Quo vadis?

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É difícil desfrutar do tempo quando se tem seu total controle

Inexplicavelmente a máquina tinha apenas um assento e um botão. Como emprestar credibilidade a uma máquina de tempo com um só botão? Um tão sonhado engenho merecia uns badulaques, umas tramelas e penduricalhos a mais para suscitar nossa curiosidade e espantar nosso ceticismo. Mas um mísero botão dava acesso a uma única opção: passado ou futuro. Deveria ser premido uma única e incômoda vez, levando-nos ou ao passado ou ao futuro. Apenas uma viagem.

"Que amarga escolha", resmunguei. Ambos suspende-nos o fôlego e liberta-nos a imaginação. Quem jamais não desejou com toda intensidade da alma verter ao passado ou singrar velozmente ao futuro? Minhas mãos suavam e tremiam como os gravetos que riscavam a superfície do assento da máquina. "-Uma só opção? Qual seria? Pra que momento da linha do tempo eu seria levado?" Sentei-me sobre o veludo carmim do assento com a respiração sôfrega e interceptada.

O ribombar do coração parecia-me o ruído do pêndulo de um imenso relógio de carrilhão. Meus pulsos tiquetaqueavam. Os tímpanos tiniam. Meu quintal, com sua cerca verde por pintar, os ressecados gravetos e alguns pássaros seriam as únicas testemunhas de minha insólita viagem. "Uma só opção? Qual seria? Passado ou futuro?" É difícil desfrutar do tempo quando se tem seu total controle. É mais fácil apreciá-lo quando ele tem controle sobre nós.

Minha máquina do tempoOnde histórias criam vida. Descubra agora