Prólogo

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Estou na minha casa antiga. Como? Não faço a menor ideia! Vou andando pelos corredores, tomada pela nostalgia; toco o papel de parede sentindo o relevo e a textura meio mofada; paro em frente a uma colagem de fotos e puxo um dos porta-retratos da parede, encarando as pessoas presentes nela: minha família!
 
  Mas não consigo ver os rostos, estão borrados.

  Eu não quero lembrar deles.
  Não quero me lembrar do que aconteceu com eles.
 
  Ouço um estrondo atrás de mim, uma porta sendo arrombada, me viro rapidamente soltando o porta-retrato no chão, o vidro se estilhaça mas o ignoro, estou focada na porta, ou melhor, no que está em pé na frente dela.

Está chovendo lá fora.
 
  Olho para a abertura da porta, a madeira está espalhada pelo chão e toda destruída, encaro o responsável pela destruição: uma criatura metálica, um emaranhado de fios e partes como se vários esqueletos mecânicos tivessem se fundido em um só; tem um rosto, ou a espécie de um, com dois pontos de luz amarelos imitando olhos e um tipo de boca torta e irregular que mostra dentes quadrados e enferrujados.

  O encaro por alguns momentos, já sei o que vai acontecer mas, mesmo assim, sinto um calafrio na espinha.

  Hora de correr!

  Pego um impulso na parede e corro na direção oposta a porta, a criatura me segue, já sabia que seguiria, atravesso a sala de estar e me encontro na cozinha, vejo de canto de olho a criatura se pendurando nas vigas do teto, como uma aranha gigante e engulo seco. Tento abrir a porta para o lado de fora, mas a mesma está trancada, então abro a do porão e me enfio lá dentro.

  Fecho a porta com tudo e viro a chave trancando-a. Escorrego até o chão, recostando na porta, e abraço meus joelhos, solto um suspiro. Sinto alguns baques na porta e tremo com eles, mas não ouso me mexer, um barulho metálico e mecânico soa cada vez mais alto.
  
  Ele parece estar com raiva.

   Encaro as escadas do porão, vendo os degraus desaparecerem na escuridão, foco naquilo na tentativa de deixar a adrenalina passar, do medo passar, do caos terminar de vez!

  Preciso me acalmar.
  Preciso me acalmar.
  Preciso me acalmar.

  As batidas vão ficando mais fracas, mais lentas e baixas, até que simplesmente param.

  Mas eu não vou sair daqui!     Ainda estou com medo!
 
  Escondo a cabeça entre os joelhos e foco no silêncio a minha volta, minha respiração ofegante é a única coisa que consigo ouvir, não tem barulho metálico, não ouço nada sendo quebrado, nem mesmo um grito de frustação da criatura que, mais uma vez, não conseguiu me pegar. Não escuto nada.

  Ainda estou com medo.

    Levanto a cabeça e encaro a escuridão novamente, tentando imaginar alguma coisa saindo dali, talvez um monstro ou um fantasma, como uma criança imaginaria.

  Sinto uma batida na porta, mas essa é diferente, é gentil e delicada. Uma voz doce soa em meus ouvidos:
 
  -Katherine?

  É a voz da minha mãe.

  É a voz da minha mãe

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Tales of a White RabbitOnde histórias criam vida. Descubra agora