Mais um dia na escola, a algazarra do começo de aula fazia um estrondo na minha cabeça. Só gritando e correndo tinha uns cinco. Em um dia normal seriam seis, mas eu não estava com ânimo para participar.
Fiquei com a cabeça baixa na carteira, tinha passado a noite jogando Ben 10 no PS2 do meu primo e não consegui faltar aula.
O desgraçado uma hora dessas deve estar no décimo sono e eu aqui dormindo acordado, você me paga Sísifo!
Meu irmão pegou um resfriado faz uns dias… caraca, sou muito azarado… nem doente eu fico para faltar.Tudo se acalmou e logo percebi o que havia acontecido, a professora tinha chegado. Eu não gostava daquela velha mas em momentos como esse agradecia seu maravilhoso trabalho.
Por uns segundos pude sossegar, até ouvir ela falando:— Bom dia 5°– B, esse é seu mais novo colega de classe. Asmita, esse é o quinto ano. Escolha um lugar e se sente, minha aula vai começar.
Velha desgraçada… devia ter demorado mais com essa apresentação.
Ter um colega novo era legal, mas naquele momento não me interessava, eu só queria dormir.
Não levantei a cabeça para olhar pois era mais um moleque, só uma menina me faria mudar de ideia.Estranhamente a sala estava silenciosa, só ouvia cochichos e a professora falando alguma coisa. Até que alguém resolveu tirar um pouco da minha paz.
— Olha o menino que chegou… — ouvi Kardia sussurrar no meu ouvido, foi tão baixo, ele não queria que o resto da sala nos ouvisse como normalmente fazia.
— Depois. — respondi sem me mexer, não estava querendo fazer nada e muito menos olhar para ninguém. Queria ficar no meu canto e só isso.
Agradeceria o novato por ter deixado a sala um verdadeiro paraíso, os sussurros pareciam música em meus ouvidos… até aquela megera resolver puxar meu pé.
— Levante a cabeça, Defteros. — a professora ordenou.
— Eu tô quieto, me deixa!
— Você está em aula, aqui não é lugar para dormir.
— Então me deixe dormir em casa… — virei o rosto para a janela e abri meus olhos pela primeira vez na aula.
Tinha alguém sentada na carteira do meu irmão, me encarando e tentado disfarçar o sorriso. Rapidamente levantei a cabeça — Quem é ela? — e a sala toda riu.Vi que ela rapidamente escondeu o rosto e não sorria mais para mim.
— Ele não é uma menina, Defteros. Ele é seu colega e merece respeito, peça desculpas por essa brincadeira.
— E a Senhora nunca se enganou na vida, né?... — olhei de soslaio para ela, velha feia!
Peguei minha mochila e levantei, iria sentar ao lado do novato, ali não tinha ninguém para me perturbar.— Você não pode sentar aí, volte já para o seu lugar! — ela voltou a falar comigo.
— Só não posso sentar aqui quando o meu irmão está e não o vejo aqui hoje ou ele está escondido? Aspros? Aspros? Você está aqui, Aspros? — comecei a gritar alto, até fora da sala podiam ouvir meu escândalo. A sala toda ria e a professora perdia a paciência aos poucos, faltava alguns minutos para o recreio… bem que eu deveria perturbar mais já que passei o começo da aula em silêncio — Olha professora, hoje eu prometo passar o dia quieto se você me deixar ficar aqui. — a olhei com determinação, eu cumpriria minha palavra.
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— Certo, certo, fique. — a professora suspirou derrotada, Defteros era um vulcão dentro da sala e tentar deixá-lo adormecido seria uma opção melhor — Só espero que não apronte nada com Asmita. — ela sentou e começou a guardar alguns papéis, os alunos perceberam que ela deixaria a aula para depois do intervalo. Logo começou algumas conversinhas baixas, os risos das garotas e algumas bolinhas voando.
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Fiquei olhando o novato por um bom tempo, nunca tinha visto um loiro de olhos com aquela clareza, eram tão azuis que pareciam água de piscina.
Mas nem era isso que chamava minha atenção e sim seus óculos, eram tão estranhos, deixava os olhos dele enormes e eu não conseguia parar de ver aquilo.— Ei! — fiz ele olhar para mim por alguns segundos, sabia que ele estava com vergonha mas foi apenas um engano meu — Desculpe pelo que eu falei, não tô legal hoje. — ele me olhou de volta, mas não durou muito — … não me ignore, me diga alguma coisa! — bati o pé no chão bem insatisfeito com a forma que ele me tratava então resolvi colocar minha carteira bem ao lado da dele.
— A. — foi o que ele disse.
— Vai falar só isso?! — perguntei indignado.
— Você me pediu pra dizer algo e eu disse. — essa foi uma patada que eu não esperava e ele sequer olhou para mim, ficava observando a janela e os carros passando ao longe na rua.
— Você tem quantos anos?
— Nove.
— Nossa, você é muito novo! Eu tenho onze anos, sou mais velho, então você deve me respeitar! — e novamente ele parecia não se importar comigo, não sabia que doía tanto ser rejeitado daquele jeito. Fiquei um bom tempo pensando em como conversar com Asmita, até que o sinal tocou.
Todos saíram correndo da sala, eu devia fazer o mesmo, mas fiquei observando ele sentado e mexendo um pouco na mochila, logo depois tirou um lanche de lá.
Minha barriga roncou alto.
Ele novamente se segurou para não rir e começou a me encarar sem jeito.— Você quer um pouco? — Asmita me ofereceu alguns biscoitos e eu aceitei, também tinha um lanche na mochila e dividiria com ele.
— Obrigado, mas e aí… vai aceitar meu pedido de desculpas? — perguntei enquanto tirava os meus lanches e colocava em cima da carteira. Vi que Asmita ficou surpreso com a quantidade de comida que eu trouxe, se ele soubesse que eu já havia trazido mais.
— Pode pegar o que quiser, eu não me importo. — falei assim que terminei de tirar tudo.— Meu Deus… — seus olhos estavam enormes, não sei o que ele viu para ficar daquele jeito — Você não trouxe caderno? — ele me perguntou sem parar de olhar para as minhas comidinhas.
— Isso é só um detalhe. Pegue alguma coisa, quer um pedaço de pizza? — ofereci. Ele balançou a cabeça e fez careta, achei aquilo estranho — Você não gosta de pizza?
— Não, tem um gosto estranho. Eu aceito um pedaço de bolo. — assim que ele pegou no bolo alguns dos meus amigos entraram na sala.
— Já!? — ouvi Kardia falar ao se aproximar de mim.
— Você não esperou a gente hoje. — Hasgard sentou em uma carteira a minha frente e me olhava com desgosto — Se bem que não tem tanta coisa assim… — ele olhou para a comida e depois para quem estava ao meu lado, Asmita.
Quando vi aquela cena entrei em confronto interno, o bolo havia sumido e ele estava com os dedos melados de calda de chocolate. Olhar para ele daquele jeito me dava agonia, ainda mais quando ele começou a lamber os dedos olhando para nós com uma cara desconfiada.
E nós ficamos nesse clima estranho até Dohko perguntar sobre os óculos.
— Ah! Eu uso porque tenho miopia. Sem eles não enxergo muito bem… — ele respondeu acanhado baixando a cabeça e olhando o chão, de repente Kardia com toda a liberdade tirou os óculos dele sem sequer pedir.
— Meu Deus! Como você é cego! — dei uma gargalhada quando Kardia gritou assim que olhou para a lente.
Dohko pegou das mãos dele e também deu uma olhada — Socorro! Meus olhos!
E assim aqueles óculos estranhos passaram por todos nós, Asmita riu sem jeito depois que o devolvemos, eu gostei daquilo e bem, acabei virando seu amigo.
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Agora as palavras da autora:
"scrr mds😭 eu não tô conseguindo escrever mais nada interessante ultimamente😭
Para a minha felicidade ou não, achei essa fic perdida entre tantas no meu drive (eu escrevia umas coisas legais rsrs)
Deixei ela exatamente na metade(desde o ano passado), mas hj só dei uma olhada até o cap 4, então é só até ele q eu vou postar