Introdução

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Olhei para Amy sentada no meio de nós dentro do táxi, prestes a desistir do problema que ela mesma havia arranjado com a ajuda de Lana. Permaneci calada enquanto ouvia seus resmungos, indícios de uma mulher nervosa por estar a caminho de seu primeiro encontro às escuras.

– É melhor eu cancelar – ela finalmente falou comigo e Lana. – É, é melhor que eu faça isso.

Já era a quinta vez desde quando saímos do apartamento em que dividíamos, que ouvíamos dela a possibilidade do evento ser cancelado. Olhei para suas mãos contorcendo os dedos, imaginando quão doloridos eles ficarão no dia seguinte, se nada der certo e ela voltar para casa, ao invés de seguir para um quarto de hotel.

Como as outras quatro vezes, eu e Lana trocamos um olhar e voltamos a dar atenção ao cenário de Nova Iorque, cada uma de seu lado da janela do carro que não havia pressa para passar o trânsito de sexta-feira. Mesmo sendo quase oito horas, os nova iorquinos têm o costume de andar mais de carro do que transporte público nos finais de semana, para evitar chegar com o cheiro de algum fumante ou alimento que abriram dentro do metrô. Por sorte, o restaurante escolhido por Jordan era afastado do centro – turístico – e o trânsito que nos parava era devido aos semáforos que abriam e fechavam tão rápidos quanto as tempestades que chegavam no verão.

Jordan é um amigo do amigo de Lana. No início, eu e Amy ficamos com um pé atrás sobre ele, já que Lana não costuma deixar nenhum homem passar batido, principalmente depois que colocou seus silicones, quando tinha 17 anos. 10 anos depois, nada mudou, inclusive sua regra número um que dita arranjar sexo casual todo final de semana. Lana disse que Jordan não era de se jogar fora, mas assim que ficou conversando por 10 minutos – que pareciam 10 anos –, soube que nem um sexo extraordinário a faria sentir qualquer atração por ele; assim, soubemos que ele era a pessoa perfeita para Amy, uma pessoa exatamente o oposto a Lana quando se trata de amor – ou a falta dele.

Amy, Lana e eu somos amigas de infância. Dessas que não se lembram como a amizade começou ou qual foi a primeira impressão da outra porque éramos pequenas demais para conseguir guardar esse tipo de dado na memória. Quando vejo nossa situação com os olhos de quem está de fora, sei que somos três personalidades diferentes que, caso nos conhecêssemos atualmente, jamais pensaríamos em manter contato.

Nós viemos de Maine, o menor estado do país. Dificilmente divulgamos essa informação, porque ela não é muito bem-vinda na elite de Nova Iorque, provavelmente uma das mais importantes dos Estados Unidos. Por sorte, nós três somos garotas que vieram de berço de ouro, e quando digo ouro, quero dizer que independente de termos Maine ou Nova Iorque em nosso registro de nascimento, qualquer um interpretaria que somos "herdeiras", não "novas ricas".

– Ele não me ligou até agora, acho que desistiu – Amy olhou seu celular pela centésima vez, sem exagero.

– Amy, você está começando a me deixar nervosa, amiga. Guarde este celular antes que eu o faça por você – Lana olhou para as mãos dela onde o celular estava bem preso.

– Amy, nenhum cara irá ligar minutos antes do encontro, e se isso acontecer, dê-lhe o bolo, porque seria desespero demais – fiz carinho em seu braço da maneira que pude. Amy, por estar nervosa, logo esqueceu do tom de voz grosseiro de Lana, virando seu rosto para mim e concordando que era um bom sinal que o tal de Jordan não tivesse ligado até agora.

Amy é a típica garota de Maine, com os cabelos louros, a pele clara e os olhos verdes tão grandes que jamais conseguiria disfarçar seu jeito ingênuo e tímido; contudo, é inteligente, perspicaz e sabe lidar com os problemas das pessoas. Por isso possui sua própria empresa de personal stylish. Às vezes – toda vez que a vejo trabalhar – sinto inveja de seu serviço. Ela ganha comprando roupas para outras pessoas. Como fazemos com nossas Barbies quando somos pequenas ou nossos cachorros durante a adolescência. A ideia surgiu de mim há oito anos, quando indiquei Amy a uma amiga da faculdade que reclamava sobre seu closet estar tão vazio que Paris Hilton riria de sua cara. Honestamente, não sei como alguém tem a coragem de dizer que o closet estava vazio, quando possuía um andar inteiro para ele no apartamento em que morava. Eu, Amy e Lana aprendemos naquela época que jamais devemos questionar as mulheres nova-iorquinas e que qualquer uma que tenha um closet enorme e reclamasse dele estar vazio era considerada uma "herdeira".

Às Escuras [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora