Dois - Um novo mundo para explorar

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A noite se aproximava e as luzes ofuscantes da cidade começavam a aparecer. Youngjae encontrava-se em uma situação um pouco constrangedora, já que seu rosto estava colado no vidro do táxi e não conseguia parar de tirar fotos. Das pessoas na rua, dos prédios enormes, do céu meio estrelado, dos automóveis luxuosos ou diferentes. Tudo era novidade perante seus olhos.

O taxista pigarreou e o moreno sentiu seu rosto esquentar; estava parecendo um caipira de outro mundo. Jogou algumas notas para o homem e apressou-se em retirar as malas, podendo entrar em seu novo lar. Novamente, pisou no hall com o pé direito e o coração acelerado.

Parou para observar a grande área, onde um conjunto de sofás estampados jazia, assim como vários arranjos florais e um tapete felpudo vermelho. Eram muitas cores para seus olhos, entretanto achava bonito e refinado.

Procurou por um porteiro ou balconista, não encontrando ninguém. Deu de ombros, não perdendo a animação. Tentou abrir a porta de vidro que o separava do elevador, sem sucesso.

— Insira seu código. — Escutou o som vindo do teto, ecoando por todo o hall. — Por favor, insira seu código.

Meio desesperado para achar o dono da voz, deu uma volta no próprio eixo e vasculhou o minúsculo balcão, ainda não encontrando alguém.

— Insira seu código. — Repetiu não demonstrando qualquer emoção, nem de impaciência ou de raiva.

— Com licença... — Sentiu uma mão pequena cutucar seu ombro, tentando chamar atenção. — O senhor é novo por aqui?

— Er... Eu... Eu cheguei hoje. — Cuspiu de uma vez, atrapalhando-se em algumas palavras. Riu nervoso, passando as mãos atrás da cabeça; não sabia como iria arranjar a tão sonhada esposa se não tinha muito jeito com mulheres.

— Entendo. Cada morador tem um tipo de senha, geralmente somos nós que escolhemos, mas como você não era daqui, deve estar com a senha do antigo proprietário. Esse sistema é realmente impressionante, nenhum prédio por essa região tem. O que me espanta, já que estamos em Seoul. Oras, a "grande" Seul. Nunca me pareceu diferente. Moro aqui desde que nasci e... — A coreana continuou a falar, falar e falar, fazendo com que o som não penetrasse mais nos ouvidos de Youngjae e apenas palavras desconexas e frases soltas rondassem sua mente. Meio atordoado, assentiu, querendo se livrar logo daquela falação. Abanou a mão livre em agradecimento e jogou-se no sofá, tentando entrar em contato com a corretora.

...

Youngjae abriu a porta do elevador, querendo voltar no mesmo instante. O que era aquilo?

Seu único vizinho era um verdadeiro porco e descuidado. Toda a beleza do corredor, mostrada nas fotos, não estava ali; parecia um mundo paralelo. As paredes pintadas em um tom bege claro estavam cobertas por quadros de artistas desconhecidos ou paisagens abstratas; o piso, lotado de coisas inúteis e que, provavelmente, não cabiam no outro apartamento.

Desviou de sacos plásticos, cadeiras dobráveis e objetos que não conseguira identificar, até chegar em sua porta, de número 868. Enfiou o cartão e digitou o código, empurrando-a em seguida.

Pôde sentir seus olhos lacrimejarem. O lugar parecia brilhar, emitir uma luz sobrenatural de desenhos animados ou filmes. Era encantador. Não pôde evitar um suspiro de admiração, já sentindo-se "em casa".

O rapaz ficou um tempo arrumando seus pertences, tentando não surtar com a bagunça e a falta de coisas em seu apartamento. Já tinha decidido que iria sair naquela noite e nada poderia atrapalhar seus planos, nem mesmo a desordem de seu novo lar.

Tomou um banho rápido, procurou por uma roupa confortável e encheu-se de perfume. Estava apresentável. Apagou todas as luzes e trancou a porta. Caminhou até o elevador, desviando da imundice no chão. Estava tão absorto tentando não sujar-se, que só percebeu quando tropeçou em uma bola de praia, ao estar sentado no piso frio, sentindo as nádegas latejarem. Mordeu os lábios com força para não praguejar alto.

Youngjae tinha certeza de que aquela situação não era permitida e na primeira oportunidade reclamaria com o síndico.

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