"Talvez seja por isso que eu gosto quando aquele boludo faz pra doer. O desgraçado me causa dor desde o primeiro dia em que o conheci, agora estou psicologicamente condicionado".
Martín estava sentado num banco no saguão de um aeroporto, aguardando a chegada do ilustríssimo brasileiro. Alisando uma cicatriz visivelmente notável em seu antebraço esquerdo, o argentino refletia sobre a primeira vez em que tivera contato direto com Luciano, quando os dois ainda eram duas crianças que descobriam o futebol enquanto paixão.
Na memória do argentino, o pequeno Martín, que mal tinha completado doze anos de idade, estava sendo encurralado por outros dois meninos, brasileiros, que decidiram por fazer daquele dia dele um verdadeiro inferno na terra.
— Não acha que 'cê é bonito demais pra estar jogando futebol, ô loirinho?
— Parece uma princesa com o cabelo desse tamanho!
Um deles esticou a mão para tocar nos fios de cabelo dourados de Martín, à época mantidos num tamanho consideravelmente grande, que descia dos ombros para as costas do pequeno argentino.
Martín tentou desviar-se da mão do rapazote, sem sucesso.
O brasileiro insolente agarrou uma quantidade significativa do cabelo do loirinho, puxando-o com força pra baixo.
— Eu pensei mesmo que 'cê era uma menina. Olha o tamanho desse moleque, parece um lulu-da-pomerânia. Tem certeza de que não é uma garotinha? – o outro disse, imitando o amigo valentão e esticando uma mão para tocar o peito de Martín.
Dessa vez o argentino conseguiu se desviar, forçando o menino que segurava seu cabelo a soltá-lo, um monte de fios de ouro ficando presos na mão do garoto quando Martín afastou-se bruscamente pra trás.
— Ôôôô, a gatinha não é mansa! Bonita e raivosa! – um deles riu, e o outro acompanhou o colega.
Martín queria chorar. Queria muito chorar. O pequeno sentiu os olhos arderem pelo esforço que ele fazia para não chorar na frente daqueles miseráveis brasileiros.
— Que culpa eu tenho se não sou desprovido de beleza como vocês dois são, seus chuchos maltratados?
— Português, florzinha! 'Cê tá no Brasil, lembra?
Além de querer chorar, Martín queria muito sentir-se arrependido por ter optado participar daquele maldito intercâmbio esportivo em que estava no momento.
Mas ele não conseguia. Algo dentro do peito do pequeno argentino insistia em manter-se iluminado com a expectativa de jogar contra o melhor de todos os jovens jogadores latinoamericanos em ascensão. Um que ele ainda não tivera o prazer de conhecer... Até aquele dia.
— 'Cê acha que vai conseguir ofender a gente falando nessa língua torta sua?
— E que culpa eu tenho se vocês só sabem um idioma? Querem jogar fora do país de vocês, mas não se esforçam pra aprender outra língua... Burros e preguiçosos – Martín desafiou, fazendo um trabalho quase perfeito em esconder o medo que estava sentindo.
Os dois garotos se entreolharam, os olhos de ambos trocando as chamas da raiva pela ofensa vinda de um argentino – o país que, desde sempre, era o maior dos inimigos do Brasil no futebol.
— 'Cê vai aprender a respeitar os mais velhos aqui no nosso país, seu filho da puta!
O garoto mais alto levantou o braço, a mão em punho, pronto para causar um estrago no rosto de Martín, mas assustou-se quando algo prendeu sua mão no ar, impedindo-o de descer o soco diretamente no olho do argentino.
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Private Dreams (BraArg) (PT-BR)
Fanfiction"Eu não acho que será possível para o Brasil conseguir se reerguer de todo o vexame futebolístico que ele tem enfrentado nas últimas décadas. Esse maluco deveria simplesmente desistir do papel de melhor do mundo, porque ele realmente não é mais". Es...