De novo no escuro, ouço aquela coisa finalmente romper a parede. Aquele verme escondido em pele humana cai no chão, berrando enquanto é desmembrado por dentes e garras. Não vejo nada, mas posso ouvir a criatura parar por um momento, se virar para mim, respirando ofegante em meu rosto arrepiado.
-É, bem melhor - digo -, morrer aqui, e agora, do que... ficar sozinha, de novo.
O monstro para de respirar, caindo em cima de mim. Seu peso quase partindo minha cintura. Aquela dor... é, perdi alguns ossos. Para sempre.Começo a retirar o braço da maca quebrada ao meio, e, lentamente, deixo minha mão caminhar pela cabeça draconiana, e logo entendo, quando sinto um mar de espinhos cravados em minha pele. Ele era eu, ou, pelo menos, parte de mim. Eu nunca estive aqui antes, mas, na verdade... sempre, sempre estive, só não via.
Uma mão magra toca em mim, e passo a sentir meu ser, minha alma ser puxada, tocada. Presa onde nada e tudo acontece, ao mesmo tempo. Onde eu estava.
Mas, algo me esperava, e quando minha guarda já estava baixa, um retrato se pôs em minha frente. Uma velha caveira de terno, que ajeitava sua gravata pela última vez. Sinto as lágrimas rolarem e o pescoço se contrair em sufoco. O retrato se converte em um espelho, que me convidava à voltar, ou à ficar. Fecho os olhos, entrando no portal do espelho, indo para meu verdadeiro lugar.
E as luzes se apagaram.
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Sonhos Das Sombras
HorrorO que você faria se aparecesse em infinitos corredores, sem se lembrar de quem é, ou como chegou até lá? Todos te abandonaram, deixaram pra trás. Sua sina, já foi concretizada. Porque isso, não é um sonho.