ᴛᴇʀᴄᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ

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931 palavras

Tudo nessa casa era incrível, menos a falta que eu sinto da minha mãe, mesmo sabendo que quando a guerra acabasse eu iria voltar, eu sinto que não será a mesma coisa. Quem sabe ela... Nem esteja mais lá.

Depois do jantar, fomos nos arrumar para dormir, eu já estava no quarto junto com as meninas, e os meninos estavam se despedindo para ir para o deles.
— Não se preocupe Lúcia, amanhã o dia será incrível, essa casa é enorme, podemos fazer o que quisermos aqui. — Pedro fala sentado na beira da cama de Lúcia, que já estava deitada, um tanto incomodada.

—Guerras não duram para sempre. — Susana começa. — Voltaremos logo.

Edmundo entra no quarto para apressar o irmão e faz o seguinte comentário. — Se a casa ainda estiver lá.

Que garoto irritante.

Todos olham para ele, que levanta as mãos em rendimento e se volta para a porta. Eu estava observando a cena de longe, o jeito que eles cuidavam um do outro, mas ao mesmo tempo discutiam e brigavam. Queria ter tido essa experiência de ter um irmão, mesmo podendo ser um pouco chato.

Logo, assim que os meninos saíram do quarto eu saio da janela e vou para a minha cama. — Boa noite meninas. — Susana fala.

. ° ★ ° .

Elas já estavam dormindo, mas eu estava acordada. Minha cabeça rodopiava em memórias dos acontecimentos recentes. A guerra, o trem, os irmãos, meu primo, meu avô, a guerra...
Depois de tanto pensar, o sono já se afastara de mim, me deixando mais pensativa ainda. A vontade de tocar algum instrumento bate, mas como eu iria tocar dentro de casa?

Violino.

E se eu levasse ele para fora e tocasse bem baixinho?

Eu estava decidida, ou eu ficaria lendo o resto da noite até o sono vir. Desco as escadas e vou em direção a uma sala onde era para estar o instrumento. Eu realmente não estava bem das ideias.

Na sala tinha apenas a luz da lua entrando pela janela, o que dificultava um pouco a visão. Finalmente acho o instrumento numa capa, um tanto suja e empoeirada.

. ° ★ ° .

A noite estava gelada, eu estava com uma bota e o pijama quentinho, carregando várias partituras e o instrumento na outra mão. Aquilo, aquela sensação era muito boa, o vento batendo no rosto e a grama úmida molhando um pouco as botas.

Finalmente me afasto o suficiente para começar a tocar, me ajoelho em uma parte onde não tinha grama muito alta e coloco a capa do instrumento na minha frente.

Um misto de emoções. Destranco os feichos e levanto a tampa, lá estava, o violino com qual passara a infância tocando. Muitas boas memória carrego comigo e com esse violino.

Coloco o instrumento no meu colo e procuro pelo arco. Com tudo em minhas mãos estava na hora de começar a tocar, mas o que?

Pego uma das partituras que tinha trazido e tento ler, realmente estava bem escuro, mas consigo ler pelo menos o nome.

Fairytale

Me coloco na posição para começar a tocar, posicionando a partitura à minha frente, a favor da luz para conseguir enxergar.
Vocês já conseguem imaginar o que aconteceu depois, o som invadiu o lugar, mesmo tocando baixo, parecia alto para mim.

Fazia tempo que eu não tocava, muito mesmo, mas não parecia, parecia que eu fazia aulas e treinava todo dia. A melodia estava boa, mas minhas mãos doíam.
Aos poucos, quando dominei o ritmo, comecei a cantar, as vezes ficava fora de hora, mas ficou razoavelmente bom.

Eu estava feliz, muito feliz, sozinha sem ninguém me observando, aqui eu sentia que podia ser quem e o que eu quisesse.

I'm in love
With a fairytale

Quando eu era criança eu não entendia muito bem essa letra, mas quem sabe agora eu passe a entender. Fui desacelerando a música aos poucos, até que paro completamente.

— Você é incrível... Quer dizer, sua voz é incrível. — Era Pedro?

Aproveita e me mata de susto

O que ele estava fazendo aqui e a quanto tempo estava aqui?

— Ah...oi! — Eu falo, surpresa.

— Sem sono também? — Ele diz se aproximando.

— Sim, como você me achou? — Eu pergunto.

— Eu acordei com sede e escutei um violino enquanto vinha para fora olhar a noite. — Ele responde. Sua resposta não foi muito convincente.

Eu estava muito longe da casa e estava tocando bem baixo, muito improvável de ele ter escutado e vindo até aqui. Talvez tenha me seguido.

— Bom, já que estou aqui, posso me sentar? — Ele fala apontando para o chão.

Afirmo com a cabeça e ele se senta do meu lado, um pouco a minha frente. Estávamos sentados em "perninhas de índio" como meu avô diria, acho que não tem uma palavra melhor para isso.

— Bom, eu estava indo tocar outra, se quiser escolher. — Eu aponto as várias partituras que estavam empilhadas na minha frente. Ele se estica e alcança o monte, folheando-o

— Que tal... Essa? — Ele diz me entregando uma delas. Era uma partitura qualquer, nenhuma música muito especial, quase não tinha letra.

Eu estudo a partitura. —Tudo bem então,  essa aí. — Eu falo em confirmação.

Me arrumo para começar a tocar, tento não fazer muito contato visual, mas sentia seus olhos vidrados em mim, em meu rosto, minhas mãos. Começo a tocar, um tanto nervosa mas nem tanto, esse garoto de olhos azuis transmitia um certo conforto, que se a gente errasse ele não ligaria ou até mesmo nos confortaria. Ele era um porto seguro.

. ° ★ ° .

Desculpa o capítulo enorme abelhinhas, acabei me empolgando. O próximo será a continuação desse e mais um pouco. Total 900 e poucas palavras.

☆ Esᴛʀᴇʟᴀs ᴇ Cᴏʀᴏᴀs | 𝑃𝑒𝑡𝑒𝑟 𝑃𝑒𝑣𝑒𝑛𝑠𝑖𝑒 ♕︎ | Book OneOnde histórias criam vida. Descubra agora