Capítulo 9

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Rebeca

Eu me sentia péssima quando abri os olhos. Era como se eu estivesse dopada.

E quem sabe eu estivesse ainda sob o efeito daquela droga que me apagou no meio do meu parto.

Parto! As recordações: dores, grito, olhares, pedido de desculpa... o choro.

Levantei-me de supetão lembrando-me do meu bebê.

― Calma, Rebeca ― Don Carlo fala depois de ter guardado o telefone celular em seu bolso. ― Você acabou de parir.

O que ele fazia em meu quarto?

― Meu bebê. Onde está meu bebê? ― Olho para o lado onde deveria estar o berço que eu tinha escolhido e arrumado, ao lado da cama, para quando ele nascesse.

E agora, nem bebê, nem berço, nem qualquer coisa que lembre que deveria ter uma criança ali.

― Precisamos conversar, Rebeca. ― Seu tom não era nada agradável.

E quando foi agradável de se ouvir, Rebeca?

― Onde ele está? ― Levanto-me, sentindo que todos os meus órgãos estavam soltos dentro de mim. Claro, faltava algo.

Havia um incômodo na minha vagina, nada que fosse insuportável.

― Ele morreu, Rebeca. ― diz como se fosse algo tolo e simples. ― Sinto muito.

Nego veementemente. Ele tinha que estar mentindo.

― Não ― meu coração se despedaça e eu tento sair do quarto em busca do meu bebê quando me deparo com a porta trancada. ― Eu quero sair, Don... Me deixa sair!

― Não enquanto não conversarmos. ― Eu o odeio.

Odeio por tudo que ele me obriga fazer.

Odeio fingir uma felicidade que não existe.

Odeio fingir um prazer que não tenho.

Odeio o gosto dele, o cheiro dele, a voz dele mas finjo que tudo nele me agrada.

― Eu sinto muito, Rebeca. ― Nego enquanto ele caminha em minha direção. ― Seu bebê estava enlaçado pelo cordão umbilical.

― Não. ― Choro. ― Eu li que isso é comum, mas que uma mãe não precisa se preocupar. ― Eu tinha acesso à internet. Eu era ávida por todo tipo de conhecimento, e aprender tudo sobre parto, gravidez, o mês a mês do feto era algo que estava no topo da minha curiosidade.

Ele franze o cenho diante da minha justificativa e em um toque firme sem brutalidade, segura meus ombros.

― Reconheço e ponho em mim a culpa pela morte de seu bebê. ― Não consigo entender. ― Se o parto tivesse sido em um hospital, o médico teria feito uma cesárea.

Não foi para preservar minha identidade. Achamos melhor que tudo fosse aqui, na mansão.

Don Carlo poderia ter grande influência, mas não controlava tudo em Roma, diferente dos Mancini que tem a Sicília em suas mãos. E durante esse tempo vivendo aqui, eu percebi isso.

Por isso eu estava escondida como uma criminosa, sem sair dos muros da enorme casa.

― Não. Diga que você está mentindo, pregando uma peça ― Imploro, e ele me puxa para os seus braços, abraçando-me enquanto eu bato em seu peito.

Ele está mentindo. Tem que estar mentindo.

― Pelo que eu entendi, o cordão estava enlaçado duas vezes, o que fez o bebê ser enforcado na hora da passagem ― explica.

Completamente, Seu (Livro 2 - Traídos)Onde histórias criam vida. Descubra agora