um conto menor ligado a algo maior, protejo essa história com carinho e a dito de forma fervorosa, porém a digo lentamente para apreciarem cada momento como um bom vinho envelhecido, mas por agora, meu nome é Willa Nostrofamus e agradeço por serem uma plateia tão entusiasmada e comovida.

  Ela se curva e em delírio a plateia a recebe com aplausos e assovios. Willa desce do palco em um giro para as pequenas escadas, a barda caminha cumprimentando conhecidos e fãs que a aplaudem até a barda sentar na minha mesa, várias pessoas ainda ficam ao redor perguntando algumas coisas e pedindo autógrafos, mas após alguns minutos o bar volta a sua atmosfera comum.

  Com ela sentada em minha frente batendo um lápis na cabeça eu a pergunto:

  - O que achou da noite?

  - A plateia é quase a mesma de sempre, se impressionando com pequenas amostras de poder e ousadia, mas o ambiente compensa, é fresco e vende uma boa cerveja, os donos são gentis e pagam metade antes e metade depois, então é ótimo.

  - Quantas moedas dessa vez?

  - vinte de consumação e cinquenta do show, toma.

  Ela me joga uma pequena bolsinha de dinheiro com o meu pagamento, as típicas vinte e cinco moedas que ela insiste em me pagar mesmo eu dizendo que sou apenas um amigo que adora observar o show e acompanhar Willa em suas aventuras arriscadas por contos antigos ou escrituras clássicas perdidas em masmorras históricas. Ela respira fundo e diz:

  - Jor, você sabe que tudo isso que fazemos tem um propósito maior, certo?

  - Sei, mas você sabe que eu sei disso, então porque a pergunta?

  - As vezes me sinto incomodada por te carregar comigo, essa vontade é minha, esse é o meu propósito, e não quero te arrastar para lugares claramente perigosos e tavernas duvidosas, me preocupo com você.

  Ela abaixa a cabeça olhando inquieta para a folha enquanto apoia seu rosto em sua mão fechada, a garota da a intenção de morder as dobras dos dedos, eu seguro sua mão e digo:

  - Vila, ta tudo bem, você sabe que eu me preocupo com você e essa sua cabeça viajante, eu quero ser a pessoa que te põe no chão e te ajuda nos momentos dos seus piores devaneios. Como prometemos antes, certo?

  Ela com um rosto triste abre um pequeno sorriso de canto de boca e diz:

  - Como prometemos Jor, e você sabe que eu odeio quando me chama assim é Willa, W I L L A, Willa, não é difícil!

  - Eu sei que odeia, é por isso que te chamo assim, prefiro te ver brava do que triste.

  - Um dia ainda te largo jogado numa taverna.

  Sinto uma leve dor de cabeça, mas eu rio da cara dela e ela diz:

  - Então aprendeu a evitar magia é?

  - Sabe que eu te agradeço por isso.

  - Sei sim, o que seria de você sem mim? Agora vamos, temos um lugar para irmos antes de descansar.

  Concordo com a cabeça e levantamos para sair da taverna, Willa vai se despedindo de todos e fazendo sua propaganda enquanto eu vou afastando bêbados e pessoas mal intencionadas de perto dela.

  Para fora da taverna a cidade é bem iluminada, o chão é feito de ladrilho de pedras escuras e onde não há passagem há vegetação e arvores, como estamos no bairro de classe media-alta, existem vários prédios para diversas funções, docerias famosas, restaurantes chiques, barbeiros da alta classe e claro alfaiatarias de primeira linha. Willa tem muitos contatos por aqui, mas aparentemente vamos conversar com a pessoa mais excêntrica de Palato.

  A entrada da Alfaiataria Meia-Noite é silenciosa, obscura e quase não da para reparar que é uma loja, as janelas são fechadas por cortinas e encravado ao redor do olho mágico da porta, há uma lua minguante. Willa bate três vezes na porta, chuta o rodapé da parede a esquerda duas vezes e diz:

  - Lua de hoje.

  Do outro lado da porta uma pergunta em voz fraca:

  - Sombras do amanhã?

  Willa com curiosidade responde:

  - Sonhos do passado.

  Um sino toca lá dentro, da porta barulhos de mecanismos girando e travas se soltando são ouvidos. Quando finalmente há silêncio, a porta se abre revelando um homem curvado que passa pela porta abaixado e se levanta do lado de fora, tendo cerca de três metros de altura, Traus se curva para Willa e diz:

  - Como posso ajuda-la hoje, senhorita?

Servo da meia noite: Mais um conto de Willa.Onde histórias criam vida. Descubra agora