Onze - Agradável como uma tarde de Primavera

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Bom dia, Senhor Yoo. — Saudou a secretária, mascando uma goma de mascar discretamente. Naquele dia, ela parecia totalmente radiante e contente, com seus cabelos soltos e uma maquiagem exagerada. O rapaz não estava acostumado com mulheres produzidas ou tão "livres", já que na sua antiga cidade todas eram extremamente fechadas e viviam exclusivamente para a família, tendo empregos pequenos e pouco bem remunerados. Não que ele concordasse com aquilo, era um pensamento muito imbecil e machista, todavia cresceu naquele ambiente e era difícil se acostumar com costumes diferentes.

— Bom dia, Senhorita Saehan. Poderia me informar se a Senhora Hyu... Kang, quero dizer. Ela...  — A moça o olhou curiosa, tentando entender o que ele queria. — A Senhora Kang já chegou?

— Era o que eu ia te falar agora. Ela está o esperando na sala dela.

...

Youngjae abriu a porta com cuidado e devagar, evitando chamar muita atenção desnecessária antes da hora. Ajeitou a postura e respirou fundo, fitando as costas da cadeira de couro. A sala da "chefe" não era muito diferente da sua, sendo um fato extremamente estranho. Aquele devia ser um fetiche da mulher: que os outros a assistissem e ela assistisse os outros. Todos pareciam ser bichos, definitivamente. O moreno ficou levemente transtornado com aquilo.

— Vejo que já chegou, querido.

"O QUE!?" berrou seu cérebro. Ela o estava tratando com muito mais informalidade do que se é recomendado saudável. Era uma falta de respeito enorme e um desleixo incômodo.

— Si-Sim, senhora. — Ao mencionar a última palavra, Hyunjae se levantou e caminhou a passos largos até ele.

— Não precisa ser tão cortês, querido. Já passamos dessa fase. — Piscou um dos olhos perfeitamente pintados enquanto o puxava pelo paletó verde. Com os olhos arregalados e a respiração ofegante, Youngjae tentou se desvencilhar das garras afiadas e vermelhas, antes que se irritasse demais e fizesse alguma besteira. Quando achou que o aperto estava afrouxando, foi trazido para ainda mais perto do rosto da mulher. — Não fuja de mim novamente! Espero que considere o pedido e seja o meu... Acompanhante oficial.

Hyunjae deu-lhe um selinho estalado, deixando o batom vermelho marcado nos lábios rechonchudos. Terminado aquele ato, Youngjae percebeu o quanto se sentia violado e sujo. Não era uma pessoa muito emotiva ou que chorava por motivos bobos mas, naquele momento, o que ele mais queria era deitar no colo da sua mãe e chorar pela noite inteira, como fazia quando era criança.

"Não seja idiota! Existem motivos piores para se chorar nesse mundo" tentava encorajar a si mesmo, enquanto fechava a porta da sua sala e desabava na cadeira. "Anime-se, rapaz. O dia ainda não acabou".

E a cada vez que uma onda de arrependimento ou asco ou raiva lhe inebriava os sentimentos, repetia diversas vezes para si mesmo: "Deus sabe o que faz. Deus sabe o que faz. Deus sabe o que faz...".

...

— Hoje não dá, pai. — Disse pela enésima vez para o senhor desesperado a sua frente.

— Daehyun! Eu disse que ia lhe arranjar um emprego e consegui. Já escolhi e enviei seu curriculum, agora seja homem e vá cumprir com a sua palavra.

— Minha palavra!? MINHA palavra!? Eu não dei minha palavra! O senhor que decidiu fazer tudo sozinho e passou por cima da minha opinião. — Sua voz saiu abafada por estar entrando cada vez mais dentro do guarda-roupas. Ainda não havia terminado de organizar toda a bagunça, então parecia ser uma boa hora pra começar. Mexeu em algumas caixas e foi surpreendido por alguns insetos que voaram até a escuridão novamente, o fazendo entortar a boca de desgosto.

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