Capítulo Único

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Esperando o elevador chegar no meu andar, percebi o quanto eu havia mudado. Como Fred Bruno tinha mudado. Naquela manhã eu usava roupas sociais da cabeça aos pés, meus cabelos estavam cortados nas laterais e, por cima da minha cabeça, os cachos loiros lutavam para roubar a cena. Pareciam mais macios e brilhantes, mas que se apagavam quando olhavam para os meus olhos, pois em volta deles havia olheiras com tons quase roxos.

Eu não podia negar que todo o meu cansaço tinha um nome e sobrenome. Larissa Santos. Desde a chegada dela na empresa, me vi vivenciando sentimentos longos e intensos, coisa que eu nunca tinha sentido antes.

Larissa trabalhava no grupo de suporte de vídeos e morava no Centro da cidade, onde dividia o apartamento com Bruna, uma das suas melhores amigas. Para o meu desespero, Lari não era boa só em seu trabalho, ela era portadora de uma personalidade forte e marcante. E eu, que não estava procurando relacionamento depois que Baby Cris nasceu, me vi absorvido e fascinado por ela.

— Bom dia, Fredin — Bruna disse assim que sai do elevador. Esticou uma prancheta de dados na minha direção. — Estamos com problemas no setor do Cezar Black. Cara, ele está chorando porque os números não batem com os cálculos de ontem. Você precisa fazer algo.

— Carai, vou lá agora — murmurei, pegando o objeto que estava esticado na minha direção.

— Certo. — Bruna me olhou. Seus olhos azuis me avaliaram e ela levantou uma das sobrancelhas. Ficamos alguns segundos nos encarando. 

— O que foi? — perguntei.

— Ela não chegou ainda, só para você saber.

Desviei o rosto dos olhos da cor do mar.

— Quem? Não sei de quem você está falando.

— Estou falando da Lari. Ela não chegou, mas ela amou o cachorrinho. Credo, você é brega. — Ela fez uma careta.

— Contou que foi eu que deixei ele na portaria do prédio?

— Claro que não. Ela está achando que o filhote está perdido e tem dono. Vai sair por aí para devolvê-lo.

Depois que ouvi a conversa delas na copa da empresa, arrumei um jeito de adotar um cachorro caramelo e deixei com o porteiro para agradá-la. Tudo tinha saído como havia planejado.

— Ela não vai achar o dono, porque o filhote é dela. — Balancei os ombros. — Ela aceitou mudar de apartamento?

— Não, ela não aceitou — Bruna suspirou enquanto caminhamos pelo corredor. — Nem deixou margem para discussão.

— Então posso comprar um apartamento e colocar no seu nome. — Esse sempre foi meu plano inicial. — Fala que é seu!

— Está maluco? Eu não tenho esse dinheiro todo para comprar algo assim, ela vai ficar desconfiada. Aliás, não sei porque não chega nela de uma vez e converse. Ficar tentando agradá-la não vai ajudar em nada no relacionamento, já que vocês nem conversa direito.

Fiz bico. Bruna sempre jogava verdades na minha cara, sem medo e sem remosos.

— Não estou preparado para isso ainda.

— Mas é bom estar, porque ela acabou de chegar. Está descendo do elevador — Bruna disse, segurando o riso ao olhar por cima dos ombros.

Acompanhei seu olhar e vi Larissa caminhar na nossa direção. Ela usava calça preta e blusa branca social, essa que cobria seus braços.

— Sabe de uma coisa? Tenho muita coisa para resolver — Bruna disse. — Fui!

Filha da mãe. Olhei as costas dela se distanciando e virei para Larissa novamente.

— Bom dia. O que deu nela? — Lari disse, referindo-se à saída repentina de Bruna.

— Sinceramente, eu não sei, viu! — Soltei o ar lentamente pela boca entreaberta. — Como você está hoje?

Sem fazer pausa, sequências de frases saíram da boca de Larissa, mas eu não conseguia ouvir, pois a minha atenção estava nos lábios carnudos dela.

Pisquei várias vezes depois de longos segundos, me dando conta que minha atitude poderia deixá-la desconfortável. Abaixei a cabeça e olhei para os meus pés, porém, quando subi o olhar, nossos olhos se encontraram e tive a sensação de que ela sentiu todos os meus sentimentos que eu vinha evitando em relação a ela.

— E-eu preciso ir — gaguejei. — Preciso dar um jeito no Cezar. — Levantei a prancheta, cortando o clima de tensão entre a gente. — Mas posso ir na sua sala depois?

— Claro! — Lari abriu um sorriso. — Só que hoje vou sair mais cedo. Tenho um novo filho para cuidar. — Ela parecia envergonhada.

— Tudo bem — tranquilizei ela. — Passo lá em quinze minutos.

— Tá bom! — Ela meneou a cabeça e caminhou na direção do RH.

Sozinho, relaxei o corpo e comemorei em silêncio. Aquele era o nosso primeiro contato direto e tinha sido interessante. Porra, nossos olhos ficaram se encarando mais de dois segundos!

Sorrindo, girei sob os calcanhares e percorri pelo corredor vazio quase pulando de alegria. Certeza que essa era a minha oportunidade para me aproximar e construir uma relação de amizade, porque meu plano inicial é esse. Depois eu vou ver o que vai acontecer, agora eu só preciso ser amigo dela.





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Obrigada por terem lido até aqui e até a próxima. Beijos.

Entre o amor e a satisfação (Laried)Onde histórias criam vida. Descubra agora