Eu te odeio, 'cê me odeia

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Precisou de apenas um tiro para que o sangue escorresse na parede azul-cobalto.

O som abafado, cortado entre as quatro paredes deste luxuoso escritório, perfumado com lavanda francesa e sangue fresco. A janela estremeceu, a luz fraca e mórbida do poste de luz emaranhando-se no grande cortinado, escorrendo pelo rosto do homem engravatado encostado na escrivaninha. Ainda havia aquela expressão apavorada no rosto sem vida, o meticuloso orifício em sua testa gotejava o líquido color amargo.

A sala estava intacta e parecia ainda mais arrumada do que de costume; apenas o corpo de Dick Roman, baleado na testa e com a mão decepada, jazia cuidadosamente ao lado de sua mesa, seu terno cinza vermelho.

Dean Winchester mordeu um sorriso crapuloso, o colt seguro em sua mão enquanto examinava o trabalho com olhos brilhantes e altivos.

- Não está aqui. - Sua voz caiu desdenhosa, ouvindo o lamúrio alto de Sam pelo microfone. - Chegamos tarde.

O Winchester caminhou cauteloso pelo escritório - não havia algum vestígio ali, e isso fez seu sangue esquentar de maneira familiar. Ele olhou novamente para o cadáver do empresário multimilionário, a língua se contorcendo sob os lábios, evitando um sorriso de excitação; golpe certeiro, assassinato furtivo e metódico. A julgar pela mão que foi impiedosamente arrancada, Dick Roman era um cara sem sorte.

O caçador não se deu o luxo de vasculhar pelo quarto, seria em vão, seria tolice. Ele se inclinou perto do corpo, os olhos verdes já muito acostumados com o estrago magnífico que aquele Margolin causava. Um só tiro, uma mira certeira, um puxe no gatilho e ali estava, adeus a um dos maiores magnatas das Américas.

"Recue agora, Dean. Os sentinelas de Roman não vão demorar para perceber." - Sam Winchester advertiu, sua voz nervosa ecoando em seus ouvidos. O Winchester mais velho murmurou para si mesmo, seus olhos verde-esmeralda fixos nos fios soltos do terno caro e fino do homem morto.

A mão enluvada levantou sem receio, vasculhando os bolsos do terno cinza, os lábios erguidos enquanto Samuel latia em sua orelha. Houve um brilho atroz no sorriso predatório que Dean Winchester deu ao puxar aquele papel amassado encardido do paletó do cadáver.

- Russo filho da puta. - Franziu os lábios, engolindo o sorriso facínora. Os passos do lado de fora e os murmuros o fizeram pigarrear, amassar o papel no bolso, mostrar o dedo do meio para o defunto e pular do quinto andar.

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- Eu já sabia que você era um idiota, Dean, mas um suicida? - Sam disse, as sobrancelhas franzindas monstruosamente sob o nariz. Dean gemeu no banco passageiro, um murmuro doloroso de "cale a boca e dirija". - O que deu em você? Se eu digo para meter o pé, você mete o pé!

- Dá um desconto, Samãe, eu acabei de pular de um prédio.

- Droga, Dean. - O mais novo dos Winchesters reprimiu um rolar de olhos, ouvindo o zunido familiar do rádio. - É Bobby, o que vai dizer a ele?

- Ah, não sei... Talvez dizer que tudo foi 'pra casa do caralho? - Ironizou, sorriso sarcástico. Sam permitiu-se revirar os olhos, concentrando na estrada quando a voz do Capi ecoou pelo carro.

"Que droga vocês acham que estão fazendo? Eu não mandei matarem o Roman, idjits!" A voz rouca de Bobby fez os irmãos recuarem ligeiramente.

- Nós não o matamos, Bobby. - Sam murmurou.

"Claro que não, Madre Teresa o matou! Está nos jornais. Diga-me que você pelo menos pegou a maldita maleta."

- Ouça, Bobby. - Dean suspirou - Chegamos tarde, outra pessoa pegou o desgraçado.

Pilantra (Destiel)Onde histórias criam vida. Descubra agora