Capítulo Piloto: E é Porque Eu Nem Queria Ter Ido

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Eu não vou jurar, porque isso vai contra os meus princípios, mas eu realmente não queria ir aquela viagem, não é que eu seja anti-social ou não goste de me divertir, pelo contrário, gostam de reclamar de mim por eu ser muito extrovertido e algumas vezes hiperativo. Mas da mesma forma eu sou o tipo de aluno que prefere perder esse tipo de coisa, a perder provas, aulas, apresentações de trabalho e etc (chato eu sei), mas somente para não manchar meu histórico ou me prejudicar no futuro . Mas, por algum motivo, que eu não consigo me lembrar, nesse dia minha mãe conseguiu me convencer a perder quase que minha última semana inteira de provas para passar 4 dias num hotel na capital do estado vizinho.

Era 10 de Dezembro de 2020, lembro que estava me sentindo muito ansioso para as férias que começariam dia 16. Eu finalmente acabaria um ciclo terrível que foi aquele ano letivo no meio de uma pandemia global onde minha única interação humana era com a minha família e o pessoal das chamadas da escola. Com isso, eu poderia em poucos dias descansar de tanta loucura que tinha se tornado aquela rotina de acordar de manhã, abrir o computador e ouvir uma senhora falar 5 horas seguidas sobre a reprodução das pteridófitas e leis da eletrostática. Tudo que eu queria naquelas férias era descanso, poder deitar na minha cama e ficar parado olhando pro teto num quarto de luz quase nula. Seria perfeito. Naquelas férias eu não precisava sair pra festas ou grandes eventos. Eu só queria descansar e aproveitar a falta de responsabilidades, que aquilo me traria. Por isso estava dando o sangue nos estudos para passar pelas últimas provas e finalmente sem mais delongas alcançar meu tão sonhado descanso.

Mas nem sempre as coisas acontecem como nós planejamos. Planos foram feitos para serem contrariados, e em alguns casos, essas mudanças de planos podem nos beneficiar e nos trazer experiências que nunca umaginaríamos experimentar. Acho que era uma tarde de sexta-feira quando minha mãe chegou do trabalho, tirou a máscara de proteção contra a COVID, tomou banho e me deu um abraço, enquanto jantavamos ela conversou comigo

-E a escola Leo? Como está?

Obviamente perguntando se ela podia esperar boas notas dessas provas que viriam
Sabendo disso respondi:

-Ta tranquilo, tô dando o osso nos estudos pra ficar de férias logo.

Ela escutou, pensou, refletiu e disse:

-Estamos com planos de fazer uma viagem

Ela disse enquanto olhava pro meu padrasto que só devorava quieto seu prato de macarrão.

Na mesma hora um pavor devorou meu coração, não queria viajar, passar meu doce tempo de descanso cuidando do meu irmão mais novo dentro de um carro apertado de malas e uma cadeira de criança que ocupava o espaço de dois adultos durante horas a fio para finalmente chegar a um destino, passar alguns dias de diversão e encarar outra sessão de apertos e choro de criança

-Pra quando seria essa viagem?

Perguntei pra saber quanto de minhas férias eu iria sacrificar nessa ideia brilhante.

-Antes das férias, durante sua semana de provas, já falei com sua coordenadora pra vc fazer as provas na semana seguinte

Gelei! Simplesmente não sabia oq dizer, adiar minhas férias? Ir pra escola sozinho fazer prova? Por causa de uma viagem? Enquanto eu me chamar Leonardo Nunes eu não me meto numa dessas!

- Não sei se quero perder essas provas

Minha mãe, olhando para o meu padrasto respondeu:

-Vai ser uma viagem diferente, seu padrasto organizou ela de uma promoção que conseguiu de uma agência de hotéis

Meu padrasto acompanhou:

- Vamos ficar em um hotel cheio de piscinas, restaurantes, com acesso à praia, quadras esportivas, sala de jogos, o quarto parece um palácio...

Ele descreveu todo o hotel como se fosse o céu na Terra, e finalizou dizendo "Nahm! Loucura sua perder uma oportunidade dessas por uma prova! Vá por mim,pense direitinho e me diga depois!" Disse ele como seu jeito orgulhoso e feliz por ter organizado essa viagem pra família

No outro dia conversei com meus amigos e falei da viagem, eles me orientaram a ir e isso pesou bastante também, pensei muito sobre o caso e quando deu o dia de arrumar as malas, não estava bem certo do que queria, mas organizei as malas com minhas roupas preferidas e tudo mais como se estivesse organzado para qualquer situação que me pudesse acontecer.

Fiz a primeira prova da semana meio com a cabeça no vento, uma prova fácil, mas ainda assim fui o último da sala a terminar, pois passei metade do tempo de prova pensando sobre a viagem.

No outro dia acordei, passei a manhã em casa pois não faria sentido ir fazer a prova e ter que sair mais cedo para pegar viagem, então deixei mais uma prova acumulada para a semana seguinte. Meio dia em ponto peguei minha roupa que estava estendida sobre a cadeira, tomei um banho longo, coloquei minha máscara e me arrumei para a viagem ao som de Feeling Good De Michael Bublé, porque mesmo quando você for fazer algo que não goste (no caso pegar horas de carro com uma criança berrando e adultos tentando controla-la) faça com a elegância de dançar uma valsa.

Lembro de ter baixado músicas na minha playlist para escutar no volume máximo do fone de ouvido enquanto encarava a viagem.
Tenho quase certeza que dormi em boa parte da viagem com os fones no ouvido, minha mãe registrou belas imagens minhas babando com a cabeça escorada no vidro da janela do carro (será que eu estava cansado? Haha).

Paramos pra lanchar em uma cidadezinha pequena no meio do caminho e como sempre, não podíamos nem chegar perto do balcão para não ter problemas com distanciamento social de segurança contra o COVID e etc, era frustrante pensar que não poderia sair do hotel para aproveitar a cidade por questões de saúde no meio de uma doença que matava milhares por dia no meu país.

Horas de viagem se passaram, foi cansativo mas não tanto quanto eu imaginava, conversei bastante com a minha mãe sobre muita coisa que acho que não poderia falar fora do ambiente da viagem.

Finalmente chegando na cidade entramos no meio das ruas enormes com prédios gigantes cheias de estruturas como pontes, luzes, shoppings e é claro
O MAR
Não era a primeira vez q eu via o mar, mas pra mim ele nunca deixa de ser bonito, é como se me lembrasse que eu vivia numa bolha minúscula e que existe todo um mundo diferente do mar pra lá.

Mas voltando ao foco da história...

Em pouco tempo chegamos a estrada do resort, e dalí eu percebi que era diferente de tudo que eu já tinha visitado

Seja pelos carros importados estacionados na garagem, ou pela fonte de cinco andares
na entrada ou pelo funcionário de terno num sol nordestino.

Meus pais desceram para fazer o check in e eu fui levado pra uma sala pra fazer um "teste".

Aquilo era novidade pra mim, eu não acompanhava tanto as notícias, quando dei fé, uma funcionária toda paramentada com artifícios médicos e um cotonete bem maior que o convencional, em pouco tempo aquilo estava no fundo do meu nariz e enquanto eu reclamava a moça caia em risos '-'
(Moça eu sou uma piada pra você?)

Mas enfim ela tirou eu respirei aliviado, minha família veio e fez o mesmo
Naquela noite dormimos na casa de uma tia minha que estava viajando e na manhã seguinte recebemos o resultado do que aparentemente era um teste da COVID e que dizia que não estávamos doentes .

Quando voltamos pro resort pegamos as malas, colocamos as máscara e fomos pro quarto. No caminho um funcionário nos parou e disse

-Com licença senhores, vocês sabem que podem tirar as máscaras e não precisam se preocupar com distanciamento, essa é uma área livre se vírus

Nesse momento minha alma pulou de alegria, toda aquela viagem havia valido a pena e toda essa alegria e ânimo misturada com ansiedade e desejo de explodir...se expressou perfeitamente em uma curta frase dita muito, muito alto no meio do bar do hotel...

-É OQUE MEU CONSAGRADO?!

Alguns momentos depois minha mãe foi organizar as malas e mandou eu ir dar uma "explorada" naquela lugar com 2 quadras 18 piscinas, um spa, academia, bares, restaurantes e etc e tal...

E É AÍ QUE A HISTÓRIA DE VERDADE COMEÇA















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⏰ Última atualização: Nov 01, 2023 ⏰

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