Estava ali: intocada, silenciosa e incomunicável
Ela estava ali, atrás do arbusto, com algumas ramas escondendo-a entre folhas e gravinas. Se não tivesse adiado a tarefa de aparar o mato cerrado, que domina os fundos do quintal, ela poderia ter sido vista por mais gente.
Mas estava ali, intocada, silenciosa e incomunicável. Não emitia som, nem faiscava as centenas de luzes que imaginamos deveria ter. Nem o presumível ninho de fios ou dúzias de alavancas que lhe emprestariam complexidade.
Era simples. Simplória. Confesso que a surpresa de encontrá-la inerte sobre a grama foi menor que a decepção de descobri-la sem o deslumbramento que uma máquina do tempo teria. Senti-me traído. Afinal não é sempre que nossa casa é escolhida para abrigar um portento tecnológico como esse.
Minha maior questão passou a ser não algo como "de onde veio?" ou "de que lugar no tempo?" ou mesmo "quem a inventou?" mas na verdade "que farei com ela?" A resposta me pareceu obvia. Uma máquina do tempo serve para viagens, obviamente, no tempo. Uma onda de calor e arrepios percorreu-me o corpo e alma. Como usá-la?
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Minha máquina do tempo
Short StoryQuem jamais não desejou com toda intensidade da alma verter ao passado ou singrar velozmente ao futuro?