Wednesday
O suor ensopava meu pijama. Minha franja estava grudada em minha testa enquanto eu ainda tentava me lembrar de como respirar. A pontada incessante em minhas têmporas era completamente irritante.
Meus companheiros de todas as noites, os pesadelos, vieram me fazer mais uma visita em meu sono. Dessa vez, Enid não me puxou como fazia. Sequer acordou. Estava exausta. E eu observei seu rosto sereno durante seu merecido descanso antes de me levantar.
O sol não havia nascido ainda. A madrugada rolava solta, com o ar gélido e úmido como companhia. Segui para o banheiro, a fim de tomar um banho. Meus músculos doíam como se tivessem sido rasgados, e eu não havia percebido meu estado de exaustão do dia anterior. E claro, minha noite de sono restauradora de energias foi interrompida bruscamente pela escuridão interminável e o vazio imponente.
Cada noite ele ficava maior. Como se tentasse me afogar novamente toda vez, demorando mais tempo. A luz desistia de mim mais rápido a cada noite, deixando-me estática perto de meu fim, algo que me faria sentir profunda agonia, porém o vazio não permitia nada além dele.
Quanto mais tempo eu passava lá, pior eu acordava.
Entrei na banheira quente, deixando que o calor entrasse por minha pele e músculos. Por mais que eu gostasse de banhos gelados, estava frio demais, e depois da tempestade de ontem, eu não podia arriscar colocar meu bem estar em risco.
Encostei o pescoço na borda da banheira, inspirando fundo. Emoções demais. Era o resumo mais compacto daquele dia. Se minha versão de 8 anos me encontrasse agora, diria que eu havia sucumbido a futilidade das demonstrações exacerbadas de sentimentos. E talvez eu realmente tenha.
Desde que Enid invadiu minha vida, minhas entranhas, meus pensamentos, cada centímetro de mim, todas as barreiras milimetricamente construídas haviam caído por terra, me deixando livre para amá-la. E também me deixando exposta.
O episódio com minha mãe horas antes, o modo como perdi completamente o controle de mim e a deixei que me visse por fora de minha armadura, mesmo que por poucos segundos. A floresta como testemunha do mais puro desespero e medo que eu já havia sentido na vida.
Eu não sabia lidar com tantos sentimentos atravessando-me a cada hora do dia. Tudo era muito mais fácil quando eles estavam em um caixão lacrado no fundo de minha alma. E aprender a lidar com eles era exaustivo.
Eu estava exausta.
O cansaço coletivo de cada parte do meu ser, seja meu corpo, seja minha mente, me levou para um sono onde até mesmo o vazio não conseguia chegar, onde nada era capaz de me incomodar.
Até que senti uma mão sobre minha cabeça, os dedos repousados em minha franja. A água já estava fria, e eu conseguia sentir o sol entrando pela janela. Eu havia dormido, porém para mim não se passaram nem cinco minutos.
— Está confortável aí em cima, pedaço de desgosto?
Thing gesticulou alguma coisa, porém eu não conseguia o ver em cima de minha cabeça. Então, estiquei a mão até um espelho que estava em cima da pia e o coloquei em minha frente.
Ignorei completamente a minha expressão acabada e foquei apenas no membro da família Addams em meu couro cabeludo. Ele repetiu os gestos que fez novamente.
"Não é uma almofada egípcia, mas dá pro gasto."
Segurei o sorriso que queria se despontar de minha boca.
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All of the Stars - WENCLAIR
Fanfiction[Continuação de "A Sky Full of Stars"] Wednesday Addams agora vive em um mundo novo. Este não tem apenas a presença dos mesmos tons preto e branco, mas agora, tem um toque minimamente colorido e alegre. Contrariando todas as suas decisões estritamen...